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Muito antes dos Sussex, Arthur foi o primeiro príncipe inglês no Canadá

Este artigo tem mais de 4 anos

Há mais de 100 anos, Arthur foi um verdadeiro fenómeno de popularidade do outro lado do Atlântico e chegou a ser nomeado governador-geral do Canadá. Afinal, os Sussex não inventaram o sonho canadiano.

Foi o sétimo filho da rainha Vitória, foi governador-geral do Canadá e morreu aos 91 anos, durante a II Guerra Mundial. A história do príncipe Arthur
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Foi o sétimo filho da rainha Vitória, foi governador-geral do Canadá e morreu aos 91 anos, durante a II Guerra Mundial. A história do príncipe Arthur

Corbis via Getty Images

Foi o sétimo filho da rainha Vitória, foi governador-geral do Canadá e morreu aos 91 anos, durante a II Guerra Mundial. A história do príncipe Arthur

Corbis via Getty Images

Mais de um século depois, as motivações de Harry não serão as mesmas que levaram o príncipe Arthur, duque de Connaught e Strathearn, a mudar-se para o Canadá. Os Sussex aspiram a uma vida normal, sem os sobressaltos causados pela relação litigiosa com os tabloides britânicos, e livre da pesada agenda de compromissos reais em terras de sua majestade. O Megxit parece estar no bom caminho, pelo menos na perspetiva de Harry e Meghan. A rainha acedeu ao pedido do neto — que envolve um passo atrás nas obrigações para com a coroa e a autonomia financeira — e admitiu a existência de um período de transição, exercício logístico que continua à espera de ser resolvido.

Em 1911, Arthur foi o primeiro (e até hoje o único) príncipe a ocupar o cargo de governador-geral do Canadá. Atualmente, o representante da rainha em solo canadiano é escolhido pelo primeiro-ministro do país e depois alvo de uma nomeação formal por parte da monarca. Um cenário impensável nos dias que correm, depois de o século XX ter servido para afastar gradualmente este cargo representativo da aristocracia britânica. Ainda assim, entre Arthur e Harry há coincidências inegáveis. Separados por cinco gerações (Arthur foi irmão de Eduardo VII, tetra avô de Harry), partilham uma carreira militar, bem como a fraca probabilidade de um dia chegarem ao trono.

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O filho favorito da rainha Vitória

Arthur nasceu a 1 de maio de 1850, partilhando a data de nascimento com um dos seus padrinhos, o duque de Wellington. Foi o sétimo dos nove filhos da rainha Vitória e do príncipe Albert — o terceiro rapaz — e há mesmo quem defenda a tese de que terá sido o favorito da histórica monarca. Aos 16 anos, ingressou na carreira militar. Em 1890, já o percurso nas forças armadas britânicas o precedia, com serviços na África do Sul, Irlanda e Egito e umas quantas distinções.

O primeiro aniversário do príncipe Arthur, a 1 de maio de 1851. O príncipe ao colo da rainha Vitória, com o príncipe Albert ao lado, e a receber um presente do duque de Wellington © Rischgitz/Getty Images

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É nesse período que se dá a primeira passagem pelo Canadá, na viragem dos anos 60 para a década de 70 do século XIX. Arthur caiu nas boas graças dos canadianos, frequentando festas e tornando-se uma presença desejada em festas e bailes e foi agraciado com as mais diversas nomeações. Lady Lisgar, mulher do então governador-geral do Canadá, terá escrito diretamente à rainha Vitória afirmando o desejo dos canadianos de que o filho ocupasse um dia o cargo.

Mas o príncipe, que acumulou também os títulos de 1º duque de Connaught e Strathearn e de 1º conde de Sussex, acabaria por embarcar para a Índia e, mais tarde, por regressar ao Reino Unido. Casou em março de 1879, precisamente na Capela de São Jorge, em Windsor, com a princesa Louise Margaret da Prússia, sobrinha-neta de imperador alemão Wilhelm I.

