A confirmação oficial chegou às 10h30 desta segunda-feira: dois portugueses, ambos internados no Porto, testaram positivo para o novo coronavírus. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, pediu “tranquilidade” e assegurou que os portugueses devem confiar nas autoridades de saúde. Já a ministra da Saúde, Marta Temido, garantiu que o risco nacional — e as medidas a adotar — serão analisados caso a caso, embora os meios tenham sido reforçados. Os seis pontos essenciais da conferência de imprensa que confirmou a chegada do vírus a Portugal.

Contactos próximos dos casos confirmados vão ficar em vigilância

Depois de confirmar que dois portugueses testaram positivo para o Covid-19, a ministra da Saúde, Marta Temido, e a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicaram que os “contactos próximos” dos dois pacientes “vão ser colocados em vigilância”. Marta Temido acrescentou que as Administrações Regionais de Saúde estão a trabalhar na “identificação” das pessoas que contactaram com os dois casos positivos e a avaliar “o seu grau de exposição”.

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“Estamos em fase de contenção e vamos continuar. Neste momento, teremos em Portugal, quase de certeza, dois casos confirmados”, o que “não aumenta o nosso nível de prevenção e preparação, mas gera uma segunda linha muito importante que é deteção de contactos diretos nestes casos”, disse, por sua vez, Graça Freitas, acrescentando que “não há indicação para se fazer testes de forma generalizada com o conhecimento científico que temos à data”.

Graça Freitas sublinhou, contudo, que tem de haver um “dinamismo” e uma “flexibilidade para adaptarmos as nossas ações ao risco a situações particulares que venham surgindo”. “Podemos passar para uma fase em que pessoas com contacto muito próximo com doentes possam vir a ser testados, mas essa decisão é tomada pela autoridade de saúde que faz o equivalente a uma história clínica que um médico faria. A história tem de ser muito bem feita, o grau de risco de contacto tem de ser muito bem esmiuçado e, sempre que se justificar, serão feitos testes.”

Voos vindos de Itália vão ser rastreados como os da China

As “medidas de alerta” que já estavam a ser aplicadas aos três voos semanais que chegam da China a Portugal vão passar a ser aplicadas aos voos oriundos de Itália, anunciou a ministra da Saúde. Na prática, isto significa que, durante os voos, serão entregues aos passageiros documentos informativos sobre o Covid-19 — com o número de contacto, possíveis sintomas e formas de atuação em caso de suspeitas, por exemplo.

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Além disso, os passageiros que regressam por via aérea de Itália têm de prestar informação às autoridades quando chegam a Portugal, como “a identificação do passageiro, dos contactos que teve, do local em que se encontrava sentado no avião“. O objetivo é, “no caso de um posterior contacto com a linha Saúde 24 ou posterior validação do caso, permitir mais facilmente o trabalho das autoridades de saúde pública, de identificação e dos contactos potencialmente de risco”. A informação é compilada numa espécie de “cartão de paciente”.

Em caso de suspeita, contactar a linha Saúde 24 (e não ir logo para uma unidade de saúde)

A ministra da Saúde deixou ainda uma recomendação geral para as pessoas que venham da áreas afetadas e que possam ter tido contacto com doentes: “vigilância ativa” dos sintomas e contactar a Linha Saúde 24 (808 24 24 24) para terem “aconselhamento sobre o que devem fazer”. “Será caso a caso e em função do contacto e do aconselhamento obtido através desse contacto que poderão ser definidas outras medidas.”

Marta Temido frisou várias vezes que quem suspeita que possa ter o Covid-19 deve sempre ligar para a linha Saúde 24, que valida os casos, e não deslocar-se aos serviços de saúde, uma vez que tal pode representar um “risco acrescido” para a população em geral e profissionais de saúde.

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Segundo Graça Freitas, a linha da Saúde 24 terá o “primeiro crivo” dos casos suspeitos. Ou seja, avalia se os casos são suspeitos ou não e aconselha os utentes. Mas há diferenças nos procedimentos de quem tem sintomas e de quem não os tem.

Com ou sem sintomas? Os procedimentos são diferentes

A linha de Saúde 24 vai funcionar, assim, “como a grande triagem“, nomeadamente para averiguar se as pessoas que contactaram a linha de apoio estiveram com possíveis casos de infeção ou se vieram ou não de uma área afetada.

