Lula da Silva defendeu esta terça-feira a punição dos procuradores que acusaram José Sócrates, caso a acusação da Operação Marquês venha a ser dada como não provada. “Se o Sócrates foi acusado por alguém [Ministério Público], esse alguém que o acusou tem que provar. Se não provar, essa pessoa tem que ser punida”, afirmou numa entrevista à RTP.

Questionado sobre as semelhanças entre a Operação Marquês e os processos da Lava Jato que o levaram à prisão, Lula da Silva fez questão de referir que sempre teve boas relações com ex-Chefes de Estado como Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva e os ex-primeiro-ministro Durão Barroso e Passos Coelho, mas acrescentou que é “muito amigo” e gosta “especialmente” de José Sócrates — acusado de crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada na Operação Marquês.

“O facto de um cidadão ser acusado não quer dizer nada. Quando você acusa uma pessoa, você tem que provar. Ou seja, se o Sócrates foi acusado por alguém [Ministério Público], esse alguém que o acusou tem que provar. Se não provar, essa pessoa tem que ser punida. Porque senão todos nós que fazemos política estamos à mercê do mau ‘caraterismo’ [mau carácter] político”, afirmou o ex-Presidente do Brasil

Recorde-se que a Operação Marquês encontra-se na fase de instrução criminal depois do Ministério Público ter deduzido acusação contra José Sócrates e mais 27 arguidos.

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Lula recusa passagem a regime semi-aberto. “Quero a minha inocência”

Lula da Silva foi condenado a 12 de julho de 2017 pelo juiz Sérgio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba, a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e branqueamento de capitais no âmbito de um processo da Operação Lava Jato. A 24 de janeiro de 2018, o Tribunal Regional Federal da Quarta Região de Curitiba confirmou a sentença do tribunal da primeira instância e aumentou a pena de prisão para 12 anos e um mês. Já em 23 de abril de 2019, o Superior Tribunal de Justiça manteve a condenação, mas reduziu a sentença do Tribunal Regional Federal da Quarta Região de Curitiba.

Num outro caso, Luiz Inácio da Silva foi condenado a 12 anos e 11 meses de prisão, sentença da qual recorreu, mas que ainda aguarda decisão.

Na entrevista, o ex-Presidente brasileiro criticou duramente a Justiça brasileira por não lhe dar garantias de defesa e por, no seu entendimento, ter produzido uma sentença com pena de prisão sem qualquer prova. Questionado sobre a possibilidade legal de passar a uma regime semi-aberto — a lei brasileira permite que após o cumprimento de um sexto da pena de prisão, o recluso saia da prisão para trabalhar, regressando ao estabelecimento prisional ao final do dia —, Lula recusou essa hipótese. Além disso teria de pagar uma indemnização ao Estado de 2,4 milhões de reais (520 mil euros) por danos causados.

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“Eu não quero progressão de pena, eu quero a minha inocência”, enfatizou.

Lula voltou as acusações da Operação Lava Jato contra si como “acusações políticas” e aponta o dedo ao juiz Sérgio Moro — hoje ministro da Justiça do Presidente Bolsonaro. Houve “um conluio entre o juiz, o procurador, a Polícia Federal através dos delegados que fizeram o inquérito e a imprensa” que levaram a “inquéritos policiais mentirosos, acusações do Ministério Público mentirosas e sentença mentirosa.”

Confrontado com o facto de dois tribunais superiores, com desembargadores e conselheiros diferentes, terem mantido as condenações do juiz Sérgio Moro, Lula da Silva respondeu:”Fui condenado antes dos desembargadores lerem o meu processo”, censurou.

“Tenho na cela a televisão aberta” e “vou viver até aos 120 anos”

Lula da Silva contou ainda como vai acompanhando as notícias sobre o Brasil e como passa os dias na prisão em Curitiba (Estado do Paraná) — numa prisão especial com uma cela também ela muito diferente do restante sistema prisional brasileiro.

“Eu tenho na cela a televisão aberta, não tenho TV a cabo e não tenho internet. A televisão não é da melhor qualidade, os programas não são os mais apetitosos”, mas “assisto os jornais rotineiros [televisivos] do Brasil, recebo informações do mundo aí fora e recebo pen drives com informações de outros países”, contou à RTP.

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E fez uma revelação curiosa: vai viver até aos 120 anos. “Enquanto eu estiver vivo, eu tenho futuro. Estou convencido que vou viver até 120 anos. A ciência está dizendo que já nasceu o homem que vai viver 12o anos: está aqui [apontando para si próprio]. Vou viver porque eu gosto de viver, vou viver porque gosto de viajar esse país, vou viver porque eu gosto de fazer política e vou viver porque tenho a certeza que é possível fazer com que os pobres sejam menos pobres, que os ricos sejam menos ricos”, enfatizou.

O ex-líder do Partido dos Trabalhadores não tem dúvidas de que Jair Bolsonaro, o sucessor de Dilma Roussef como Chefe de Estado brasileiro, “é um demolidor, um destruidor” da democracia no Brasil. “É um cidadão que não gosta de cultura, por isso tem que destruir todos os mecanismos que fortalecem a cultura. Não gosta de liberdade e, por isso, tem que ter milícia. Não gosta de emprego e, por isso, pede para que o seu ministro da Fazenda venda tudo. Estão querendo privatizar tudo o que você possa imaginar nesse país.”

Bolsonaro “não está a governar”, mas antes “está a dar autorização para vender” o Brasil, censura.