“Ao decidir pôr um ponto final à existência do modelo de acordo político que ficou conhecido como geringonça, o Partido Socialista recusa um modelo que deu provas de resistência face a turbulências políticas, que impediu recuos e assegurou um percurso estável e de respeito pelos direitos e rendimentos”. Catarina Martins reagiu assim, esta sexta-feira na sede do BE, ao facto de o PS não aceitar assinar um acordo escrito com os bloquistas para os quatro anos da legislatura, preferindo um modelo “à Guterres”, negociando medida a medida ou orçamento a orçamento. Numa conferência de imprensa convocada esta sexta-feira, a líder do BE culpou os socialistas pelo fim da “geringonça” e disse que “lamenta a decisão do PS de não seguir este caminho”.
A coordenadora do BE revelou ainda que soube de antemão que o PS ia abandonar as negociações para um acordo para quatro anos, com o “horizonte de uma legislatura“. Soube-o logo a seguir à reunião que o primeiro-ministro indigitado manteve “com as confederações patronais“. “Desse ponto de vista não houve nenhuma indelicadeza da parte do PS”, explicou ainda.
Ainda assim, os partidos vão continuar a falar com vista a garantir a estabilidade política mas num modelo que para o Bloco de Esquerda era um plano B: “caso a caso”. A primeira reunião entre os dois partidos com vista a dar seguimento a este novo modelo acontecerá “brevemente” mas ainda não está agendada. Terá como foco o próximo Orçamento do Estado e não o programa de Governo, revelou a líder do BE aos jornalistas.
Catarina Martins sublinhou por diversas vezes que este não só não era o modelo que o BE preferia como era um caminho que marcava o fim da “geringonça”. “A partir de agora será um modelo diferente“, declarou nas respostas à comunicação social.
A grande causa para o desentendimento entre os dois partidos foi o pacote de alterações que o BE queria fazer na legislação laboral: central para os bloquistas e secundária para o PS. Um obstáculo que não seria ultrapassável para fechar um acordo para os quatro anos da legislatura.
Esta é a primeira reação do Bloco de Esquerda depois de na noite de quinta-feira o PS ter reunido a sua Comissão Política para analisar os resultados eleitorais e as possibilidades de formar um governo. Através dum comunicado, os socialistas fizeram saber que António Costa e a sua comitiva não vão assinar nenhum papel que estabeleça um acordo para quatro anos. Serão negociadas previamente as propostas de orçamento do Estado e outras “relevantes para a estabilidade governativa”, podia ler-se no documento.
PS não faz acordo escrito com ninguém. Negociará com todos (à esquerda) por igual
Esta era a preferência do Bloco de Esquerda, que depois de reunir com o PS na quarta-feira, na sede boquista, tinha proposto um acordo “com o horizonte de uma legislatura”, escrito, com os socialistas com o objetivo de dar “estabilidade” a um governo minoritário socialista. Assim, será a segunda via proposta pelo BE aquela que vai ser seguida pelo Governo. Afinal, as assinaturas não ficaram no acordo mas sim na certidão de óbito da “geringonça”.