Os Estados Unidos podem avançar com sanções à Turquia na sequência da ofensiva militar turca contra a Síria, de acordo com uma fonte do governo norte-americano ouvida pelo jornal britânico The Guardian. Os EUA estabeleceram um conjunto de linhas vermelhas que, se forem ultrapassadas pelo regime turco, podem mesmo levar à imposição de sanções económicas ao país.
As “linhas vermelhas” surgem na sequência do discurso em que o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, ameaçou enviar migrantes sírios para a Europa, e após dois dias de ofensiva militar em que o número de civis mortos tem crescido — embora não haja ainda números oficiais. A última estatística apontava para oito civis mortos e 23 combatentes curdos; porém, depois disso, Erdoğan já anunciou a morte de 109 combatentes curdos. De acordo com a fonte ouvida pelo The Guardian, os EUA estão particularmente atentos à possibilidade de a Turquia usar armas de fogo diretamente contra a população civil ou ou “limpeza étnica”.
No Twitter, Donald Trump já tinha deixado um aviso abrindo a porta a possíveis sanções. Lembrando que os EUA fizeram o seu trabalho “perfeitamente” na derrota do Estado Islâmico, assinalou: “Temos três hipóteses: enviar milhares de tropas e ganhar militarmente, atingir duramente a Turquia a nível financeiro e com sanções, ou mediar um acordo entre a Turquia e os curdos”.
….We have one of three choices: Send in thousands of troops and win Militarily, hit Turkey very hard Financially and with Sanctions, or mediate a deal between Turkey and the Kurds!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 10, 2019
A Turquia lançou, na quarta-feira, uma ofensiva militar contra os curdos sírios, depois de os Estados Unidos terem retirado as tropas da zona da fronteira. A ofensiva tem como objetivo derrotar o YPG, ou Unidades de Proteção Popular, uma milícia curdo da Síria. Este grupo tem estado no centro das tensões entre EUA e Turquia: por ser próximo do PKK (considerado grupo terrorista pela Turquia, UE e EUA), os turcos consideram-nos também um grupo terrorista; porém, o YPG tem sido um aliado dos EUA durante a guerra contra o Estado Islâmico.
Os Estados Unidos já tinham condenado a ofensiva turca e rejeitado responsabilidades sobre o ataque. Em comunicado oficial da Casa Branca, Donald Trump disse mesmo que os EUA “deixaram bem claro à Turquia que esta operação não é uma boa ideia”. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, reforçou esta posição, afirmando que “os Estados Unidos não deram luz verde à Turquia”.
Turquia abre um novo capítulo na guerra da Síria ao iniciar ofensiva contra os curdos
De acordo com a fonte do The Guardian, um alto funcionário do governo norte-americano, existia um plano de ação conjunto elaborado pelos EUA e pela Turquia, que envolvia a criação de uma zona desmilitarizada na fronteira síria e a implementação de postos de controlo conjuntos, mas o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, terá rejeitado o plano abruptamente durante uma conversa telefónica com Donald Trump, no domingo.
O plano de Erdoğan passa por tomar o controlo de uma faixa de território para onde a Turquia quer enviar até quatro milhões de refugiados sírios. Depois das críticas americanas e europeias, Erdoğan ameaçou “abrir os portões” e enviar 3,6 milhões de refugiados sírios para a Europa caso o ocidente continue a classificar a ofensiva turca como uma ocupação ilegal.