Quando dizemos que a idade também pesa, no caso de Cristiano Ronaldo a expressão é mesmo literal. Com 35 anos celebrados esta quarta-feira e 84 quilos de peso, desde os 30 que o capitão da seleção portuguesa alterou a dieta e os hábitos de treino fora dos relvados para perder, em média, um quilograma por ano.”É para conseguir continuar a ser ágil apesar da idade”, explica ao Observador a personal trainer Beatriz Sousa: “Ele tem de perder esse peso para continuar a treinar a condição física e a jogar futebol, mas de maneira a que não aumente o peso. Se o fizer, isso iria prejudicá-lo na agilidade”.
As características físicas de Cristiano Ronaldo são parte do segredo que tem permitido ao atleta metamorfosear-se ao longo da carreira conforme as necessidades que vai tendo em campo. Uma análise científica financiada pela Castrol em 2011, logo a seguir ao atual avançado da Juventus ter saído do Manchester United para o Real Madrid, mostrou que Ronaldo tem menos 3% de gordura do que um supermodelo, um diâmetro de coxas maior do que a média — 61,7 centímetros — e gémeos menos volumosos do que o normal, embora o esquerdo esteja mais desenvolvido que o direito.
Cristiano Ronaldo. Ele salta mais alto desde 2004 (e a ciência explica porquê)
Conforme apuraram os biomecânicos envolvidos no estudo, Cristiano Ronaldo “tem as pernas longas de um velocista, é esguio como um atleta de meio-fundo e as coxas mais poderosas que um saltador em altura”. São características que, de acordo com os cientistas da Castrol, desenvolveu enquanto jogava na Premier League e era orientado por sir Alex Ferguson que lhe permitiram aumentar a taxa de bolas conquistadas no ar de 40% para 66%.
Mais: em situação de jogo, Ronaldo consegue aplicar no chão uma força de 5G e saltar 78 centímetros a partir do solo. Por outras palavras, o aniversariante português deste 5 de fevereiro aplica no solo a mesma força que um astronauta experimenta em alguns momentos da descolagem de um foguetão, e à conta desse impulso salta mais do que a média de um jogador de basquetebol da NBA.
Já vimos todas essas capacidades em ação. No Euro 2016, Cristiano Ronaldo saltou 76 centímetros para cabecear uma bola que valeu a Portugal a vitória frente ao País de Gales num golo que correu mundo. Há poucos meses, já com a camisola da Juventus, elevou-se até aos 2,56 metros — um salto de 71 centímetros — para um cabeceamento que valeu o 2-1 contra o Sampdoria, outro golo que o consagrou ainda mais como um dos maiores (senão o maior) do Olimpo da bola .
Além dos cabeceamentos, também os livres de Cristiano Ronaldo já inspiraram manchetes pelo mundo fora. Um dos golos que o melhor do mundo marcou à Espanha no último Mundial foi à conta destes seus remates mágicos. E repetiu a proeza na partida da seleção portuguesa contra a Itália na Liga das Nações.
É tudo — bem, quase tudo, como já veremos — graças à técnica que o o jogador que comemorou o 35.º aniversário apurou ao longo dos anos: Ronaldo remata as bolas com a parte interior do pé e atinge-as mais à direita do que o seu centro da gravidade, fazendo-as girar em torno de si mesmas e curvar na sua trajetória. “Isto cria um diferencial de pressão entre a parte interior da bola e a parte exterior, fazendo com que a bola tenda a mover-se na direção da baixa pressão”, descreveram os especialistas da Castrol.
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Mas além desses detalhes, Cristiano Ronaldo também consegue uma enorme força ao pontapear a bola. Quando remata num livre, por exemplo, a bola pontapeada pelo avançado português chega a viajar a 35 metros por segundo, ou seja, 126 quilómetros por hora. O pé esquerdo, que fica assente no solo, pode exercer uma força de 4G. Os ossos do futebolista só não se partem por causa da musculatura extremamente bem distribuída de Ronaldo.
Para alcançar esta condição física, Cristiano Ronaldo teve de executar “treino de força, de velocidade, de agilidade e de potência” desde os tempos do Manchester United, quando o clube o submeteu a treinos intensivos que lhe valeram uma evolução extraordinária em relação à que tinha nos tempos do Sporting. Atualmente, como vai documentando através do Instagram, nem nas férias ou folgas dá tréguas ao corpo. Corre na passadeira dentro da piscina, faz treino de musculação, aposta em exercícios cárdio, entra na câmara hiperbárica (gelada) para recuperar mais depressa e consome batidos ricos em proteínas — os chamados gainers.
Quem o revelou foi o próprio futebolista quando completou 30 anos e apresentou uma nova coleção de roupa interior da marca CR7. Cristiano Ronaldo explicou que prefere treinar com companhia — surge muitas vezes no ginásio com a namorada, Georgina Rodriguez —, faz sempre aquecimentos antes do treino para evitar lesões, dorme muito, come regularmente, bebe muita água e ouve boa música durante o treino.
Além disso, o avançado português aconselha uma combinação de exercícios de musculação com exercícios cárdio — aqueles que o fazem suar, como corrida ou exercícios de elíptica —, sempre em alta intensidade e por períodos de pelo menos 30 minutos. É exigente, sim, mas Ronaldo também acrescentou que é preciso motivação, disciplina, força mental e momentos de descanso.
Este tipo de exercício físico transformou os músculos de Ronaldo em esponjas, sugere um estudo patrocinado pela Entertainment and Sports Programming Network (ESPN). Numa sessão de futebol intensa, a taxa de trabalho dos músculos de um jogador aumenta pelo menos 30 vezes. Nestas condições, o glicogénio — que funciona como um combustível para os músculos — pode começar a faltar, o que resulta em falta de energia.
A ciência explica (mas por pouco) aquele golo de Cristiano Ronaldo
Por isso, durante as 12 a 24 horas de repouso a que os jogadores de futebol têm de ser sujeitos para recuperaram, os músculos absorvem os nutrientes, nomeadamente hidratos de carbono e proteínas, num rácio muito maior. À medida que o corpo se ajusta às exigências físicas de um jogo de futebol, o tempo que demora até chegar à exaustão aumenta até 40%. E Ronaldo consegue-o em muito maior percentagem com as suas estratégias.
Também o cérebro de Cristiano Ronaldo pode ter passado por alterações à medida que apurou estas técnicas. “Mais do que qualquer outro desporto, o futebol exige que se redefina o córtex cerebral, porque o jogador de futebol está limitado a uma regra simples: fazer tudo sem mãos”.
Ora, fazer tudo sem mãos é o mesmo que recuar milhões de anos na evolução que o sistema nervoso do Homem sofreu ao longo da sua presença na Terra. No cérebro da maior parte das pessoas, as mãos são os membros do corpo mais representadas, principalmente nas regiões do cérebro dedicadas à perceção do tato e da posição do corpo e aquelas que controlam a atividade motora dos músculos.
Isso não é o que se passa no cérebro de um futebolista, pelo menos não inteiramente: ao serem obrigados a não usarem as mãos na atividade que lhes preenche grande parte do quotidiano, o cérebro dos jogadores molda-se às exigências a que estão obrigados: “Como os pés dos jogadores são extremamente sensíveis e notavelmente poderosos, as regiões do cérebro a eles dedicadas expandem-se para permitir uma maior representação neural. Não é difícil imaginar que os cérebros de Ronaldo, Messi ou Neymar, atualmente alguns dos maiores jogadores de futebol do mundo, possam ser muito diferentes da média humana, com uma representação expandida para os pés”, explica Jeffrey Holt.