O bispo de Leiria-Fátima, António Marto, afirmou este sábado que são necessários cidadãos exigentes e ativos para fazer face à “onda de populismos”, referindo ainda que “a classe política deve mostrar que tem classe”.
O cardeal, que comentava as eleições legislativas de domingo, referiu que a abstenção registada “denota um défice democrático”, sendo que a democracia não deve ser considerada “um dado adquirido”.
A democracia, vincou, tem de ser construída “com o contributo de todos, todos os dias”, para garantir que sobrevive, “diante das ameaças que chegam diariamente, através de ondas de choque populistas”, disse António Marto, que falava na conferência de imprensa da peregrinação aniversária, que decorre no Santuário de Fátima.
“Só com cidadãos exigentes alcançaremos o progresso. Face à crescente onda de populismos, seria bom ter presente esta necessidade e consciência de que votar é um exercício de um direito, mas também de uma obrigação moral”, vincou.
Questionado sobre a entrada de um partido de extrema-direita na Assembleia da República (Chega, liderado por André Ventura), António Marto recusou pronunciar-se sobre “este ou aquele partido”, apenas frisando que o populismo “é algo que se está a espalhar pela Europa e merece uma atenção particular”.
“Não basta só responder com ‘slogans’ e com análises superficiais, mas procurar fazer uma reflexão profunda, objetiva – científica até -, sobre as situações que provocam estes populismos”, acrescentou.
Durante a conferência de imprensa, o cardeal apelou ainda a uma “elevação da qualidade da atividade política”, sublinhando que “a classe política deve mostrar que tem classe e que a sociedade civil, nas suas diferentes expressões, deve mostrar o seu empenho na construção quotidiana de mais e melhor democracia”.
Na ótica de António Marto, a atividade política precisa de “pôr o bem comum acima do bem particular ou do bem partidário”, sendo necessário os partidos serem fiéis às suas promessas, mas também “realistas” nas propostas que apresentam.
“Que sejam próximos daqueles que os elegem, que procurem também dar um testemunho de honestidade, de credibilidade, que eliminem tudo aquilo que possa produzir qualquer suspeita de corrupção”, afirmou.
O bispo de Leiria-Fátima pediu ainda ao Governo para uma “maior atenção à solidariedade social”.
António Marto alertou para as desigualdades sociais que persistem no país – “algumas gritantes e escandalosas” -, como é o caso das pensões mínimas.
A peregrinação internacional aniversária decorre entre hoje e domingo, no Santuário de Fátima, numa celebração presidida pelo arcebispo de Seul, o cardeal Andrew Yeom Soo-jung.
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