Há pouco mais de um mês, foram os islandeses a despedir-se do Okjokull, o primeiro glaciar da ilha a perder essa denominação. Para isso, organizaram uma cerimónia — que incluiu a primeira-ministra, Katrin Jakobsdottir — e descerraram uma placa em memória do glacial, conhecido como Ok. Agora, os suíços elevaram a fasquia e fizeram um funeral (simbólico) em homenagem ao Pizol, um glaciar nos Alpes que quase desapareceu devido ao aquecimento global.
Cerca de 250 pessoas, algumas vestidas de preto ou com véus, subiram a Montanha Pizol para prestar uma última homenagem ao glaciar, que ainda não desapareceu completamente mas que, segundo os cientistas, perdeu 80% do seu volume desde 2006 devido às alterações climáticas. Restam agora 26.000 metros quadrados de gelo (menos do que quatro campos de futebol).
O Pizol, com uma altitude de 2.700 metros, localiza-se perto do Liechtenstein e da fronteira com a Áustria. Perdeu tanto volume que, “numa perspetiva científica”, já nem sequer é um glaciar”, disse à agência AFP Alessandra Degiacomi, ativista. Um estudo de investigadores suíços concluiu que, até 2050, pelo menos metade dos glaciares da Suíça vão desaparecer.
A cerimónia de homenagem ao Pizol contou ainda com a presença de um padre e vários cientistas. Foi organizada pela Associação Suíça pela Proteção do Clima, que pede a redução para zero das emissões de dióxido de carbono no país até 2050. Uma coroa de flores foi colocada na montanha, em memória do glaciar.
“Viemos aqui para dizer ‘adeus'” ao Pizol, disse Matthias Huss, especialista em glaciares. Já o pároco de Mels da localidade onde o glaciar se localiza, pediu “ajuda de Deus para superar o enorme desafio das mudanças climáticas”.
Alpes vão perder metade do gelo até 2100
A conclusão é de um estudo de cientistas suíços, entre eles Matthias Huss. À agência AFP, o especialista em glaciares diz que, independentemente do que possamos vir a fazer, os Alpes vão perder, pelo menos, metade da massa de gelo até 2100.
O Pizol não é o primeiro glaciar a desaparecer dos Alpes Suíços. “Desde 1850, estimamos que mais de 500 glaciares suíços tenham desaparecido completamente”, refere Matthias Huss. Ainda assim, o Pizol é o “primeiro glaciar densamente estudado a desaparecer”. Estava a ser acompanhado pelos especialistas desde 1893.
Depois do Pizol, os especialistas estimam que o maior glaciar dos Alpes, o Aletsch, possa vir a desaparecer completamente nas próximas oito décadas.
A Associação Suíça para a Proteção Climática quer agora que se realize um referendo que obrigue o país a reduzir as emissões de gases para zero até 2050. O governo suíço já disse que apoia a iniciativa.
A cerimónia em homenagem ao Pizol aconteceu na véspera da cimeira especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima, esta segunda-feira, em Nova Iorque.