Dagma Turner estava a tocar violino num concerto quando sofreu uma convulsão. Foi em 2013, a artista tinha um filho pequeno, 46 anos e, veio-se a descobrir, um tumor de nível dois no cérebro. A radioterapia não funcionou. Em 2019, quando o cancro aumentou de tamanho e se tornou mais agressivo, Dagma Turner foi operada. E passou o tempo inteiro acordada a tocar violino enquanto os médicos lhe abriram o crânio e removeram o tumor.

Aconteceu tudo no King’s College Hospital em Londres, explica um comunicado de imprensa. E o risco de Dagma Turner perder a capacidade de tocar violino era muito alta: o cancro estava no lobo frontal direito do cérebro, responsável pelos movimentos mais delicados das mãos e pela capacidade de coordenação. Qualquer milímetro em falso condenaria para sempre a carreira da artista.

Após terem passado duas horas a mapear o cérebro de Dagma Turner, os cirurgiões pediram à paciente que não parasse de tocar violino durante todo o procedimento. Assim, se os médicos se aproximassem demais de uma região importante para a tocar aquele instrumentos, parariam a operação e tentariam remover o tumor por outra via.

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No fim, correu tudo bem. Os médicos conseguiram retirar 90% do tumor no cérebro de Dagma Turner e a artista não perdeu quaisquer capacidades essenciais para tocar violino, um instrumento por que se apaixonou quando tinha apenas 10 dias. Três dias depois do procedimento, Dagma Turner voltou para casa.

De acordo com o comunicado de imprensa do hospital, esta é a primeira vez que os cirurgiões retiram um cancro no cérebro enquanto o paciente toca um instrumento musical. Nas 400 remoções que já se fizeram no King’s College Hospital, os doentes faziam antes testes linguísticos.

Mas no caso da violinista, era necessária uma abordagem diferente: “Sabíamos o quão importante o violino é para a Dagmar, por isso era vital que preservássemos a função nas áreas delicadas do cérebro que lhe permitiam tocar. Conseguimos remover mais de 90% do tumor, incluindo todas as áreas suspeitas de atividade agressiva, mantendo a função completa na mão esquerda”, confirmou.

A artista agradeceu a compreensão da equipa médica que a acompanhou: “A ideia de perder a minha capacidade de tocar era de partir o coração, mas, sendo músico, o professor Ashkan [que liderou a equipa] entendeu as minhas preocupações. Ele e toda a equipa fizeram o possível para planear a operação. Graças a eles, espero voltar em breve à minha orquestra”.