A Tesla domina como nenhum outro fabricante de veículos eléctricos a tecnologia das baterias (com o seu parceiro Panasonic), bem como o software que torna os seus automóveis distintos, mais sofisticados – graças a soluções como o Autopilot – e mais agradáveis de utilizar. Porém, deparou-se com problemas no sector da produção. Depois de fabricar desde 2012 o Model S e, a partir de 2015, o Model X, a Tesla sentiu grandes dificuldades em lidar com o maior ritmo de produção necessário para satisfazer a procura do Model 3 (os Model S e X, juntos, não ultrapassavam as 100.000 unidades, contra as 350.000 estimadas numa primeira fase para o Model 3). Mas a marca deu provas que aprende com os erros, pois o arranque da Gigafactory 3 chinesa foi um sucesso, tendo começado a produzir o Model 3 para o mercado asiático antes do tempo, para depois antecipar mais de seis meses o arranque da produção do Model Y, que já está a ser fabricado e começará a ser entregue em Março.

Agora que está mais madura como fabricante, a Tesla prepara-se para novos voos, ou seja, para novos modelos, com o desportivo Roadster e camião Semi a estarem previstos para o final de 2020, início de 2021, ano em que também começará a laborar a primeira fábrica europeia do construtor americano, a Gigafactory 4, na Alemanha. Mas tudo indica que, se em termos de novos veículos os projectos ficam por aqui – isto se descontarmos a renovação de que vai ser alvo o Model S, com novos interiores, mais potência (na versão Plaid) e maior capacidade de bateria –, há novas tecnologias para conhecer, com destaque para uma que vai permitir lançar um modelo mais pequeno e mais barato da Tesla, provavelmente denominado Model C.

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Um Tesla mais pequeno e barato?

A Tesla nunca pretendeu assumir-se como um fabricante de luxo, colocando a ênfase na concepção de veículos eléctricos potentes, para serem divertidos de conduzir, e com grande autonomia, para atrair os clientes habituados à liberdade garantida pelos modelos com motor de combustão. Contudo, o custo astronómico das baterias levava a que os Model S e X fossem propostos em Portugal, e um pouco por toda a Europa, por valores próximos dos 170.000€ nas versões mais possantes (então as P100D). Tudo isso mudou com a chegada dos grandes volumes proporcionados pelo Model 3, que permite à marca ter lucros, apesar do preço dos mais potentes Model S e X ter caído para cerca de 110.000€.

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A Gigafactory 3, em Xangai, elevou fasquia do construtor, com a Tesla a passar a ser vista como um fabricante global, usufruindo dos menores custos de produção locais daí resultantes. Mas as ajudas que o construtor norte-americano recebeu do Governo chinês vieram com um compromisso: o de criar, na China, um centro de design e de investigação e desenvolvimento, capaz de conceber um novo modelo, mais pequeno e barato, para vender globalmente, ou seja, na Ásia, nos EUA e também na Europa.

Tesla começa as entregas dos Model 3 chineses

No arranque das entregas dos Model 3 chineses, específicos para o mercado doméstico (o Model Y iniciará a produção ali em breve), Elon Musk, o CEO da Tesla, revelou um desenho que permite perceber como será esse Tesla barato para comercializar em todo o mundo. Com umas linhas diferentes, como é habitual na marca, tudo indica que será um modelo do segmento C, ou seja, com cerca de 4,2 metros de comprimento, o que o coloca abaixo dos 4,6 metros de comprimento do Model 3. Menos comprimento é sinónimo de menos peso e, logo, de mais autonomia com a mesma capacidade de bateria, o que será precisamente o objectivo.

Mas se este (alegadamente) Model C é relativamente interessante para a China, é fundamental para a Europa, onde os modelos do segmento C são quem lidera a tabela das vendas, tanto em formato hatchback de cinco portas, como por exemplo o Volkswagen Golf, ou em formado SUV, tipo Nissan Qashqai.

