O despejo dos habitantes que vivem perto do aeroporto de Abidjan começou esta quinta-feira para a criação de um perímetro de segurança, após a descoberta no dia 8 do corpo de uma criança no trem de aterragem de um avião.

Apoiados por um significativo dispositivo policial, os bulldozers começaram por destruir as áreas a oeste do aeroporto, arrasando a vila de Aérocanal onde vivem centenas de habitantes, informou a agência France-Presse.

“ADO (Alassane Dramane Ouattara, presidente da Costa do Marfim) deixou-nos ao sol! Ele disse ‘um cidadão, um teto’, mas vamos dormir debaixo de uma árvore”, ironizou Romaric Gantemon, que morava numa casa que foi arrasada. Segundo o morador, o seu pai “comprou a casa há cerca de 15 anos a um chefe Ebrié (de uma etnia local)”.

A vila agora destruída foi erguida no direito de passagem do aeroporto, em terrenos públicos onde não é permitida a construção.

O solo está cheio de restos de muros e de telhados de chapa. Debaixo das árvores, os habitantes observam as retroescavadoras em ação. Ao seu lado, pilhas de roupa, uma máquina de costura e uma bilha de gás, cadeiras de plástico e colchões de espuma tirados das casas.

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Na segunda-feira, eles [os funcionários] disseram que iriam destruir apenas as casas junto à estrada, mas estão a destruir toda a vila. Deram-nos duas horas para tirar os haveres”, afirmou Innocent Dembele, 32 anos, um segurança que vivia com 15 pessoas. E, citado pela agência noticiosa, acrescentou: “Perdemos tudo. Não temos dinheiro para outra casa”.

A morte do jovem Laurent Barthélémy Ani Guibahi, encontrado em 8 de janeiro no trem de aterragem de um avião em Roissy, emocionou o país, mas alguns manifestaram também a sua preocupação com as medidas de segurança de um aeroporto situado num país sob ameaça jihadista.

De acordo com provas preliminares, a criança de 14 anos subiu um muro no aeroporto e depois agarrou-se às rodas do avião pouco antes da descolagem.

Na semana passada, as autoridades anunciaram “a criação de um perímetro de segurança, uma faixa de 200 metros” em redor da cerca do aeroporto para evitar novas invasões da pista.

Milhares de pessoas serão expulsas das áreas que estão a ser arrasadas. O distrito de Adjouffou tem cerca de 25 mil habitantes, escolas, lojas e locais de culto.