Sara Furtado, a jovem que abandonou o filho recém-nascido no lixo, esteve institucionalizada durante 13 anos, em Cabo Verde. Segundo a RTP, a mãe, Manuela Correia, entregou dois dos três filhos à Aldeias Infantis SOS — um deles, Sara —, em 2002, porque não tinha possibilidades económicas de ficar com eles. Em 2008, veio para Portugal e só conseguiu reunir a família em 2017, quando Sara já tinha 19 anos. Agora, luta pela guarda do neto.

Em declarações ao programa “Sexta às 9”, Manuela Correia admitiu que entregou os dois filhos — Sara, à data com cinco anos, e o irmão de apenas cinco meses — porque ambos tinham problemas graves de saúde e precisavam de ser acompanhados por médicos. Mas a versão da associação Aldeias Infantis SOS é diferente.

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José Alcides Moreira, diretor casa de acolhimento, revelou que a 23 setembro 2002, recebeu uma denúncia com um pedido de ajuda para acolher as crianças. Na denúncia, era referido que as crianças viviam “num quarto que a mãe fecha de manhã para ir trabalhar, às 7h00, e volta às 15h50″. “A vizinhança reclama que às vezes a mãe recusa em deixar as crianças com eles. Estas crianças passam seis dias por semana num quarto fechado”, diz o relatório lido por José Alcides Moreira.

O pai das duas crianças registou-as, mas não as ajuda e parece que vive na Ilha do Sal. O segundo parceiro [da mãe] também não se preocupa com elas. Segundo a vizinhança, os pais da senhora Manuela são emigrantes, mas nunca se preocupam com ela”, lê-se no relatório de 2002.

A família, conta o diretor da Aldeias Infantis SOS, vivia numa casa que lhe tinha sido emprestada por “uma pessoa” que agora queria a casa de volta. Na altura, Manuela Correia teve uma oportunidade de emprego: ser empregada doméstica numa casa, com possibilidade de ficar lá a viver. No entanto, diz José Alcides Moreira, havia uma condição: Manuela Correia podia lá viver, mas apenas com um filho. A mulher acabou então por entregar Sara e o irmão à instituição.

Manuela Correia veio para Portugal em 2008, sem os dois filhos, mas com o objetivo de um dia trazê-los para junto de si. De acordo com a Aldeias Infantis SOS, a mãe foi sempre mantendo “contacto frequente” com Sara e com o irmão, com quem falava “com muita frequência”. Quatro anos depois, em 2002, enviou uma carta à associação a pedir ajuda para trazer os filhos para Portugal, assegurando que já tinha condições económicas. O que viria a acontecer em 2017, quando Sara, já com 19 anos, veio diretamente da instituição para Lisboa.

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A família garante que não sabia que Sara Furtado vivia na rua, muito menos que estivesse grávida, e que a jovem, que falava frequentemente com a mãe e com os irmãos, sempre lhes foi dizendo que tinha um trabalho e que vivia com o namorado. Sara Furtado encontra-se em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Tires, por suspeitas do crime de homicídio na forma tentada, por ter abandonado o filho recém-nascido num caixote do lixo.