A coordenadora das Nações Unidas em Moçambique defendeu esta sexta-feira que se deve aproveitar a segurança que existe nas sedes de distrito de Cabo Delgado para, a partir delas, reforçar a ajuda humanitária em resposta a ciclones e violência armada.
“De momento há segurança na sede dos distritos e é muito importante preservar esta segurança”, referiu Myrta Kaulard em entrevista à Lusa.
As ajudas abrangem vítimas de insegurança e do ciclone Kenneth, que se abateu sobre a região em abril de 2019. “Muitas pessoas estão nas sedes [de distrito] e é aí que podemos ajudar as pessoas”, ou seja, apostar no “desenvolvimento do lado humanitário” da resposta ao conflito armado em Cabo Delgado.
O número de beneficiários do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 150.000, coincide com o total que o governo moçambicano diz já ter sido afetado de alguma forma, com morte de familiares, ferimentos, perda de bens ou abandono forçado das suas terras e habitações.
Os ataques de grupos armados acontecem sobretudo no meio rural e remoto, pelo que a segurança nas sedes permitirá também dar cobertura aos trabalhadores humanitários que estão a entregar ajuda alimentar, a prestar serviços de saúde, água potável, saneamento, proteção social e educação.
“Trabalhamos de maneira estreita com o sistema de saúde do país. Quero sublinhar a grande colaboração e esforços das instituições de Cabo Delgado”, realçou a coordenadora residente da ONU.
O apoio à região está incluído num apelo total de 120 milhões de dólares (106 milhões de euros) que o sistema da ONU precisa “urgentemente”, referiu, para manter o apoio a cerca de um milhão de pessoas em Moçambique – abrangendo também vítimas de ciclones no Centro e de seca no Sul.
Precisamos de muito mais recursos, porque é muito importante investir agora na ajuda humanitária e também no desenvolvimento na zona de Cabo Delgado. É uma prioridade que todas as autoridades ao mais alto nível em Moçambique devem ter em vista”, sublinhou.
A província enfrenta desde janeiro uma dificuldade acrescida: a queda de pontes na única via asfaltada que atravessa a província de norte a sul.
“Com as mudanças climáticas houve chuvas tão fortes que houve grandes danos nas infraestruturas: temos também um problema logístico importante e essas obras são caras e difíceis”, em montante ainda por calcular, referiu. Um dossiê para o qual também será necessária “ajuda internacional”, concluiu.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados que organizações internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 pessoas afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.