Christopher Tolkien, filho do escritor inglês J.R.R. Tolkien, morreu na quarta-feira, na região da Provença, em França, aos 95 anos. Executor literário do seu pai desde a morte deste, em 1973, Christopher Tolkien foi responsável por todas as edições da obra de Tolkien nos últimos 47 anos e por dar a conhecer obras que são hoje essenciais para a compreensão e estudo do autor de O Senhor dos Anéis. A mais importante é talvez Silmarillion, um conjunto de histórias mitológicas da Terra Média organizado por Christopher Tolkien. O volume foi publicado pela primeira vez em 1977, depois de um trabalho de organização e compilação que lhe levou quatro anos.
O terceiro filho de J.R.R. Tolkien e da sua mulher, Edith Mary Bratt, Christopher nasceu em Leeds, a 21 de novembro de 1924. Como recordou a HarperCollins, responsável pela publicação das obras de Tolkien, numa reação à morte de Christopher, o seu trabalho de editor começou quando tinha cinco anos e começou a notar as inconsistências nas histórias que o pai lhe costumava contar na hora de deitar. Uma criança que ficava frequentemente doente, Christopher, que ficava muitas vezes em casa, desenvolveu uma estreita relação com o seu pai, que lhe costumava ler os textos em que estava a trabalhar. Por cada erro que conseguiu encontrar em O Hobbit, a primeira obra que Tolkien publicou, o pai deu-lhe dois pences. Christopher costumava dizer que cresceu no mundo da Terra Média.
Christopher Tolkien passou a infância em Oxford, onde começou por frequentar a faculdade antes de se alistar, durante a Segunda Guerra Mundial, na Força Aérea britânica, sendo colocado na África do Sul para o treino. Já nessa altura o pai lhe chamava “o meu principal crítico e colaborador”. Depois do fim da guerra, concluiu os estudos, tornando-se professor na Universidade de Oxford de Inglês Antigo e Médio e de Islandês Antigo, línguas em que o seu pai era também especialista. Tal como ele, Christopher era um dedicado leitor e passou boa parte da sua vida rodeado por livros.
O cartógrafo da Terra Média e o primeiro grande estudioso de Tolkien
Tornou-se oficialmente o executor literário de Tolkien e responsável por todas as edições das suas obras em 1975, embora tenha começado a trabalhar com os manuscritos deixados pelo pai logo após a sua morte, em 1973. Tolkien publicou apenas quatro livros passados no mundo ficcionado da Terra Média — O Hobbit e a trilogia de O Senhor dos Anéis. Todos os outros foram publicados postumamente por Christopher, a começar por Silmarillion, a grande obra mitológica em que Tolkien trabalhou toda a vida e que deixou inacabada.
O trabalho de edição levou-lhe quatro anos. Quando foi publicado, Silmarillion atingiu imediatamente o número um da tabela de vendas do Reino Unido e foi bestseller internacional. É ainda hoje considerado uma das obras mais relevantes de Tolkien e fundamental para compreender o mundo criado pelo escritor. “Sem Cristopher, teríamos muito pouco conhecimento sobre como Tolkien criou esta mitologia e o seu conjunto de lendas”, apontou Thomas Shippey, especialista no autor inglês, de acordo com o The New York Times.
“Os estudos sobre Tolkien não seriam o que são hoje sem o contributo de Christopher Tolkien”, disse por sua vez Dimitra Fimi, citada pela Tolkien Society. “Desde a edição de Silmarillion à tarefa monumental de nos dar a série História da Terra Média, ele revelou a grande visão do seu pai de uma mitologia rica e complexa. Ele deu-nos uma janela para o processo criativo de Tolkien e comentário académico que enriqueceu o nosso conhecimento da Terra Média. Ele foi o cartógrafo da Terra Média e o seu primeiro estudioso.”
Christopher deixou Oxford em 1975 para se dedicar exclusivamente às 70 caixas de material por publicar que o seu pai deixou. Mudou-se para França e foi nesse país que passou o resto da sua vida. Vivia atualmente na zona da Provença com a segunda mulher, Baillie Klass, editora do volume Cartas do Pai Natal. Christopher supervisionou a publicação de 24 edições, incluindo os 12 volumes da História da Terra Média. A última, A Queda de Gondolin, saiu em 2018. O livro — uma história que Tolkien começou a escrever em 1916 quando estava no exército — está publicado em Portugal pela Planeta.
Charlie Redmayne, diretor-executivo da HarperCollins, lembrou que “Christopher era um curador devorado do trabalho do seu pai e a popularidade intemporal e contínua do mundo que J.R.R. Tolkien criou é testemunho das décadas que passou a levar a Terra Média a várias gerações de leitores. O homem mais encantador e um verdadeiro cavalheiro, foi uma honra e um privilégio conhecê-lo e trabalhar com ele”.
Artigo atualizado às 12h22 de 17 de janeiro de 2020