A história do casal Sara Sá e Hélder Miranda, juntos há uma década, é a prova de que num ano a vida pode mesmo mudar. Ela trabalhava numa agência de comunicação, ele era diretor de marketing numa empresa de informática, mas em 2019 decidiram alterar todos os planos. “Sempre gostámos de yoga e de nos cuidar de uma forma mais holística, este espaço surge em resultado desse nosso caminho para um bem estar mais equilibrado”, começa por explicar Sara, em entrevista ao Observador.

Há sete anos que praticam yoga, mas nos últimos tempos a procura por essa forma de vida evoluiu e foi nas viagens à Ásia que o casal mais se cultivou e inspirou. “Sentíamos que estávamos a ser duas pessoas diferentes, pessoalmente e profissionalmente. Ganhámos uma responsabilidade social, reduzimos a nossa pegada e tornámo-nos mais conscientes, mas depois como profissionais fazíamos exatamente o contrário, pois o marketing e a comunicação estão sempre a promover o consumo”, conta Hélder Miranda.

A montra do Manna conta com o design de Miguel Moreira em colaboração do Xesta Studio e curadoria d’Ofício

Esta dupla, que trocou Braga pelo Porto há dez anos, não sentia coerência no seu quotidiano e esse “choque de valores” funcionou como um empurrão para arriscarem tudo. Em Bali tomaram a derradeira decisão, em maio regressaram a Portugal, despediram-se, venderam a casa, o carro e começaram a pensar num projeto que lhes fizesse mais sentido. “Quando decidimos mudar de vida equacionamos sair de Portugal e ir viver para a Ásia, mas adoramos o nosso país e achamos que merecia uma oportunidade. Tal como nós sentíamos falta de algo assim, poderia haver outras pessoas na mesma situação.”

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Juntos idealizaram um espaço “dedicado ao bem estar holístico”. “É o yoga que está na base do nosso conceito, dele deriva tudo o resto. Mesmo a nível de alimentação, temos em conta os princípios da prática. O yoga não é apenas as posturas físicas, é uma forma de estar mais ampla, que também se reflete na alimentação, na leitura, nas escolhas que fazemos.”

Na antiga morada de um alfaiate, encontramos agora um restaurante que é também um estúdio de yoga e de meditação, onde na montra, intervencionada pelo designer Miguel Moreira, lê-se Manna, o nome do negócio. “Esta palavra significa ‘aquilo que nutre’ e resume bem aquilo que queremos transmitir. Aqui podemos encontrar o que nos nutre a nível mental e espiritual.”

Hélder e Sara conheceram o espaço em bruto, “só tinha paredes”, por isso foram necessários três meses de obra para que tudo ficasse com o aspeto pretendido: uma sala de estar onde apetece ficar. Na decoração quase tudo é português, da madeira das mesas sem tratamento químico às fotografias de Maria Oliveira expostas na parede e disponíveis para venda. Há cadeiras altas, bancos corridos, plantas verdes e estantes repletas de objetos que fazem lembrar outros tempos, revistas e livros sobre fermentação, café, pão, meditação, yoga ou natureza.

Madeiras claras, fotografias a preto e branco e muitos verdes marcam decoração do espaço

A cozinha é visível a olho nu e dela saem pratos vegan e vegetarianos, com ingredientes locais, sazonais e orgânicos. “Toda a comida é feita aqui por produtores que conhecemos pelo nome, há uma relação muito próxima com eles”, garante Hélder Miranda. “Para evitar desperdícios, pedimos a todos os nossos produtores e fornecedores que nos avisem sempre que houver excedente de produtos, como frutas ou legumes. Tentamos adaptá-los à nossa carta e até repetir pratos.”

O café de especialidade vem da Nova Zelândia, os vinhos naturais são portugueses, a cerveja artesanal é produzida no Porto, os chás orgânicos são plantados em Vila do Conde e as bebidas ayurvédicas, como o matcha latte, o golden latte ou uma infusão de bolota, são receitas próprias da casa.

Ao pequeno-almoço destacam-se as papas de arroz integral com cardamomo e baunilha, fruta escalfada, manteiga de amêndoa e amêndoa tostada (5,50€), os ovos estrelados ou mexidos com pão de massa azeda de fermentação lenta (5,50€), a panqueca com manteiga de fruta, fruta fresca, amêndoa caramelizada e geleia ou humus, kimochi e salsa verde (6,50€) ou a granola de aveia, sementes, côco ralado, amêndoa, canela, rapadura e iogurte com fruta fresca (5,50€).

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O Dahl de lentilhas e ervilhas secas com arroz carolino português e chutney verde (9,50€), o torricado com gribiche, legumes assados, lascas de queijo curado e endro (9,50€), o caldo de cogumelos com cevada perolada, cogumelos, legumes, ovo e ervas (7€) ou os tubérculos assados com creme de feijoca, alho, limão, cogumelos marinados, azeite de sala e grão crocante (8€) compõem a carta do almoço. “Temos sopa disponível desde de manhã, há pessoas que comem sopa ao pequeno almoço, como eu, e em Portugal nunca conseguia encontrar uma sopa feita antes das 12h”, partilha Sara Sá.

No que toca aos doces a oferta varia todos os dias e na lista já passaram o bolo de banana com toffee de banana, o bolo de dióspiro com crumble salgado de amêndoas, o bolo de tangerina, amêndoa e sementes de papoila ou o bolo de pêra e amêndoa perfumado com água de rosas.

Nas traseiras do restaurante pode fazer yoga ou meditar, longe da confusão e com muita luz natural

Nas traseiras do restaurante existe uma sala de meditação para uso livre e um estúdio de yoga com capacidade para 15 pessoas, envidraçado e cheio de luz natural. Hatha, Asthanga ou Cosmic Flow são algumas variantes do yoga que aqui se praticam, cujas aulas são abertas a qualquer nível de experiência. Basta tirar os sapatos, estender o tapete e fechar os olhos. “A ideia é ter mais modalidades no futuro e que aulas funcionem durante todo o dia, em diferentes horários e em simultâneo com o restaurante”, sublinha Sara Sá.

Rua da Conceição, 60, Porto. 91 628 5608. Segunda, terça, quinta e sexta, das 8h30 às 18h30, sábado e domingo, das 9h30 às 17h.