Graça Freitas explicou que há vários protocolos de atuação para quem liga para a Saúde 24. As pessoas assintomáticas podem ser consideradas de risco elevado ou de risco baixo. Na primeira situação, o caso passa para as mãos das autoridades de saúde — designadamente dos delegados de saúde da zona de residência — e pode haver a realização do teste, conforme a avaliação do profissional de saúde. No segundo caso, as pessoas “ficarão em vigilância”. Em ambas as situações, “o isolamento e, dentro do isolamento, o distanciamento, é muito importante”. “As pessoas enquanto forem assintomáticas têm uma baixíssima probabilidade” de contagiar outras, especificou Graça Freitas. “Se estiverem isoladas, ainda mais baixa.”

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Em qualquer caso, haverá uma “vigilância ativa” das autoridades da saúde que permite aos delegados de saúde da sua zona de residência detetar precocemente o aparecimento de sintomas”. Em caso de sintomas, e se o caso for validado pelas autoridades de saúde, “obviamente que as pessoas serão testadas”.

Se o delegado de saúde da zona de residência, quando faz a história de pessoa, achar que é de elevado risco, pode decidir que vai fazer um teste. Além das medidas genéricas, há um acompanhamento médico dos delegados de saúde, com os clínicos, os infecciologistas, para poder decidir, caso a caso, se uma pessoa de muito elevado risco deve fazer testes. Essa é a política em Portugal. Estamos a seguir orientações da OMS [Organização Mundial da Saúde].”

Caso o delegado de saúde considere que não é necessário um teste, a pessoa “fica em isolamento na sua casa, com distanciamento social e é contactado duas vezes por dia“. Tem ainda de estar atento “ao aparecimento de sintomas”. “O cidadão tem de ter capacidade de ligar ao delegado de saúde e dizer que tem este sintoma, que apareceu uma situação diferente.”

“Temos de estar muito atentos e fazer este acompanhamento muito bem feito, para depois agir com conformidade”, conclui Graça Freitas.

Pedida “higienização reforçada” dos espaços e promessa de mais meios

Marta Temido reafirmou ainda a necessidade de uma “higienização reforçada dos espaços” e garantiu que tem sido feito um reforço das linhas de Saúde 24 para garantir que respostas são dadas o mais depressa possível”. Ainda assim, a ministra admite demoras nos tempos de resposta, “mas a recomendação mantém-se no sentido de utilização dos números de contacto”. “Precaução sem alarmes necessários.” A ministra sublinhou ainda que as instituições e empresas devem ter conhecimento das direções da DGS e ter planos de contingência.

Já o secretário de estado da Saúde, António Sales, garantiu um “reforço dos equipamentos, para os agentes e intervenientes” que deles necessitam. “Relativamente aos testes e reagentes, estamos preparados para tal situação.”

António Sales acrescentou ainda que, neste momento, o país tem “cerca de 2.000 quartos, 300 quartos com pressão negativa e 300 lugares em unidades de cuidados intensivos. Obviamente que sendo assim estamos habituados para situação de contenção alargada.”

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Além disso, vai ser alargada a rede de entidades que podem testar as análises de suspeitas do coronavírus. “À medida que for necessário, outros laboratórios preparados, se for necessário, avançarão. Já há uma primeira linha de hospitais, como o Hospital de São João e o Hospital de Santo António, e outras, que em articulação com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), estão a fazer diagnósticos. Não se justifica que seja só o  INSA”, disse o presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge-INSA, Fernando Almeida. Ainda assim, “todos os testes que derem positivo são reavaliados” pelo instituto.

Pico do surto? DGS diz que não é possível prever

O pico do coronavírus em Portugal “é absolutamente desconhecido“. “Não conhecemos a dinâmica deste vírus, a velocidade com que se vai propagar”, disse Graça Freitas, da DGS. Se o comportamento da gripe, as “ondas” e a propagação, são conhecidos “há dezenas de anos”, o conhecimento sobre o Covid-19 “ainda não é adquirido”.

Uma coisa é trabalhar com base em conhecimento; outra é com uma ‘epidemia online’, de rápida propagação e conhecimento que ainda não é adquirido.”

Também não é possível, segundo a diretora-geral da Saúde, traçar comparações com epidemias como a SARS ou a MERS, que “tiveram comportamentos completamente diferentes”. “Este [o Covid-19] é absolutamente novo.”