Para o segundo episódio do projecto do Observador e da Janssen para a celebração do Dia Mundial da Luta Contra a Sida, escolhemos uma figura icónica da cultura portuguesa: António Variações. Pedimos ao músico Martim Torres para se juntar a nós e imaginar: como seria um grande concerto do António Variações? Como reagiria ele à sua própria fama? Imaginamos o que poderia ter sido se o músico tivesse tido informação e acesso aos tratamentos atuais para o VIH.
Dos primeiros casos ao tratamento eficaz
Os primeiros casos de infecção de VIH foram descritos em 1981, nos EUA: 5 homens jovens previamente saudáveis internados com pneumonia por Pneumocystis carinii, um agente infeccioso raro e que só ocorre em situações com compromisso imunitário.
Seguiram-se múltiplos relatos de outras patologias oportunistas – como o Sarcoma de Kaposi, a tuberculose, ou a toxoplasmose cerebral – a ocorrerem em pessoas jovens e previamente saudáveis.
A década de 80 foi caracterizada pela rápida disseminação desta epidemia mortal, e a sua escala global faz com que os números sejam assustadores. No entanto, como explica a Dra Patrícia Pacheco, directora do Serviço de Infecciologia do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, “os avanços científicos na área da infecção VIH/SIDA foram extraordinários”.
Da identificação do vírus responsável por esta doença em 1984 até ao surgimento do primeiro tratamento em 1987, AZT, passaram três curtos anos.
Este primeiro tratamento prevenia o vírus de se multiplicar, no entanto era de pouca eficácia – o vírus do VIH rapidamente tornou-se resistente à droga. Na altura em que foi introduzido nos EUA, o AZT era o medicamento mais caro da história, custando entre $8.000 e $10.000 por paciente (o equivalente a $18.000 – $23.000 ajustado à inflação para 2019) e representou um grande avanço científico na luta contra a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).
P&R a Patrícia Pacheco - Directora do Serviço de Infecciologia do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca
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1 – Que tipo de apoio e tratamento está hoje em dia disponível para os doentes com VIH?
Todas as pessoas que vivem com VIH em Portugal têm direito ao tratamento antirretroviral e seguimento médico totalmente gratuito.
2 – De que forma os medicamentos inovadores provocaram uma mudança de paradigma para o VIH?
Os regimes de comprimido único não são uma mudança de paradigma. Existem desde há muitos anos, apenas se tornaram mais frequentes e melhor tolerados nos últimos anos. Não sendo essenciais, são muito facilitadores da adesão.
3 – De que forma os inovação terapêutica podem melhorar a vida de um seropositivo?
A facilidade da toma é importante. Contudo não penso que seja esse o grande factor de melhoria da vida de uma pessoa que vive com VIH. Factor de melhoria é ter um tratamento que não lhe cause desconforto e que tenha poucos efeitos adversos presentes e futuros.
Ao mesmo tempo que o vírus se multiplicava em milhares de vítimas mortais – estima-se que, desde o início da epidemia, cerca de 32 milhões de pessoas tenham morrido devido à infecção VIH -, os avanços científicos continuaram e, durante os anos 90, os tratamentos com uma droga deram lugar a tratamentos que combinam várias drogas.
“Apenas em 1995, com o início da utilização de terapia antirretroviral tripla, se começou a verificar um declínio na curva da mortalidade”, refere Patrícia Pacheco.
A terapia antirretroviral tripla representou uma maior eficácia no combate ao vírus. Era também referida por vezes como um “cocktail de drogas”, com vários comprimidos a serem tomados várias vezes por dia, como explicou a directora: “Nessa altura, as terapias eram maioritariamente complexas, com efeitos adversos importantes e má tolerabilidade, o que dificultava a adesão adequada ao tratamento.”
A partir de 1997, a combinação de várias drogas num único comprimido veio radicalmente simplificar a vida dos portadores do vírus. A inovação terapêutica permite que os doentes combatam o vírus tomando um único comprimido, o que se reflecte na adesão rápida ao tratamento.
“Nos anos mais recentes o tratamento da Infecção VIH/SIDA tornou-se muito robusto: temos regimes de elevada potência antiviral, muito eficazes e com excelente tolerabilidade. A simplicidade do tratamento é hoje a regra, com a maioria dos tratamentos com 1 comprimido por dia”, conclui a Dra Patrícia Pacheco.
A carga viral indetectável
Outro avanço fundamental no controlo da epidemia, foi a mudança do paradigma do início de tratamento. A partir de 2014 passou a efectuar-se o tratamento para todas as pessoas infectadas, independentemente da sua situação imunitária. Esta estratégia demonstrou ter benefícios em termos individuais e colectivos, reduzindo o risco de transmissão.
O objectivo do tratamento antirretroviral é de atingir a carga viral indetectável – isto significa que a quantidade de VIH no sangue é tão pequena que o teste não o conseguiu medir. Isto não significa que o vírus não exista no corpo, mas significa que o VIH está controlado. Este estado é importante na prevenção e no controlo da epidemia.
Segundo a directora do Serviço de Infecciologia do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, a descoberta de que a carga viral indetectável significa também intransmissível é uma vitória para a medicina e para as organizações que trabalham diariamente para a contenção do vírus: “Foi confirmado em diversos estudos, que uma pessoa infectada que esteja com carga viral suprimida de forma sustentada, não transmite a infecção por via sexual ao seu parceiro.”
Os avanços científicos no combate ao vírus do HIV foram extraordinários nos últimos 30 anos, permitindo aos portadores do vírus fazerem uma vida regular – acedendo a um tratamento simples de 1 comprimido por dia.
E se António Variações tivesse tido informação sobre a patologia e acesso a terapêuticas modernas? Se ele estivesse aqui, agora, como seria o seu concerto?