Desde 2009 que José Carlos de Castro Paiva, angolano próximo do antigo presidente José Eduardo dos Santos e da filha Isabel dos Santos, entre 1987 e 2012 diretor-geral da filial da Sonangol no Reino Unido e desde então seu administrador não executivo, está sob o radar da Polícia Federal brasileira. Em causa estão dois empreendimentos de luxo construídos no estado nordestino da Paraíba, acreditam as autoridades brasileiras, com dinheiro desviado desde a petrolífera angolana através de uma intrincada teia de empresas sediadas em paraísos fiscais — e com o envolvimento da própria Isabel dos Santos.

De acordo com a Agência Pública, que teve acesso à investigação das autoridades brasileiras, terão sido pelo menos 19,5 os milhões de euros desviados pelo angolano e reinvestidos em dois empreendimentos imobiliários de luxo na Paraíba: o Mussulo, composto por mais de 100 bungalows e inaugurado em 2009 no litoral sul, e o Solar do Tambaú, com 130 apartamentos, à beira-mar em João Pessoa, a principal cidade do estado. O primeiro terá custado 20 milhões de reais (4,3 milhões de euros), o segundo 70 milhões de reais (15,2 milhões de euros).

José Carlos de Castro Paiva é suspeito de ter desviado 19,5 milhões de euros da Sonangol para a construção de dois empreendimentos imobiliários de luxo no Brasil

A investigação contra o angolano, que desde 1999 também terá tido um papel de relevo no Banco Angolano de Investimento (BAI), entretanto encaminhada para o Ministério Público Federal, aponta para os crimes de “peculato, desvio de verbas, gestão fraudulenta de instituição financeira e lavagem de dinheiro”, estando o processo a decorrer e em segredo de justiça, acrescenta a agência de jornalismo brasileira.

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Apesar de já estar a investigar a origem das verbas de Castro Paiva desde 2009, só em 2017, aquando da inauguração do segundo empreendimento de luxo na Paraíba, é que a Polícia Federal conseguiu um mandado de busca e apreensão em nome do angolano. Foi na cama de um hotel em João Pessoa, na companhia de uma mulher não identificada e apenas de toalha enrolada à volta da cintura, que José Carlos de Castro Paiva foi surpreendido pelas autoridades.

As mensagens que guardava no WhatsApp foram, ainda assim, mais reveladoras e expuseram um estilo de vida sumptuoso e “regado a champanhe francês Moët & Chandon”, bem como ligações próximas a altas figuras angolanas, nomeadamente ao antigo vice-presidente de José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente; a altos quadros do BAI (de que, de acordo com uma investigação do Senado americano em 2010, deteria aliás 18,5% das ações, através de empresas offshore); e até a um operador financeiro investigado pelo Senado dos Estados Unidos.

A sua agenda e outros documentos apreendidos fizeram o resto e revelaram o trajeto do dinheiro, desde Angola até à Paraíba, através do banco cabo-verdiano Sul Atlântico, com passagem por várias empresas sediadas em paraísos fiscais como Dominica, Ilhas Virgens Britânicas e Maurícias. No final da viagem, estava a GBF Empreendimentos Imobiliários e de Turismo, empresa por sua vez propriedade do português João Carlos Guerra Alves Pina Ferreira.

De acordo com a investigação, explica a Agência Pública, Pina Ferreira, empreiteiro com morada em João Pessoa e sócio maioritário sócio da empresa Mussulo Ltda, será um “personagem-chave no esquema angolano”. Leonard Cathan, proprietário da offshore Geneva Wealth Capital Management, e descrito pela Polícia Federal como “um especialista em transações financeiras para ocultação de património”, será outro.

O facto de o resort Mussulo estar atualmente encerrado reforçará ainda mais, de acordo com a investigação, a tese de “lavagem de dinheiro”. Pouco mais de uma década depois da inauguração, o luxuoso empreendimento de 96 mil metros quadrados com piscinas, spa e sauna, que chegou a ser descrito pelas agências de viagens como “paraibadisíaco”, está ao abandono, multiplicando-se na internet as queixas de turistas que alegadamente pagaram estadias que depois foram canceladas — sem que os valores pagos antecipadamente lhes tivessem sido devolvidos.