Dez garimpeiros, entre os quais nove moçambicanos e um zimbabueano, morreram soterrados no desabamento de uma mina de ouro clandestina, no Centro de Moçambique, disseram esta sexta-feira à Lusa autoridades e testemunhas.

A mina fica em Mutsinza, distrito de Manica, província com o mesmo nome, onde uma parede de terra cedeu pelas 21h locais (19h em Lisboa) de quinta-feira, cinco horas depois de um grupo de garimpeiros ter iniciado clandestinamente a exploração de ouro numa mina da empresa Explorator, de capitais australianos.

O grupo tinha conseguido aceder a uma bacia aberta para a mineração, após subornar com 1.000 meticais (14 euros) a força de segurança estatal, que protege a concessão. “Estávamos a cinco metros de profundidade quando a parede desabou e tapou as pessoas”, disse à Lusa, Luís Jone, um sobrevivente.

Eu escapei por pouco, porque a terra não me cobriu totalmente”, acrescentou, tendo depois buscado pelo socorro.

Martinho Manasse chegou à área do incidente quase meia hora depois e descreveu o desespero dos sobreviventes em socorrer mais pessoas soterradas.

Tentámos desenterrar à mão, conseguimos resgatar três corpos e depois pedimos uma escavadora da empresa e conseguimos tirar outros quatro corpos até as 4h”, disse à Lusa Martinho Manasse.

Outros três corpos foram encontrados já no início da manhã desta sexta-feira.

O diretor clínico do Hospital Distrital de Manica confirmou à Lusa a entrada de sete corpos, muitos com membros “atrofiados”. “Os corpos devem ter ficado muito tempo soterrados, muitos foram retirados na posição em que ficaram soterrados”, disse Santana Missage.

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No local do incidente, o diretor provincial dos Recursos Minerais e Energia de Manica disse que o grupo de garimpeiros terá invadido a mina durante a noite. “Este acidente é resultado de um trabalho não autorizado. Os garimpeiros têm estado a trabalhar na calada da noite, sem regra e sem segurança” disse à Sílvio Manuel à Lusa.

O responsável adiantou que as autoridades têm trabalhado com associações de garimpeiros no local, para garantir que sejam observadas medidas de segurança da mineração artesanal, sendo que os acidentes são vulgares.

O desespero tomou conta da área onde milhares de garimpeiros, nacionais e estrangeiros, disputam áreas concessionadas a empresas estrangeiros, entre chinesas, sul-africanas e australianas.

A zona próxima ao acidente é fértil em minerais e de intensa atividade de garimpo, com vários túneis ativos, mas devido ao luto, muitos garimpeiros não se fizeram esta sexta-feira às minas.