O advogado do Podemos diz ter sido afastado por ter denunciado irregularidades fiscais nas contas do partido. Em declarações ao El Mundo,  José Manuel Calvente diz ter detetado “irregularidades na proteção de dados” e “pagamentos por fora” a altos dirigentes do Podemos. Após ter denunciado o caso à Agência de Proteção de Dados, foi despedido com acusações de assédio sexual, acusa.

O conflito interno do Podemos chega a público numa altura em que o partido está a negociar uma solução de governo com o PSOE. A imprensa espanhola fala de um “terramoto interno”.

Questionado sobre as acusações que lhe são feitas pelo partido, José Manuel Calvente diz-se inocente e atira: “O Podemos tem um sistema interno para resolver questões laborais e não chegou qualquer denúncia contra mim ao comité. Ninguém me disse que tenho uma denúncia de uma colega de trabalho. As minhas testemunhas vão derrubar tudo isso. Ficaram loucos e estão malucos”, acusa ele ao El Mundo.

Segundo o advogado, essas acusações surgiram como justificação para o despedir depois de ter descoberto e denunciado que os membros do Podemos “roubaram um disco rígido para averiguar o que se sabe do partido, o que pode ser um delito de revelação de segredos”. E prossegue: “Queriam ceder dados pessoais a uma empresa externa para que se produzisse uma votação, queriam partilhar dados ilegalmente com outros partidos, cederam dados pessoais ao Facebook para a campanha eleitoral”, enumera o advogado.

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Suspeitas de fraude fiscal no Podemos

Uma das irregularidades que José Manuel Calvente diz ter detetado foi uma série de casos de “pagamentos por fora” a diversos funcionários do partido. Diz Calvente que a estrutura liderada por Pablo Iglésias tinha por hábito pagar a alguns funcionários “uns 900 euros ao mês, 600 declarados e o resto por fora. Os pagamentos ao tesoureiro e da gerência do Podemos teriam seriam feitos nesses moldes.

O agora ex-advogado do Podemos diz que ainda que existiam “pagamentos sem um orçamento aprovado” e que os dirigentes do Podemos “bloquearam o portal de transparência”, acusa.

Para o advogado, as acusações de assédio sexual foram fabricadas por Marta Flor, “que teve que ser afastada da equipa jurídica da Podemos por várias irregularidades que colocam em risco o trabalho do grupo”. José Manuel Calvente acusa a liderança do Podemos de proteger Marta Flor  “por motivos que não são compreendidos”: “Eles são uma máfia. O passo que estão a dar agora é fabricar provas falsas”, conclui.

A versão do advogado é confirmada por Mónica Carmona, responsável pela Conformidade Normativa e também ela de saída, que, numa carta enviada à liderança do Podemos e citada pelo El Confidencial, acusou: “O motivo da demissão do senhor José Manuel Calvente foi baseado em factos inventados e totalmente falsos”. E prossegue: “O despedimento disciplinar do Delegado de Proteção de Dados e a proposta da minha rescisão como responsável pela Conformidade Normativa é um ato grave de represália e possível coação porque estamos a investigar irregularidades graves do Podemos”.

O conflito interno do Podemos chega a público numa altura em que o partido está a negociar uma solução de governo com o PSOE. A imprensa espanhola fala de um “terramoto interno” que se consumou na última segunda-feira, quando José Manuel Calvente foi afastado do partido e Mónica Carmona decidiu despedir-se à conta disso. A versão do Podemos é que uma investigação interna foi aberta após a denúncia de uma trabalhadora que acusou o advogado de assédio laboral e sexual, como recorda o El Mundo.