O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, vai ser alvo de obras de recuperação. A apresentação do projeto aconteceu ao final da manhã desta quinta-feira no centro interpretativo do monumento pela Diretora Regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, e contou com a presença da secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira. Financiado pelo Programa Operacional Regional Centro 2020, a iniciativa surge na sequência das cheias de janeiro e fevereiro de 2016, que danificaram o edifício, que já se encontrava fragilizado.

O mosteiro, fundado em 1283, por Dona Mor Dias, dama da nobreza, e refundado em 1314, por D. Isabel de Aragão que, após a morte de D. Dinis, manifestou o desejo de ser ali sepultada, foi alvo de uma primeiro projeto de recuperação, restauro e valorização, um dos mais extensos e complexas de realizados em Portugal, após uma campanha arqueológica que, em 1995, pôs a descoberto parte do antigo mosteiro, nomeadamente o claustro gótico na zona sul. “Séculos de abandono” tinham transformado o monumento, “classificado em 1910, numa parca memória submersa em água e logo, cujo vestígio único será a ruína da igreja”, afirmou a Diretora Regional de Cultura do Centro, esta quinta-feira.

“Contudo, e apesar deste projeto ter incluído uma solução técnica de contenção das águas, a relação com o Mondego manteve-se frágil dada a posição vulnerável do monumento relativamente à cota atual do leito do rio. Deste modo, em 2016, as águas voltaram a invadir Santa Clara-a-Velha”, disse Suzana Menezes, recordando os efeitos devastadores no mosteiro, que teve a primeira grande cheia no ano de 1331, de acordo com os registos: “Desmoronamentos, acumulação de líquenes, degradação de paramentos pelo acumular das águas durante um largo período, danos vários em percursos de visita e meios de acesso, danos nas instalações elétricas e mecânicas e inutilização do depósito de materiais arqueológicos são algumas das consequências mais trágicas destas cheias”.

Na sequência das cheias de janeiro e fevereiro, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha ficou parcialmente submerso (EPA/PAULO NOVAIS)

Perante esta situação, a Direção Regional de Cultura do Centro negociou com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro verbas para a recuperação do edifício e dos mecanismos de proteção existentes. A candidatura foi submetida em 2018 ao Programa Centro 2020 e aprovada em setembro desse ano. O projeto é da autoria dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez e será executado pela empresa Augusto de Oliveira Ferreira & Cpa., Lda., vencedora do segundo concurso lançado, já que o primeiro, que aconteceu em fevereiro, “não suscitou interesse de mercado”, obrigando a Direção Regional a rever os preços.

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As obras terão um custo de 549.605,37 euros e prevê-se que comecem já em janeiro de 2020. Durarão aproximadamente 18 meses, confirmou ao Observador fonte do Ministério da Cultura.

Como explicou a Diretora Regional de Cultura do Centro esta quinta-feira, o projeto “visa, essencialmente, a conservação do edifício classificado e a beneficiação e valorização dos espaços envolventes que ficaram danificados com as cheias, de modo a restituir a este belíssimo lugar as condições de visita que existiam anteriormente”. A recuperação será feita nas diferentes áreas do mosteiro, desde a igreja ao claustro, passando pelo exterior do edifício. Os portões exteriores e os muros em alvenaria de pedra, localizados no limite nascente, serão consolidados e serão construídas secções novas na mesma zona para “assegurar a contenção das águas e evitar a sua entrada direta em caso de cheia”.

No decorrer das obras, será construído um pequeno armazém para albergar o espólio arqueológico. A estrutura, que terá um baixo impacto visual, vai substituir a anterior, muito danificada e que deixou de reunir as condições ambientais e de segurança necessárias. Os passadiços em deck de madeira, que dão acesso ao mosteiro, também serão reabilitados.