Elisa Ferreira revelou no Parlamento Europeu que manifestou à presidente eleita da Comissão Europeia a disponibilidade para se abster de tomar decisões que se possam cruzar com o trabalho do marido, Fernando Freire de Sousa, presidente da CCDR-Norte.

Ouvida no âmbito do processo de escolha para comissária europeia com a pasta da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira respondia à pergunta de uma eurodeputada alemã, Simone Schmiedtbauer, quando passava já quase duas horas do início da audição.

“Estou disponível para tomar todas as medidas necessárias para evitar qualquer perceção de conflitos de interesse — isto significa, em particular, que me vou abster de qualquer participação ou decisão que diga respeito à execução de fundos europeus que estejam sob minha responsabilidade e que possam, direta ou indiretamente, ter impacto no interesse pessoal do meu marido enquanto presidente deste instituto”, disse Elisa Ferreira, citando a carta que escreveu a Ursula von der Leyen.

“Se houver algum aspeto pessoal, vou abster-me completamente, o que significa que me considero impedida de decidir, ficando a presidente eleita com a decisão ou delegar noutra pessoa”, explicou a comissária indigitada para a pasta da Coesão e das Reformas.

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“O meu marido é professor universitário, é economista, e tem trabalhado há 3 anos numa das instituições publicas que lida com desenvolvimento regional no Norte de Portugal, portanto, acredito que não há qualquer conflitos de interesse, porque ele responde ao ministro responsável no Governo pelo Planeamento”, afirmou.

Elisa Ferreira está, por isso, “convencida de que não há qualquer conflitos de interesse”, porque “é trabalho público, não há interesses privados que possam entrar em conflito com este interesse público”.

Em todo o caso, a ex-vice-governadora do Banco de Portugal acredita “que isso nunca acontecerá, porque temos um sistema baseado em regras”.

“O meu marido nunca se reuniu com o anterior comissário, o anterior comissário nunca teve de decidir nada sobre ele”, garante.

Elisa Ferreira garante luta por mais fundos europeus

Elisa Ferreira promete lutar na Comissão Europeia por um envelope financeiro “o mais elevado possível” para os fundos comunitários. A ex-vice governadora do Banco de Portugal ressalva que, com a saída do Reino Unido, o orçamento da UE sofre ajustamentos, mas entende que “se houver uma melhoria do quadro financeiro isso será bom”. “Lutarei para que esse caminho seja seguido”, garantiu aos eurodeputados.

Questão delicada — e que marca boa parte da audição — diz respeito à ligação entre fundos comunitários e reformas estruturais. Elisa Ferreira entende que os estados-membros devem ter condições financeiras para fazer reformas — que não sejam impostas e que sejam discutidas com o Parlamento Europeu —, mas também avisou que “participar numa moeda única exige equilíbrio” financeiro.

“As reformas devem estar alinhadas com o Semestre Europeu, mas também devem ser propostas e endossadas pelo país em causa”, sublinhou, defendendo que as reformas estruturais e a coesão caminhem “em conjunto” — “não devem funcionar à custa um do outro”, acredita Elisa Ferreira.

A comissária indigitada promete ainda uma proposta para o novo Fundo para uma Transição Justa, por parte da futura Comissão Europeia, nos primeiros 100 dias do seu mandato, que permita passar para uma economia baseada na neutralidade carbónica.

No final, em declarações aos jornalistas, Elisa Ferreira disse que “teve muitíssimo prazer” em participar na audição, que foi “muito interessante”, mas não revelou se acredita ter passado no crivo dos eurodeputados: “É preciso dar tempo ao tempo”, afirmou.

Questionada sobre as posições mais críticas assumidas pelos eurodeputados do PSD e do Bloco de Esquerda — que, além do PS, participaram na audição —, Elisa Ferreira atribui essa postura ao “período de campanha eleitoral”, porque “as pessoas, no fundo, querem também brilhar”, atirou Elisa Ferreira.

O parecer dos eurodeputados sobre a adequação de Elisa Ferreira ao cargo de comissária europeia para Coesão e Reformas será conhecido esta quinta-feira.

O jornalista do Observador viajou para Bruxelas a convite do Parlamento Europeu