O Presidente turco disse esta quinta-feira que a União Europeia não deve criticar Ancara e anunciou que 109 membros das milícias curdas foram abatidos desde o início da intervenção militar em território sírio, na quarta-feira.

Erdogan afirmou que desde que começou a operação militar da Turquia no nordeste da Síria as tropas turcas mataram 109 “terroristas” (combatentes curdo-sírios), e feriram e fizeram prisioneiros “numerosos membros” das Unidades de Proteção do Povo (YPG), a milícia do Curdistão sírio que contou até esta semana com o apoio dos Estados Unidos na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico.

O líder turco ameaçou ainda “abrir as portas” e enviar milhares de refugiados para a Europa se Bruxelas criticar a ofensiva militar de Ancara contra as milícias curdas na Síria.

“União Europeia: recupera o juízo. Se defines a nossa operação como invasão, o nosso trabalho é fácil. Abrimos as portas e enviamos 3,6 milhões de refugiados”, ameaçou o chefe de Estado turco durante um discurso em Ancara.

A agência de notícias estatal da Turquia noticiou que as forças sírias aliadas da Turquia “limparam os terroristas” de duas aldeias da Síria junto à fronteira, indicando que já não há combatentes curdos nessas povoações. A agência Anadolu refere que grupos armados sírios apoiados por Ancara tomaram Yabisa e Tel Fander mas não adianta mais detalhes.

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Por outro lado, a organização não-governamental Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede em Londres, indica que comandos turcos entraram na aldeia de Beir Asheq, perto da cidade de Tal Abyad esta manhã.

Depois de esta quarta-feira a Turquia ter aberto um novo capítulo na guerra da Síria com uma ofensiva contra os curdos no nordeste da Síria, provocando 15 mortos, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) decidiu reunir esta quinta-feira de urgência para debater a situação.

[A ofensiva turca segundo os que vivem na fronteira:]

A reunião foi convocada pela França, Reino Unido, Alemanha, Bélgica e Polónia, os cinco países da União Europeia (UE) atualmente representados no Conselho de Segurança. Ao mesmo tempo, dos Estados Unidos veio um recado de Donald Trump: há dois militantes do Estado Islâmico que estão sob detenção dos americanos num local protegido.

Pelo menos 60 aviões de combate turcos participaram no início da ofensiva, tendo os militares progredido cerca de 30 quilómetros em território sírio, na tentativa de controlar uma faixa de 32 quilómetros de largura ao longo da fronteira turco-síria, entre o rio Eufrates e a fronteira com o Iraque.

O início desta ofensiva, que o regime de Recep Tayyip Erdoğan apelidou de “Operação Primavera da Paz”, deu-se com bombardeamentos aéreos nas vilas sírias de Tel Abyad and Ras al-Ayn e surge depois de os EUA terem decidido retirar as suas tropas de parte daquela fronteira da Síria.

Turquia abre um novo capítulo na guerra da Síria ao iniciar ofensiva contra os curdos

A ofensiva turca foi a resposta ao anúncio do Presidente norte-americano, Donald Trump, que no domingo anunciou a retirada das tropas americanas daquela zona. Trump acabou por corrigir mais tarde as suas declarações, assegurando que Washington não tinha “abandonado os curdos”, que desempenharam um papel crucial na derrota militar do grupo extremista Estado Islâmico.

A Casa Branca emitiu, entretanto, um comunicado em que Donald Trump rejeitou responsabilidade sobre as ações da Turquia, dizendo que “os EUA não apoiam este ataque e deixaram bem claro à Turquia que esta operação não é uma boa ideia”.

EUA ameaçam Ancara com sanções económicas e diz que EUA

Também esta quinta-feira, Donald Trump disse esperar que Recep Tayyip Erdogan decida “racionalmente” e o mais “humanamente possível”, ameaçando-o com sanções económicas. “Espero que ele aja racionalmente. Vamos ver como ele lidera [esta operação]”, afirmou, na Casa Branca, o Presidente dos EUA.

“Se ele [Erdogan] fizer isso de forma injusta, pagará um preço económico enorme. Destruirei a economia deles se isso acontecer“, ameaçou Donald Trump, reiterando as ameaças apresentadas no início desta semana.

Questionado como é que o Presidente dos Estados Unidos definiria uma ofensiva militar conduzida de maneira “humana”, Trump respondeu: “Vamos ver como e tomaremos medidas”. O Presidente norte-americano insistiu, por diversas vezes, que o seu homólogo turco já há muito que planeava lançar uma ofensiva contra as forças curdas na Síria. “Existe um verdadeiro ódio. É como Israel com os palestinianos”, vincou.

O líder norte-americano informou também que “no caso dos curdos ou a Turquia perderem o controlo, os Estados Unidos já levaram dois militantes do ISIS ligados a decapitações na Síria, conhecidos como ‘besouros”, para fora do país e para uma localização segura controlada pelos EUA”. “Eles são os piores de todos!”, destacou ainda.

O Presidente dos EUA, amplamente criticado tanto no cenário internacional como dentro de sua própria família política pela decisão de retirada da Síria, garantiu ter recebido muito apoio “fora de Washington e até mesmo em Washington”.