Citando duas fontes da Nissan não identificadas, a Reuters avança que o construtor nipónico está disposto a sacrificar a Datsun, fazendo da marca que deveria ser a “sua” Dacia uma das principais vítimas de um severo plano de reestruturação.

Conforme anunciado em Julho, o futuro da Nissan passa por cortes agressivos, incluindo em linhas de produção e na supressão de modelos com pouca procura ou que deixam poucas margens de lucro.O objectivo é reduzir custos, a ponto de, até 2023, 12.500 funcionários em todo o mundo perderem o seu emprego, prevendo-se que 14 fábricas serão visadas nesta estratégia de marcha-atrás face à política expansionista empreendida por Carlos Chosn – o ex-chairman da Nissan, que se encontra detido desde Novembro, embora negue as acusações que a Nissan lhe aponta.

Independentemente dos factos que vierem a ser apurados, a realidade é que, desde então, a Nissan não só viu a sua relação com a Renault (sua parceira de Aliança) azedar, como os resultados estão a afundar. Segundo a Reuters, a Nissan prepara-se para apresentar o lucro mais baixo nos últimos 11 anos. E isso levou a liderança da marca, ainda com Hiroto Saikawa aos comandos, a conceber um drástico plano de cortes, que vai (literalmente) de uma ponta à outra. Já se sabia que a marca de luxo do construtor nipónico, a Infiniti, vai retirar-se da Europa já no próximo ano. Agora, a Reuters avança que também a acessível Datsun pode ter os dias contados.

Inviável. Infiniti vai deixar de vender na Europa

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Depois de praticamente 30 anos sem qualquer actividade, a Datsun foi “reanimada” com o intuito de ser uma espécie de Dacia da Nissan. A ideia seria, através desta marca low-cost, conquistar quota em mercados como a Indonésia, Índia, Rússia e África do Sul. Porém, menos de uma década depois dessa decisão, parece que a Datsun volta a estar condenada. A estratégia não correu como o pretendido, tendo chegado mesmo ao ponto de haver uma certa canibalização das vendas. Na Indonésia, por exemplo, foi o que aconteceu: a Datsun conquistou clientes à custa da Nissan, que perdeu quota nesse mercado. Mas não só, perdeu também lucros, pois as margens de modelos low-cost são inferiores. Por isso, em cima da mesa está a (des)continuidade da Datsun.

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Mas o machado dos cortes pende também sobre instalações fabris. Ao que parece, a China será poupada, mas de resto todas as fábricas serão vistas à lupa, inclusive na Europa. Segundo a Bloomberg, a Nissan está a ponderar vender uma ou até mesmo as duas fábricas que tem em solo europeu. Ou seja, é incerto o futuro do complexo de Sunderland, Reino Unido, de onde saem o Juke, o Qashqai e o Leaf. Pior ainda estará a fábrica de Barcelona, que só produz a e-NV200 – abaixo, portanto, da sua capacidade de produção. De acordo com a agência, fontes da Nissan justificam estas movimentações com a queda de vendas na Europa e com a viragem da indústria para a mobilidade eléctrica. O cenário é tão cinzento e a quebra de vendas tal que modelos como o Micra podem desaparecer. Esperava-se que o citadino vendesse 80 mil unidades/ano, mas a realidade cifra-se em 50 mil, muito abaixo dos objectivos comerciais.