As manifestações na Índia contra uma lei sobre cidadania considerada discriminatória para os muçulmanos provocaram pelo menos seis mortos e dezenas de feridos, refere um último balanço divulgado esta terça-feira pelas autoridades.
Os protestos voltaram a eclodir esta terça-feira em várias cidades do vasto país asiático, com novos confrontos com a polícia em particular na capital Nova Deli. O movimento de contestação, de uma amplitude pouco habitual desde a chegada ao poder em 2014 dos nacionalistas hindus do primeiro-ministro Narendra Modi, decorre há uma semana na sequência da nova legislação.
O texto facilita a atribuição da cidadania indiana aos refugiados do Afeganistão, Bangladesh e Paquistão, mas na condição de que não professem a religião muçulmana. Na tarde de terça-feira, no bairro de maioria muçulmana de Seelampur, leste da capital, os disparos de gás lacrimogéneo encheram as ruas enquanto milhares de manifestantes lançavam pedras em direção às forças policiais, que segundo um habitante local tentaram dispersar previamente uma marcha de protesto.
Na cidade de Calcutá (capital de Bengala ocidental, leste), mais de 20.000 pessoas concentraram-se para um grande desfile na sequência do apelo de Mamata Banerjee, virulento adversário do chefe de Governo. “Não é senão o início do nosso movimento contra o CAA e o NRC”, referiu o chefe do executivo de Bengala ocidental, numa referência aos respetivos acrónimos da lei sobre a cidadania (“Citizenship Amendment Act”) e um controverso registo dos cidadãos (“National Registry of Citizens”).
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Este último texto já foi concretizado no Estado de Assam (nordeste), e poderá deixar dois milhões de pessoas apátridas. O poder nacionalista hindu pretende aplicá-lo em toda a Índia. Presente no cortejo de Calcutá, o realizador Gautam Ghosh considerou que a lei de cidadania terá como consequência a “divisão do país”. “Se o Governo federal tentar aplicar a lei, vai correr ainda mais sangue. As pessoas não vão aceitá-la”, afirmou em declarações à agência noticiosa AFP.
Outras manifestações foram registadas nos Estados de Querala e Tamil Nadu, no sul da Índia. Para o início da noite de hoje foi também agendado um protesto em Nova Deli. No decurso de um comício eleitoral no Jharkhand (leste), Narendra Modi acusou o Partido do Congresso (oposição) de “propagar a violência e criar um clima de medo”, e assegurou que a nova lei “não afetará qualquer cidadão”.
O CAA apenas se aplica às pessoas provenientes de países estrangeiros, mas para os críticos inscreve-se na vontade e na tendência geral dos nacionalistas hindus em marginalizar os muçulmanos na Índia.
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Nos últimos dias, as autoridades cortaram o acesso à Internet e utilizaram a força para dispersar as marchas e concentrações em várias regiões deste país de 1,3 mil milhões de habitantes. A contestação teve início na semana passada no nordeste do país, com a morte de seis pessoas e diversos tumultos, num momento em que o parlamento indiano examinava e aprovava o texto.
Os manifestantes desta região da Índia opunham-se à nova lei pelo facto de implicar um afluxo de refugiados hindus do vizinho Bangladesh para a sua região, conhecida pelo seu frágil equilíbrio intercomunitário. A mobilização registou um novo impulso este fim de semana, numa reação aos confrontos de domingo entre manifestantes e polícias na grande universidade Jamia Millia Islamia de Nova Deli.
As violências provocaram marchas de solidariedade em diversos complexos universitários do país na noite de domingo e na segunda-feira. No interior da universidade, e ainda em bairros circundantes, as forças de segurança dispararam gás lacrimogéneo e carregaram com bastões sobre a multidão, enquanto os manifestantes foram acusados de incendiar quatro autocarros e danificado viaturas.
De acordo com a direção da universidade, estes confrontos provocaram 200 feridos, sobretudo estudantes. A polícia de Nova Deli referiu-se apenas e 39 estudantes e 30 polícias feridos. “A violência contra os estudantes que se manifestam pacificamente não pode ser justificada em qualquer circunstância”, denunciou em comunicado Avinash Kumar, diretor da Amnistia Internacional para a Índia.