Para construir e equipar a sua Gigafactory 3, a fábrica chinesa deste construtor americano de veículos eléctricos, a Tesla viu-se obrigada a investir um total avaliado em cerca de 2 mil milhões de dólares, sensivelmente 1,8 mil milhões de euros. Um custo elevado para qualquer construtor, mas imenso para um pequeno e jovem fabricante como a Tesla que, como parte do acordo para construir a primeira fábrica chinesa pertença exclusiva de uma marca estrangeira, conseguiu um empréstimo da banca chinesa (com o necessário aval do Estado) de 1,4 mil milhões de dólares.

Mas se a Gigafactory 3 foi o maior caso de sucesso da Tesla, no capítulo das instalações fabris, por ter começado a produzir veículos apenas 10 meses depois de lançada a primeira pedra, a Gigafactory 4, a construir na Alemanha, promete ser um sucesso ainda maior. Tudo por uma questão de custos, pois tudo indica que alguém se prepara para pagar a conta resultante da construção da linha de produção a instalar nos arredores de Berlim.

A Gigafactory 4 vai acima de tudo fabricar os Tesla destinados ao mercado europeu, anulando assim os custos inerentes aos transportes (a partir dos EUA) e às taxas de importação para o mercado europeu, o que deverá ser coberto por um acordo que a Tesla fez com a FCA, o grupo italo-americano que está em vias de se fundir com a PSA. A FCA, através das suas marcas comercializadas no Velho Continente, sobretudo Fiat, Alfa Romeo e Jeep, está obrigada a respeitar o limite de 95g de CO2/km imposto por Bruxelas. Para isso, o grupo necessita de mais eléctricos e mais veículos electrificados, veículos que estão previstos surgir em força, mas não para o início de 2020, o que iria expor a FCA a pesadas multas. A solução encontrada passou pela aquisição de créditos de carbono à Tesla, que ao fabricar apenas modelos eléctricos tem uma média de 0g de CO2/km, pelos quais a FCA irá pagar cerca de 1,8 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 2 mil milhões de dólares, aproximadamente o custo da Gigafactory 4.

Para a FCA, esta operação foi considerada um bom negócio, permitindo ao grupo continuar a desenvolver os seus eléctricos e electrificados no timing que determinou ser o ideal (além dos PHEV da Jeep que vão começar a ser introduzidos no mercado durante 2020), em vez de sacrificar lucros futuros, ao tentar apressar a concepção e produção deste tipo de veículos, sendo deficitários no processo.

Para a Tesla, o benefício parece ser ainda maior, pois pode investir com os ganhos marginais que este tipo de acordo de vendas de créditos de carbono asseguram. Não tem de investir nem mais um dólar e usufrui de cerca de 2 mil milhões que não lhe custaram muito a ganhar. Mas isso não impede a Gigafactory 4 de não só fazer maravilhas à capacidade de produção global da Tesla (está previsto fabricar 500.000 veículos/ano na Alemanha), como permite à marca de Elon Musk passar a ser considerada um fabricante europeu – como acontece com a Ford na Europa, pertença da Ford americana –, com todas as vantagens fiscais que daí advêm.

Os 2 mil milhões de dólares pagos pela FCA deverão entrar na contabilidade da Tesla até 2023, a uma média de 150 a 200 milhões por trimestre.

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