O sentimento é de indecisão. Setembro, momento de reentrar em tudo e mais alguma coisa, está a ser uma espécie de segundo take do mês de agosto — nada de novo, quem é que nunca apanhou ótimos dias de praia em outubro? As tendências de outono-inverno estão lá, à base de ricas fazendas, acabamentos felpudos, ceras impermeabilizantes e botas que prometem aconchego aos pés por enquanto descalços, mas o termómetro teima em pô-las em espera. Os primeiros avanços da temporada nunca soaram tão desajustados, ainda que, nas entrelinhas das coleções, quase todas as marcas aproveitem para prolongar a vida às mangas curtas, as sandálias aos tecidos mais frescos.
Por esta altura, investir em novas peças, antevendo uma descida das temperaturas que pode tardar, pode ser um impulso. Também nesta matéria, como em quase tudo, existem dois tipos de pessoas — as que entram no último quadrimestre do ano decididas a levar o verão avante, custe o que custar, e as que cedem ao calendário, precipitanto-se para os braços de casacos, camisolas e abotinados e sabendo que ainda os espera um período de pousio considerável.
Uma coisa é certa: é tempo de falar de tendências, embora as que estão prometidas não sejam minimamente revolucionárias. Sacuda o pó aos clássicos, perceba quais as peças estivais que apontam o caminho para a estação seguinte e vislumbre as tendências que começam agora a ganhar forma. Para facilitar a tarefa, selecionámos 14 peças que calibram qualquer guarda-roupa para a chamada meia estação, algumas delas capazes de acompanhar o mais rigoroso dos invernos. Tome nota.
Biqueiras quadradas
O nível de consenso é inversamente proporcional à exatidão destes ângulos. As botas e botins de biqueira quadrada sucedem às sandálias que povoaram o verão e são a derradeira extravagância da estação fria que se avizinha. Convivem amistosamente com vestidos, calças e com as mil e uma tipologias de saia que povoam os livros de tendências, onde o calçado continua a proporcionar bons motivos para se dar nas vistas. Outras compras: saltos compensados
Vestidos pretos
Das passerelles para a vida real, um vestido preto é o que a moda tem de mais parecido com uma tela em branco. Seguro, versátil, ostensivo, discreto, provocador e clerical — este clássico é o que quisermos que ele seja. Há quem o torne complexo, através de folhos, transparências e sobreposições, há quem faça dele um expoente máximo do minimalismo vigente. Deixe-o à mercê de acessórios e complementos e teste-lhe os limites. Se conseguir fazer com que funcione numa festa e na fila do pão, tanto melhor. Outras compras: rendas
Malhas confortáveis
Sofisticação é a última coisa que se pede das malhas por estes dias. É no toque fofo, no corte descolado do corpo e nas velhas habilidades do tricot que o mundo da moda está de olhos postos. Afinal, quem é que nunca teve uma daquelas camisolas dentro das quais apetece viver? É precisamente aí que queremos chegar. Ou talvez um pouco mais além, a julgar pelas propostas de Sonia Rykel que apresentou malhas em looks totais. Ninguém precisa de ir tão longe, embora quando se sobe mais um degrau na escada do conforto seja difícil voltar atrás. Outras compras: cardigans com cintos
Fatos-de-macaco
As estações passam e as silhuetas inspiradas no vestuário utilitário não desmobilizam. Os fatos-de-macaco são uma peça central. Ao mesmo tempo que experimentam vários graus de estilização, também pisam as passerelles com o aspeto rude característico de uma farda de trabalho. Stella McCartney desenhou belíssimos exemplares, Miuccia Prada militarizou o guarda-roupa feminino para a próxima estação. Outras compras: botas de combate
Minissaias
A silhueta propagada por Anthony Vaccarello na Saint Laurent parece estar a fazer mossa. Os pequenos formatos (a.k.a. minissaias) invadiram as semanas da moda, no início do ano. Estas peças podem surgir em parelha com a parte de cima, adornadas com botões, bolsos pespontados ou fechos, de cintura subida (e bem marcada) e até mesmo conjugadas com blazers de corte reto, ligeiramente mais longos. A pele e o vinil são os materiais prediletos. E como se o leque de opções não fosse já suficientemente vasto, as minissaias ainda deixam a porta aberta a alguma diversão no momento de escolher as meias. Outras compras: collants com padrões
Capas
