Portugal entrou esta quinta-feira em estado de emergência. Assim o decretou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na última quarta-feira numa declaração feita ao país às 20h00 em ponto.

Os fotojornalistas do Observador retrataram este primeiro dia de Portugal em estado de emergência. Em Lisboa, no Porto, em Braga, Guimarães, Sintra e Sines captaram a realidade de ruas vazias, lojas fechadas e silêncio. 

No Porto, foi notório. A Avenida dos Aliados estava vazia como nunca se tinha visto. Não, não era de madrugada. Os relógios marcavam 15h00, mas a avenida mais emblemática da cidade “estava às moscas” como o povo diz.

Também na rua mais movimentada da cidade, Santa Catarina, o bastião das compras na invicta, o cenário era irreconhecível: lojas fechadas, cafés fechados e apenas algumas pessoas na via pública, a caminho do metro ou a tentar chegar às filas intermináveis das farmácias e dos supermercados.

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A Ribeira estava sem a cor e a vida que a caracteriza. Num ou noutro banco alguns turistas, nem uma dezena, resistentes e teimosos, que tentam desfrutar a cidade esquecendo a epidemia mundial. A polícia municipal percorria o Porto nos seus carros com os avisos “fique em casa” em várias línguas, para que não restassem dúvidas.

No metro, a visão era irreal. Um dos maiores pontos de passagem de todo o Porto, a estação da Trindade, estava vazia. Muito poucas pessoas nas carruagens e as que circulavam não dispensavam as luvas e a máscara.

Em Guimarães, outra cidade bastante parada. Alguns negócios abertos, mas com pouquíssimo movimento. As farmácias com algumas pessoas. E curiosamente quem mais se via na rua eram pessoas com alguma idade. Há uma tarja no Largo do Toural em que se lê: “Exemplarmente Unidos Contra este Vírus”.

Braga vestida a rigor para receber as celebrações da semana Santa e mais pessoas do que em Guimarães. Os negócios praticamente todos fechados, algumas pessoas com sacos de supermercado que vinham das suas compras e algum movimento nas farmácias.

Na escadaria do Sameiro, local muito turístico, alguns aproveitaram para fazer exercício e passear animais. Resumidamente, em Guimarães e Braga conseguimos afirmar que os portugueses estão a começar a perceber e acatar as ordens de ficar em casa.

No primeiro dia em que entrou em vigor o estado de emergência, a praia de Carcavelos, em Cascais, que há uma semana atrás se encontrava cheia, estava hoje praticamente deserta. Alguns pais aproveitaram para levar as crianças, outras aproveitaram mesmo para ir a banhos e por a leitura em dia no vasto areal quase deserto. Houve também quem aproveitasse para praticar surf ou algum exercício físico no paredão junto ao areal, apesar de todas as estruturas existentes para a prática de desporto na rua estarem encerradas pela câmara municipal.

Sintra tornou-se numa autêntica vila fantasma. A primeira coisa a estranhar à chegada foi a facilidade em parar o carro, num estacionamento que costuma estar completamente cheio não existia uma única viatura. Todo o comércio se encontrava encerrado, desde restaurantes, cafés, papelarias e pequenas lojas sem vivalma por perto. O silêncio imperava nas apertadas ruas. Junto ao palácio, dois senhores idosos encontravam-se a falar sobre coisas banais do seu dia-a-dia, embora mantivessem uma distância segura. Já mais longe da vila, na estação de Sintra e na zona circundante, alguns carros parados, mas nem um vislumbre de pessoas na rua. A estação deserta, tal como o estacionamento.

Em Sines a população cumpriu com as ordens vindas de São Bento. No primeiro dia de estado de emergência, os sineenses ficaram em casa. Nas principais ruas da cidade piscatória só se viam alguns carros e algumas pessoas, maioritariamente idosos. As farmácias estavam todas abertas e quem quisesse ser atendido tinha de esperar no exterior, depois de entrar era atendido por um farmacêutico com máscaras e luvas. Ainda se avistavam alguns cafés abertos e com clientes.

Nos pontos mais turísticos da cidade, na zona histórica e no castelo (onde acontece o FMM), nem vivalma. O castelo estava aberto, mas as visitas às muralhas estavam interditas. A zona junto à praia Vasco da Gama é muitas vezes usada para praticar desporto, mas hoje não se via ninguém.

Na capital os portugueses responderam de forma positiva. As ruas estiveram desertas e muitos dos estabelecimentos fecharam. Os centros comerciais praticamente vazios. Era percetível que muitas das pessoas que circulavam o fizessem por razões verdadeiramente válidas.

Em Lisboa, parecia mentira: poucos carros, deixando o destaque para os (muitos) autocarros quase vazios. No Marquês de Pombal muito pouco trânsito. Na zona da baixa, sobram as farmácias, as pastelarias e a Bertrand, com a grande maioria dos estabelecimentos fechados. Filas não muito extensas à porta das farmácias e supermercados.

O metro de Lisboa está aberto e gratuito para todos, embora se registe pouca procura. Nas carruagens, vê-se que as pessoas escolhem estar afastadas.

Este artigo foi feito pelos fotojornalistas Rui Oliveira, Filipe Amorim, Octávio Passos, André Dias Nobre, Diogo Ventura, João Pedro Morais e João Porfírio. Veja a fotogaleria acima.