Antes de partir para a Síria e juntar-se ao Estado Islâmico (EI), em 2013, a “noiva” (que ainda não foi identificada) vivia nos subúrbios da cidade de Oslo, no seio de uma família norueguesa/paquistanesa, jogava futebol e frequentava a universidade. Já em território sírio, no autoproclamado “califado” (um território no qual o EI instaurou a sua própria administração), casou com dois extremistas, ambos mortos em combate, e foi mãe de duas crianças — um rapaz, de 5 anos, e uma rapariga, de 3 anos.
Por motivos humanitários — um dos filhos está doente — viu o seu regresso à Noruega, este fim-de-semana, autorizado. A chegada da “noiva” fez espoletar um debate interno e ameaça abrir uma crise política no bloco governamental, com o Partido do Progresso (uma formação de tendência xenófoba) a discordar do regresso da jovem, por se tratar de uma “terrorista” e estar acusada de crimes puníveis até seis anos de prisão, segundo notícia da Reuters. “Ela detesta tudo o que nós representamos. Fez parte de uma organização extremista que espalhou o terror com decapitações, execuções em massa, sequestros e violações. Não queremos cá pessoas destas nem queremos que as autoridades norueguesas gastem recursos com ela”, assumiu Jon Engen-Helgheim, porta-voz do partido de extrema-direita, liderado por Siv Jensen, responsável pela pasta das Finanças.
Por enquanto, a jovem, de 29 anos, está detida por motivos de “segurança nacional” até ser presente a tribunal. As crianças estão a ser vigiadas no Hospital de Oslo.
Já Erna Solberg, a primeira-ministra da Noruega, e líder do Partido Conservador, optou por salientar à comunicação social a importância da criança doente “ter a oportunidade de receber tratamento médico na Noruega”, numa reação claramente oposta à do Partido do Progresso. O atual mal-estar entre as duas principais forças políticas no governo já teve efeitos práticos: a ministra das Finanças renunciou ao cargo e fez saber que concorda com os cuidados médicos oferecidos à criança, mas não com o apoio do Estado norueguês aos adultos com ligações a grupos extremistas. A saída de Siv Jensen é o ponto final na maioria parlamentar mas Erna Solberg, apesar deste revés, já prometeu que vai continuar a liderar o novo governo minoritário.
Apesar de negar todas as acusações relacionadas com terrorismo, o advogado da jovem, Nils Christian Nordhus, admitiu que ela está disponível para colaborar com as autoridades. “Esta mulher quer lidar com o que fez no passado. Cabe aos procuradores provar a sua participação em ações terroristas ou de combate. A verdade é que este caso se resume ao facto de ela ter estado na Síria e ter conhecido pessoas que estavam envolvidas em organizações terroristas”, assumiu o jurista, que, no entanto, preferiu não responder se a sua cliente está ou não radicalizada.
Estima-se que doze mil estrangeiros continuem detidos em campos de refugiados sírios, incluindo 8700 crianças de mais de 40 nacionalidades, segundo dados da associação internacional Save the Children.