O primeiro-ministro condecora este sábado Carlos do Carmo com a medalha de mérito cultural pelo seu “inestimável contributo” para a música portuguesa, no dia em que o fadista dá o seu último concerto, no Coliseu de Lisboa.
“Num gesto simultâneo de agradecimento e de reconhecimento pelo inestimável trabalho de uma vida dedicada à divulgação do Fado e da música portuguesa, difundindo em Portugal e no estrangeiro a cultura e a língua portuguesas, ao longo de mais de cinquenta anos, entende o Governo Português prestar pública homenagem a Carlos do Carmo, concedendo-lhe a medalha de mérito cultural”, lê-se no texto biográfico que será impresso no diploma que acompanhará a medalha de mérito cultural.
Carlos do Carmo foi agraciado com o Grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique a 04 de setembro de 1997, pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, e com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito a 28 de novembro de 2016, pelo atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
António Costa refere num artigo publicado no semanário Expresso que Carlos do Carmo escolheu a noite de hoje para dar o seu último concerto. “Com 45 anos de carreira bem vividos e a um mês de comemorar 80 anos de vida, temos de respeitar esta escolha. Hoje, no Coliseu de Lisboa, não nos despedimos, nem iniciamos a saudade. Festejamos mais esta etapa da carreira e da vida do Carlos do Carmo, como que uma nova estação do ano”, escreve o primeiro-ministro.
O título deste artigo, “Inverno não ainda, mas outono”, foi o primeiro verso do poema de Ary dos Santos que Caros do Carmo selecionou para encerrar a coletânea de 80 canções que este ano editou como Oitenta.
De acordo com o primeiro-ministro, o outono “é a estação em que a natureza se renova e acolhe novas sementeiras”. “E seguramente que o mais notável contributo de Carlos do Carmo para a Cultura portuguesa é a forma como militantemente renovou o fado e o preparou para novas colheitas. Sim, Carlos do Carmo não é só um notável fadista, que o público, a crítica e um Grammy consagraram. Desde logo, porque canta muito mais que o fado, como os tributos que presta aos seus ídolos Brel ou Sinatra bem demonstram. Mas porque é mesmo um militante do fado”, considera o líder do executivo.
António Costa sustenta depois que foi com militância que Carlos do Carmo “libertou o fado do estigma de símbolo da ditadura e o renovou no Portugal de abril”. “A militância que prossegue, que mobiliza novos compositores e poetas, que encoraja e acarinha novos intérpretes, que valoriza os instrumentistas, que conquista novos públicos. A militância que levou a UNESCO a reconhecer o fado como património imaterial da humanidade. É com este espírito que sonhou o Museu do Fado como uma verdadeira escola para o futuro, porque depois do tempo, tempo vem, e o fado também se há de continuar a renovar e para renovar é preciso aprender o que de velho se faz novo”, acrescenta o primeiro-ministro.