“Anos após anos”, como lembrou Telmo Correia, o CDS repete o número: “o 25 de novembro é um dia que não deve ser esquecido, por isso, ano após ano, propomos que seja aqui votado um voto de saudação pela data” que, segundo defende o CDS, “foi a data decisiva para que a revolução de 25 de abril não se tornasse na criação de uma nova Cuba ou numa nova Albânia, mas sim num Estado de direito democrático com base nas democracias ocidentais”. A acompanhar e a aplaudir a evocação do CDS costuma estar apenas o PSD, mas, desta vez, a direita teve mais companhia: os deputados do Chega e do Iniciativa Liberal também se juntaram, assim como sete deputados do PS que contrariaram a sua bancada e se levantaram para se juntar à direita.

Momento do dia: como Ferro Rodrigues ainda demorou a anotar os seus nomes, o episódio resultou num momento caricato na Assembleia da República, em que as bancadas da direita aplaudiram entusiasticamente sete deputados do PS. Um deles, Sérgio Sousa Pinto, ainda faria mais: pediu a palavra para dizer que o seu voto era “contra a amálgama e o revisionismo histórico”, numa alfinetada que acertou em cheio na sua bancada.

Em causa está um voto de saudação do CDS pelo 44.º Aniversário do 25 de Novembro, onde se pede que a Assembleia da República “evoque simbolicamente a importância histórica da vitória do movimento democrático que garantiu que o espírito das instituições e da democracia representativa prevalecesse, reconduzindo Portugal a um curso institucional de normalidade e abrindo caminho para a democracia moderna e pluralista que hoje usufruímos”.

O texto, que enaltece os contributos dos Generais Ramalho Eanes e Jaime Neves, e descreve a data como o “dia histórico que repôs o curso da democratização de Portugal”, foi aprovado com os votos a favor do CDS, PSD, Chega e IL, assim como com o voto a favor dos deputados socialistas Sérgio Sousa Pinto, Ascenso Simões, Pedro Cegonho, Marcos Perestrello, Hortense Martins, João Paulo Pedrosa e João Ataíde. A bancada do PS absteve-se, apesar de a deputada Isabel Moreira também ter furado a orientação de voto para votar contra. O PAN também se absteve e a esquerda votou contra. Para o PS, a questão reside na forma como o texto é escrito. Desta vez, a evocação do CDS foi entendida como “moderada”, daí a decisão pela abstenção, sendo que o PS apresentou também um voto em nome próprio de saudação à construção da democracia em Portugal. No texto, o PS pede que se reafirme, “sem discriminações”, uma homenagem “a todos quantos ao longo do tempo se bateram e batem pelos valores democráticos, pelos princípios do Estado de Direito e por uma sociedade aberta, justa, pluralista e tolerante”.

Depois de Telmo Correia ter lembrado que nomes como Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Freitas do Amaral estiveram “do lado da democracia” nesse processo, o deputado socialista Bacelar Vasconcelos pediu a palavra para dizer que “tem muito orgulho no papel que o PS desempenhou e especial orgulho na intervenção de Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Álvaro Cunhal” mas que a construção democrática iniciada em abril de 74 só concluiu “a sua primeira etapa com a aprovação da Constituição em 1976”, logo, não concluiu essa etapa a 25 de novembro. Também o deputado Adão Silva, do PSD, pediu a palavra para dizer que “as liberdades não têm amarração temporal objetiva, e que celebramos o 25 de abril sempre, como celebramos o 25 de novembro e todos os dias da nossa liberdade”.

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