Fotografia do príncipe em criança © Google Art Project

Google Art Project

Tiveram três filhos — a princesa Margaret, nascida em janeiro de 1882 e que viria a casar com o rei Gustaf VI Adolf da Suécia, o príncipe Arthur, nascido um ano depois, e a princesa Patricia, nascida em março de 1886. O príncipe acabaria por sobreviver ao resto da família, à exceção da filha mais nova, que morreu aos 87 anos, já em 1974. Durante anos, Arthur terá mantido uma relação extraconjugal com Lady Leslie, tia materna do primeiro-minitro britânico Winston Churchill.

Arthur, um príncipe no Canadá

Em 1893, ainda antes de completar 43 anos e já depois de uma segunda passagem pelo Canadá, acompanhado pela mulher, Arthur foi nomeado general. Em 1906, já após a morte da rainha Vitória, o príncipe voltou ao Canadá numa nova visita. Em 1911, é nomeado governador-geral do Canadá, cumprindo assim um destino que lhe parecia ter sido traçado há décadas. O príncipe tinha, na altura, 60 anos, mudando-se nesse mesmo ano para aquela que continua a ser hoje a residência oficial do representante da coroa em solo canadiano, Rideau Hall, em Ottawa.

O príncipe aos 18 anos © Hulton Archive/Getty Images

A presença de um descendente direto da coroa em Rideau Hall não era inédita. Entre 1878 e 1883, o cargo havia sido ocupado pelo duque de Argyll, marido da princesa Louise, irmã mais velha de Arthur. A estadia daquela que é tida como a filha rebelde da rainha Vitória em Ottawa não foi pacífica. Louise terá tido dificuldades em adaptar-se à cidade, sofrido com saudades de casa e ainda visto a sua vida dificultada por um acidente de trenó. Ainda assim, a princesa foi uma importante apoiante das artes e da educação feminina em solo canadiano. Em Alberta, existe hoje o Lago Louise, batizando em sua homenagem.

Já o irmão, Arthur, adaptou-se muito melhor à vida do outro lado do Atlântico. Levou consigo a mulher e a filha mais nova, Patricia, figura que rapidamente se tornou popular no Canadá e que chegou a ver o seu rosto estampado nas notas de um dólar. Tinha 25 quando o pai assumiu o cargo e é recordada, até hoje, como a primeira princesa moderna da família real britânica — trabalhou, foi apoiante do movimento sufragista e casou por amor com um oficial da marinha, ignorando um extenso rol de pretendentes das principais casas reais europeias.

O príncipe e a mulher, a princesa Louise Margaret da Prússia © Reichard & Lindner via Getty Images

ullstein bild via Getty Images

Em Rideau Hall, a família recebia a elite da cidade, sobretudo para patinar. O campismo, a pesca e a caça eram atividades fomentadas pelos duques de Connaught e Strathearn. Mas o ambiente muda em 1914 com o eclodir da Primeira Guerra Mundial. O príncipe tornou-se parte ativa na preparação das forças armadas canadianas, chamadas a combater em nome do rei, envolvimento que terá merecido várias críticas de Robert Borden, o então primeiro-ministro do Canadá, que terá mesmo acusado o príncipe de nunca ter compreendido as suas limitações enquanto governador-geral. Enquanto isso, a mulher trabalhou para a Cruz Vermelha. O mandato terminou em 1916 e a família não esperou pelo fim da guerra para regressar a Inglaterra.

O príncipe retratado por Philip Alexius de Laszlo n final dos anos 30 © Print Collector/Getty Images

A duquesa morre em março de 1917, já em Londres. Em 1921, viúvo e depois de perder também a filha mais velha, Arthur viaja até à Índia em representação do rei Jorge V. O último ato oficial terá sido em novembro de 1934. Não há registos de que tenha regressado ao Canadá. O príncipe morreu a 16 de janeiro de 1942, com 91 anos. Foi o penúltimo filho da rainha vitória a morrer. A princesa Beatrice, sua irmã mais nova, morre dois anos depois.