A visão, em parte idílica, de alguém a caminhar na rua com uma capa sobre os ombros tornou-se, de repente, bastante mais provável. As opções multiplicam-se — de Chloé a Oscar de la Renta, passando por Burberry, Céline e Gucci. Existem peças quase cerimoniais, outras são versões sem mangas de trench coats clássicos. Outras compras: trench coats
Malas retro
A imagem de uma pequena mala de mão, rígida e com um fecho dourado, não anda muito longe da que usava aquela tia-avó. Algumas das grandes marcas internacionais parecem ter ido vasculhar o mesmo baú. Dos anos 50 do século passado para o outono de 2019, é um clássico mais revisitado do que reinventado. Salvatore Ferragamo, Prada, Chloé, Dolce & Gabbana e Givenchy (ou o cartel da mala da avó) sugeriram, agora o velho formato já chegou às lojas mais acessíveis. Outras compras: malas baguette
Mangas volumosas
Da rigidez que realça aos ombros à fluidez que faz com que o tecido penda sobre os pulsos, volumes e mangas são, por estes dias, amigos inseparáveis. Obviamente, nenhum dos contratempos do dia-a-dia, como o simples falto de um blazer poder engelhar uma camisa acabada e engomar, foi acautelado. A conclusão que se tira é só uma: mais vale aproveitar enquanto o tempo permite andar em magas de camisa. Outras compras: peças sem um ombro
Calças cargo
O melhor é agarrá-las antes que se vão embora outra vez. Ultrapassado o período de nojo, as calças cargo voltaram a ser peças de roupa aceitáveis, embora predominem versões estilizadas que redimem por completo os excessos cometidos no passado, sobretudo ao nível dos bolsos. Com ténis ou botas, explore este regresso e surpreenda-se com o resultado de combinações improváveis (saltos altos incluídos). Outras compras: calças de pele
Tweed
Esqueça toda a aura luxuosa e solene (e financeiramente proibitiva) que ronda as peças em tweed. Esta textura pode continuar ser a imagem de marca da Chanel, mas também já escorregou para lojas onde os comuns mortais podem dar-se ao gosto sem terem de contrair dívidas. Ainda assim, seja num provador da Zara ou à saída de casa, já sem as etiquetas na roupa, voltamos sempre à mesma visão etérea do velho tailleur. Usar o conjunto completo não é para todas, há vestidos em alternativa, embora os grandes ícones continuem a ser os verdadeiros ícones. Outras compras: peças em pelo
Blazers com xadrez
Será que à terceira é de vez? É que já nos últimos dois outonos as peças em xadrez saltaram diretamente para a fila da frente das tendências. Vantagens? A oportunidade para fazer render investimentos anteriores, quem sabe tesouros de família. Do clássico príncipe de Gales aos padrões cunhados pela cultura punk, o xadrez está à altura de todas as ocasiões. Entre vestidos, sobretudos, camisas e calças, os blazers acabam por ser a opção mais versátil. Na verdade, independentemente da cor ou padrão, a peça é, em sim, um must have. Au point se combinado com camisa e saia de comprimento médio. Outras compras: fatos
Saias midi
Falar de saias de comprimento médio, que é como quem diz abaixo do joelho, é voltar a percorrer algumas das tendências deste outono. Mesmo as mais vaporosas, que provavelmente até foram escolhas recorrentes nos dias de verão, podem ser conjugadas com peças outonais. Falamos de blazers de corte reto, de camisas estruturadas e dos camisolões de malha. Outras compras: saias plissadas
Flores escuras
Lembra-se do tempo em que os padrões florais eram sinónimo de primavera? Bem, a moda está sempre a tempo de se livrar de associações literais e foi precisamente o que fez ao estender a época das flores ao resto do ano. Salvo algumas variações de tonalidades, estes estampados não estão dependentes de nenhuma estação. Este outono, voltam a florescer cheios de viço. Impactantes e em paletas escurecidas pelo défice de luz, os padrões aproximam-se da estética das naturezas mortas, não perdendo ainda assim a aura romântica que carregam e da qual os vestidos continuam a ser os grandes embaixadores. Outras compras: roxo e lilás
Blusões de pele
Recuperar os blusões de cabedal dos anos 70 não significa que o biker tenha de ser encostado à boxe. Felizmente, todos podem conviver em harmonia e é cada vez mais difícil encontrar uma peça que, de uma estação para outra, se torne proibida. As peças em pele são, na verdade, um must have. Desta vez, o acabamento artesanal bem como as tonalidades que vão do bege ao castanho prevalecem. Outras compras: sobretudos longos