As forças governamentais sírias entraram esta terça-feira na cidade estratégica de Maaret al-Noomane, no noroeste do país, em poder de jihadistas e rebeldes, e o regime avisou que pretende reconquistar também Idlib, apesar de a Turquia ter garantido que reagirá. Maaret al-Noomane é a segunda maior cidade da província de Idlib, e está localizada na via que liga Alepo, uma grande cidade do norte da Síria, à capital do país, Damasco, um eixo que o regime de Bashar al-Assad tem tentado proteger.
“As forças do regime entraram em Maaret al-Noomane, os combates estão a acontecer no setor ocidental da cidade”, de onde já fugiram quase todos os habitantes, disse esta terça-feira o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). O regime de Bashar al-Assad adiantou ainda ter intenção de recuperar Idlib, região que, em conjunto com os territórios adjacentes das províncias de Alepo, Hama e Latakia, continua a ser dominada pelos jihadistas Hayat Tahrir al-Cham (HTS), o antigo ramo sírio da Al-Qaida.
A Turquia reagiu ao anúncio, alertando que responderá a qualquer ataque aos seus postos de observação na província de Idlib. “Responderemos sem hesitação e em legítima defesa a qualquer ameaça aos postos de observação turcos na região”, alertou o Ministério da Defesa em comunicado divulgado em Ancara.
O ministério acusou o regime sírio de violar um cessar-fogo que deveria estar em vigor em Idlib desde 12 de janeiro, “continuando a matar civis inocentes” e causando “um enorme drama humanitário”. A Turquia anunciou no final de dezembro que não se retiraria dos seus postos de observação na região de Idlib, onde as forças de Damasco, apoiadas pela força aérea russa, intensificaram os bombardeamentos desde 16 de dezembro.
O exército turco, que defende os rebeldes, está destacado em 12 postos de observação de Idlib, segundo um acordo concluído em setembro de 2018 com Moscovo, aliado do regime sírio. Este acordo pretendia evitar uma ofensiva do governo de Damasco à região, a última grande fortaleza rebelde e jihadista na Síria, dominada pelos Hayat Tahrir al-Cham e onde vivem três milhões de pessoas.
As forças de Damasco cercaram um desses postos turcos em 23 de dezembro, depois de recuperar o terreno na região, de acordo com o OSDH. A província de Idlib foi palco de uma grande ofensiva entre abril e agosto de 2019, que matou quase mil civis, lembrou o Observatório Sírio. A situação foi o tema de uma reunião realizada na segunda-feira em Damasco, entre o Presidente Al-Assad e o enviado especial russo para a Síria, Alexander Lavrentiev.
Segundo avançou a Presidência síria, ambos enfatizaram “a importância das operações” realizadas “com apoio russo” face a “ataques terroristas” de jihadistas e rebeldes contra áreas do governo. Os combates nos últimos dias também atingiram Saraqeb, localizada a cerca de 30 quilómetros a norte de Maaret al-Noomane, que também se situa no eixo que liga Alepo a Damasco.
O conflito na Síria, iniciado em março de 2011 com a repressão de manifestações pró-democracia por Damasco, deixou mais de 380.000 pessoas mortas e fez milhões de pessoas deslocadas e refugiadas.