António Pires de Lima pediu, mas não teve sorte: o CDS vai manter na sua direção Abel Matos Santos, que com a ascensão de Francisco Rodrigues dos Santos a líder tornou-se vogal da nova comissão executiva dos centristas. O dirigente é autor de várias declarações polémicas, tendo publicado no seu Facebook — como revelou o Expresso — elogios à PIDE e a Salazar e uma crítica a Aristides de Sousa Mendes, a quem chamou  “agiota de judeus”.

Depois da revelação dos comentários polémicos de Abel Matos Santos, que se mantinham disponíveis e abertos na sua conta pessoal de Facebook (foram entretanto ocultados, revelou o Expresso), o antigo vicepresidente do partido, António Pires de Lima, veio pedir a saída do dirigente, desafiando o CDS a retirar-lhe “confiança política”. O CDS, contudo, não o fará. Num comunicado enviado esta sexta-feira aos meios de comunicação, diz mesmo que a revelação das declarações de Matos Santos no seu Facebook pelo Expresso teve o intuito de prejudicar os centristas.

Segundo o comunicado, assinado por toda a comissão executiva (isto é, direção) do partido, as afirmações de Abel Matos Santos são “antigas”, algumas têm “mais de dez anos” e só foram noticiadas “com o firme propósito de prejudicar todo o CDS”. Para a direção do partido, houve um “rótulo ignóbil” que “quiseram colar” ao dirigente.

CDS. Um dos novos dirigentes elogiou a PIDE e Salazar. E acusou Aristides Sousa Mendes de ser “agiota de judeus”.

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A direção presidida por Francisco Rodrigues dos Santos, que no último fim-de-semana sucedeu a Assunção Cristas como presidente do partido, defende ainda que o programa da direção “posiciona o CDS como a fronteira de todos os extremismos e como porto seguro dos valores da democracia cristã” e que “no CDS não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o anti-semitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”.

A nova comissão executiva do partido refere ainda que a adesão “sem reservas” de Abel Matos Santos “à moção que venceu o congresso” — apresentada por Francisco Rodrigues dos Santos, que Matos Santos decidiu apoiar à última hora, não levando a sua a votos —   mostra um “esforço de unidade, compromisso e pluralismo” desejável nas várias fações centristas.

O CDS lembra ainda que o dirigente e fundador da tendência (e fação conservadora do CDS) TEM – Tendência Esperança em Movimento, “tem desempenhado, no CDS, diversos cargos a nível local e a nível nacional” e “é autarca em Lisboa, eleito nas listas do Partido”.

[Oiça aqui o discurso de Abel Matos Santos na apresentação da sua moção de estratégia global, no Congresso do CDS, que retirou horas depois para anunciar o apoio a Francisco Rodrigues dos Santos:]

“Não podemos continuar com a cabeça enfiada na areia”. O discurso de Abel Matos Santos

“Não sou nem nunca fui anti-semita, xenófobo ou racista”, diz Abel Matos Santos

Além de recordar o passado do polémico vogal, a direção do CDS revela que Abel Matos Santos enviou uma carta ao Representante da Comunidade Israelita de Lisboa, José Oulman Carp. Na missiva, enviada também ao Observador, o dirigente lamenta o “desconforto” causado “na comunidade judaica”, que diz muito “respeitar e prezar”, pelas palavras que proferiu “há anos atrás”. Diz, no entanto, que estas foram “oportunisticamente descontextualizadas e manipuladas com lamentáveis propósitos de aproveitamento político-partidário”.

Com efeito, pese embora a escolha pouco feliz da formulação usada, procurava justamente questionar, com base em literatura então publicada, as reais motivações de Aristides de Sousa Mendes, intenções essas que, reconheço sem esforço, são absolutamente irrelevantes face às vidas preciosas que logrou salvar”, aponta Matos Santos na carta enviada a José Oulman Carp.

Na missiva, o centrista faz ainda uma espécie de carta de apresenção com algumas garantidas: “Não sou, nem nunca fui, anti-semita, xenófobo ou racista. Sou convictamente, por formação humana, um adversário político do anti-semitismo e do negacionismo. Abomino qualquer sombra que possa ameaçar o continente europeu de o fazer voltar ao horror e à tragédia de 1939/45. Tenho orgulho na matriz judaico-cristã do meu país”.

Abel Matos Santos não é o único autor de declarações polémicas entre os membros da nova direção centrista. A nova comissão executiva de “Chicão” tem inclusive um vicepresidente, Miguel Barbosa, que em 2002 anunciou que ia pedir ao Governo Civil que impedisse qualquer desfile no âmbito da Semana do Orgulho Gay, que estava a ser planeado para o Porto. “Não é com desfiles ordinários que se consegue seja o que for”, disse na altura. Miguel Barbosa afirmou ainda na época que “a sexualidade de cada um é assumida na intimidade e no recato do lar” e classificou a homossexualidade como “uma doença que não é normal”.

Um ‘vice’ acusado de homofobia, poucas mulheres e a tentativa de união. As polémicas da nova direção do CDS