Hillary Clinton considera que o líder do Facebook, Mark Zuckerberg, deve ser responsabilizado pelo que está a fazer à democracia. A ex-candidata presidencial norte-americana falava num evento em Nova Iorque em que foi exibido o documentário da Netflix “Nada é Privado: O Escândalo da Cambridge Analytica” e afirmou que a possibilidade de os partidos políticos poderem fazer propaganda praticamente sem filtros na rede social é uma ameaça à democracia.
A democrata referia-se especificamente à decisão do Facebook de não intervir no debate político, permitindo que os partidos políticos publiquem os seus anúncios ainda que estes possam conter informações erradas ou mentiras — Nick Clegg, um dos vice-presidentes do Facebook, chegou mesmo a afirmar: “Não é o nosso papel intervir quando os políticos falam. Quero ser claro: não submetemos o discurso dos políticos aos nossos fact-checkers independentes, e geralmente permitimo-lo na plataforma, ainda que noutras condições violasse as nossas regras normais de conteúdo”.
Para Hillary Clinton, há mesmo dúvidas sobre se é possível ou não haver eleições verdadeiramente livres com esta posição da principal rede social do mundo perante o discurso político. A democrata diz que “a propaganda funciona” e considera que as notícias falsas relativamente a um apoio do Papa Francisco a Donald Trump “teve realmente um impacto” no resultado das eleições de 2016. E esse impacto, garante Clinton, “só se vai tornar mais poderoso, porque está cada vez mais bem testado”.
“Quando o Facebook é a principal fonte de notícias para mais de metade da população americana — e a única fonte de notícia a que a maioria deles presta alguma atenção —, se anuncia que não tem responsabilidade pela publicação de anúncios falsos, como é que é suposto obtermos informação correta sobre o que quer que seja, quanto mais sobre os candidatos à presidência”, afirmou Hillary Clinton naquela conferência em Nova Iorque.
A democrata — sobre a qual paira a expectativa de uma possível nova candidatura à presidência norte-americana — diz-se preocupada já com as próximas eleições. “Estamos permanentemente a receber sinais preocupantes sobre o que se passa agora e que provavelmente vai afetar a nossa próxima eleição”, assegurou Clinton. Apesar de dizer que não quer especular sobre se a decisão do Facebook está ou não relacionada com a reunião à porta fechada entre Mark Zuckerberg e Trump, Clinton acrescentou: “Se eu fosse de conspirações, poderia sugerir que parece haver uma ligação”.
Hillary Clinton descreve o momento atual como uma “guerra contra a verdade” em que há “pessoas incrivelmente ricas que acreditam que podem fazer o que quiserem”.
“Quando os russos começaram a divulgar emails à volta da nossa convenção e a minha campanha tentou falar sobre isso na televisão, toda a gente se riu. ‘Ah, claro, agora vai culpar os russos'”, lembrou a ex-candidata, sublinhando que agora que ficou provado o envolvimento russo na eleição de 2016 é possível juntar os pontos. “Quando se junta tudo isto, é impossível ter sido inventado”, resumiu.