Está garantida a saída de Mário Centeno do Governo e a sua substituição acontecerá no início do Verão, entre junho e julho, confirmou o Observador. O ministro termina a 13 de julho a função como presidente do Eurogrupo, cargo que já tinha dito querer levar até ao fim, e o cargo que ambiciona, de governador do Banco de Portugal, vaga precisamente nesse mês. No topo do Governo não se vê problema na passagem direta de Centeno do cargo das Finanças para os comandos do banco central e até se apontam já exemplos do passado para validar esta troca direta.

A mudança é certa — “já nem é notícia para ninguém”, comenta fonte do Executivo — e deve acontecer em dois tempos, até porque a nomeação do Governador é feita por resolução do Conselho de Ministros, sob proposta do Ministro das Finanças e após audição na Assembleia da República, segundo a lei orgânica do supervisor da banca. Ou seja, Centeno não nomeará Centeno, será indicado pelo seu sucessor nas Finanças, um nome que Costa já terá na cabeça.

Primeiro será feita esta substituição no Executivo, numa remodelação que não deve ir muito além disso. No Governo sublinha-se o carácter “conservador” de Costa no que toca aos seus elencos governativos. A remodelação mais profunda que fez foi a de outubro 2018, por altura da entrega do Orçamento do Estado para 2019. Motivada pela saída do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, na sequência do caso Tancos. Todas as outras foram mais cirúrgicas.

No Verão, o Governo terá cerca de oito meses em funções e se tudo rolar sem sobressaltos de maior até lá, não haverá necessidade de ir além das Finanças. Embora não esteja excluído que o lugar de Centeno possa ser ocupado por outro atual governante e, nesse caso, isso ditaria forçosamente mais alterações no Governo. Exemplo? Um dos nomes que circula entre socialistas para ocupar a pasta das Finanças no pós Centeno é o de Pedro Siza Vieira, o número dois de Costa: ministro de Estado e da Economia. Se rumar ao Terreiro do Paço, terá de haver novo nome para o seu atual lugar na Horta Seca, rua onde se localiza, em Lisboa, o Ministério da Economia.

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Quanto a Centeno, regressará à base: é quadro precisamente do Banco de Portugal, onde estava desde 2000 até ir para o Governo de António Costa, em 2015. Depois será nomeado governador e terá de ser sujeito a audição do Parlamento, que entretanto vai fechar para férias (meio de julho), pelo que poderá haver aí necessidade de o atual governador, Carlos Costa, se manter em funções, como já analisou o Expresso (artigo só disponível para assinantes do jornal).

São já muitos os dedos a apontar o eventual conflito de interesses de Mário Centeno por passar direto de responsável pelas Finanças e responsável por decisões que permitiram a injeção de capital na banca, para chefe do organismo que supervisiona o sistema bancário. Em entrevista ao Expresso, em dezembro, o próprio Mário Centeno negava qualquer conflito de interesses entre as duas funções. E até apontava exemplos europeus: o ministro das Finanças de Espanha, Luis de Guindos, que passou para vice-presidente do BCE e o ministro das Finanças eslovaco, Peter Kazimi, também transitou das Finanças para o banco central.

Mas no centro do Governo já se engrossa o dossiê de argumentos pro-Centeno, nomeadamente com casos portugueses, como o de Miguel Beleza, que foi ministro das Finanças entre 1990 e 91 e no ano seguinte a ter saído do Governo, 1992, foi nomeado governador do Banco de Portugal, onde se manteve até 1994. Outro exemplo avançado ao Observador na mesma linha de argumentação é o de Tavares Moreira, que antecedeu Beleza no cargo, para o qual foi nomeado em 1986, logo depois de ter saído do Governo de Cavaco Silva, onde foi Secretário de Estado do Ministro das Finanças e do Tesouro, entre 1985 e 1986.