Os Sussex e uma nova vida normal

Para Meghan Markle, a primeira a regressar a Vancouver, depois de uma visita ao estilo toca e foge a Londres, a vida não podia ser mais pacata. Instalada numa mansão avaliada em 14 milhões de dólares, a duquesa de Sussex (sim, tudo leva a crer que o título de mantém) visitou um abrigo de mulheres esta semana e já foi avistada ao volante de um Land Rover para ir buscar uma amiga, a guru de pilates Heather Dorak, ao aeroporto — a mais perfeita das normalidades, portanto.

As amizades terão certamente pesado na hora de escolher um destino para assentar. Jessica Mulroney é considerada a melhor amiga de Markle, além de ter sido uma peça chave no planeamento do casamento dos Sussex, em maio de 2018. Vive no Canadá, onde as duas se conheceram quando Meghan começou a gravar a série “Suits”, em Toronto. Uma vez na costa oeste da América do Norte, a ex-atriz fica mais perto da mãe, que reside na Califórnia, mas também de amigos como Janina Gavankar, a autora da fotografia de Natal dos Sussex.

O príncipe Harry fotografado a 16 de janeiro no Palácio de Buckingham © ADRIAN DENNIS/AFP via Getty Images

AFP via Getty Images

Foi também neste país que Harry e Meghan apareceram pela primeira vez juntos em público, em setembro de 2017 — ela gravava a série, ele cumpria o papel de patrono dos Invictus Games, um evento anual de provas desportivas para feridos de guerra. Para já, espera-se que o casal esteja dividido entre os dois continentes. Enquanto isso, há especialistas que já especulam sobre qual (e onde) será a morada definitiva dos Sussex em solo canadiano. Victoria, cidade no extremo sul da ilha de Vancouver, é uma das opções mais unânimes, por ficar na área onde já se instalaram, mas também por ser um dos símbolos da herança britânica no país.

Ainda estamos em janeiro, e o Megxit já é seguramente um dos casos mediáticos do ano no Reino Unido. Mas a mudança dos Sussex para o Canadá — que pode ser parcial, mas já provocou um corte no pessoal que serve o casal em Frogmore Cottage –, levanta uma série de outras questões no país que agora se prepara para receber estes membros da realeza, incluído o sexto e o sétimo na linha de sucessão ao trono britânico. A segurança tem sido uma das mais discutidas. “Há conversas a acontecer”, reagiu o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, ainda durante esta semana, depois de o seu ministro das Finanças ter afastado a possibilidade de o governo do Canadá assegurar essa despesa. Falamos de uma fatura que poderá rondar os sete milhões de euros anuais, segundo a estimativa de um consultor de segurança em declarações ao jornal canadiano The Globe and Mail, e que incluiria guarda-costas, veículos, vedações e vigilância em redor da residência do casal.

No início do ano, os duques de Sussex visitaram a Canada House em Londres © DANIEL LEAL-OLIVAS - WPA Pool/Getty Images

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Por outro lado, a questão da cidadania. O mesmo jornal antecipa dois desfechos possíveis — um passará pelos trâmites legais, aos quais se submete qualquer imigrante recém-chegado ao país, outro dependerá do ministro da Imigração, que poderá sempre, num ato excecional, atribuir a Harry, Meghan e Archie o direito de residência permanente.

Do ponto de vista político, a ida de membros da família real para o Canadá poderá revelar-se polémica e reacender questões em torno da distinção entre as monarquias britânicas e canadiana — duas instituições distintas, porém encabeçadas pela mesma pessoa, Isabel II. O mesmo acontece noutros membros da Commonwealth, como é o caso da Austrália e da Nova Zelândia, onde a monarca ocupa a posição de figura de chefe de estado. Contudo, os títulos aristocráticos do resto da família não têm qualquer validade em solo canadiano — o país não os reconhece –, o que não significa que um membro da família real não possa visitar o Canadá na qualidade de representante da soberana. No caso, Harry e Meghan foram os primeiros a afirmar que, mesmo à distância, queriam continuar a honrar os seus deveres para com a rainha.

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