Quem primeiro avançou com o valor de 25.000$ para um Tesla mais pequeno foi o próprio Elon Musk, numa entrevista ao youtuber Marques Brownlee (ao minuto 4.55). A entrevista data de 2018, com o CEO da marca a considerar ser possível atingir esta meta três anos depois, ou seja, algures entre 2021 e 2022.

É possível chegar aos 25.000 dólares?

Não é fácil, mas é possível. Primeiro, temos de fazer a conversão dos preços nos EUA para os valores europeus, pois se do lado de lá do Atlântico o preço não inclui impostos (existe apenas de 3 a 5% de taxas locais), do lado de cá há o IVA, que é de 17% em alguns países, 19% noutros e 23% em Portugal, a que urge somar o transporte e o imposto de entrada na União Europeia.

Tesla vai produzir 500.000 carros por ano na Alemanha

Feitas as contas, a diferença entre os valores praticados em Portugal é 32% superior (em média) aos dos EUA, com o Model 3 Standard Range Plus a ser proposto entre nós por 48.900€, contra 36.800€ nos EUA (39.990$), enquanto o Model 3 Long Range está à venda cá por 59.600€, contra 45.100€ nos EUA (48.990$).

Aplicando este princípio, os 25.000 dólares atirariam o Model C para 30.400€ – um valor em linha com aquele que a Volkswagen já anunciou pretender propor para o ID.3 no nosso país. E o facto de a Tesla estar apontada a este patamar de preços coincide com a expectativa de que o futuro C não venha a diferir muito em dimensões face ao ID.3, que reivindica um comprimento de 4,26 metros.

Novidades nas baterias já em Abril

Para que toda esta estratégia seja implementada, a Tesla necessita de melhores baterias. Não só com um custo mais reduzido, como mais fáceis e rápidas de produzir, com materiais menos problemáticos e que garantam autonomias superiores. Foi exactamente para o conseguir que a marca americana adquiriu, em 2019, a Maxwell, especialista em ultracondensadores, tendo reforçado o seu portefólio com a Hibar Systems, versada na produção em série de diversas soluções, a começar por acumuladores.

Tesla (quase) pronta a produzir novas baterias

As baterias estão a limitar a capacidade de produção de todos os fabricantes de veículos eléctricos, até da Tesla, embora esta seja a marca que mais carros a bateria produz. Depois de quase 370.000 unidades em 2019, o fabricante de Palo Alto deverá superar as 500.000 em 2020, tarefa facilitada pelo facto de os Model 3 e Model Y a construir na China terem fornecedores locais de células (os packs são montados na Gigafactory 3), que produzem as “pilhas” cilíndricas com a química que pertence à Tesla e à Panasonic. Isto liberta a produção de baterias da Gigafactoy 1, no Nevada, que este ano tem previsto atingir 50 GWh de produção, suficiente para dar um pouco mais de fôlego à fabricação de veículos e de baterias estacionárias.

Contudo, a Tesla anunciou estar a contratar técnicos para a Gigafactory 4, na Alemanha, especializados em química e na produção de células de bateria, o que significa que a fábrica alemã deverá ser a primeira a integrar produção de veículos e de células sob o mesmo tecto. O que os especialistas apostam é que as baterias a fabricar nos arredores de Berlim não serão já em parceria com a Panasonic (que continuará a produzir os 50 GWh no Nevada), mas sim de um novo tipo, propriedade exclusiva da Tesla e com a integração dos conhecimentos da Maxwell.

Novas baterias? Tesla confirma compra da Maxwell

O novo tipo de bateria poderá ser dado a conhecer já em Abril, numa reunião com investidores que Musk denominou Tesla April Company Talk. Esse encontro terá lugar na fábrica que o construtor possui em Buffalo, no estado de Nova Iorque, quase na fronteira com o Canadá. Tudo aponta para que, nessa reunião, sejam apresentadas as novidades no campo das motorizações e baterias, inclusivamente o que esperar de melhorias para os Model S e X Plaid – há quem fale em 1000 cv e 1000 km de autonomia –, mas sobretudo as tais baterias capazes de percorrer 1,6 milhões de quilómetros, que Musk prometeu revelar em breve.

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