A batalha entre Renault e Nissan está cada vez mais ao rubro. Sabe-se agora que, dias antes de ser afastado do cargo de CEO da Renault, do grupo francês e da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, a 11 de Outubro, Thierry Bolloré escreveu uma carta considerada explosiva à administração da Nissan, onde Bolloré também tinha assento. Nessa missiva, datada de 7 de Outubro, o gestor francês que substituiu Carlos Ghosn na liderança teceu acusações de gravidade extrema.
O conteúdo da carta enviada por Bolloré à Nissan foi tornado público pelo jornal Le Monde, onde o quadro francês começou por apontar alegados conflitos de interesse e de governance na Nissan, para depois acusar a investigação interna que permitiu suportar a acusação de Carlos Ghosn de tendenciosa, culminando com um apontar de dedo a cerca de 80 directores do construtor japonês que tinham acordos de pagamentos similares aos que motivaram o afastamento de Ghosn e a sua prisão domiciliária, desde Novembro de 2018.
A marca nipónica nunca explicou, de forma cabal, os motivos que a levaram a perdoar ao japonês Hiroto Saikawa, o CEO que serviu quando Ghosn era chairman, os mesmos acordos com o fabricante que levaram Carlos Ghosn para a prisão preventiva. E agora, com base nas acusações de Bolloré, tudo indica que há mais 80 quadros superiores com acordos similares, que visaram permitir à Nissan e aos funcionários fugirem aos impostos.
A divulgação pelo Le Monde da carta de Bolloré, recheada de acusações e de novas revelações, acontece no momento em que a Renault procura um substituto definitivo para o seu antigo CEO, lugar que é interinamente desempenhado por Clotilde Delbos.
A justiça nipónica vai ter de, um destes dias, finalmente julgar Carlos Ghosn, que já mantém preso preventivamente há mais de um ano. A isto, seguir-se-á o julgamento da Nissan por acusação movida pelo gestor francês, mas desta vez na Holanda, onde a sede da Aliança está instalada e todos esperam que decorra de forma mais célere e, alegadamente, menos tendenciosa.
Independentemente da forma como os processos se resolvam, faz cada vez mais sentido a solução avançada pelo analista da Bernstein, Max Warburton, que aconselhou o chairman da Renault, Jean-Dominique Senard a livrar-se da participação que mantém da Nissan, que pode ver aqui, apesar de na ocasião o tema vir a propósito da hipotética fusão com a FCA, que agora está a ser negociada com a PSA.