O antigo ministro da Economia Augusto Mateus considera que as medidas económicas destinadas a combater os efeitos da pandemia da Covid-19 podem ser insuficientes e que poderá ser preciso “meter parte da economia no ‘congelador’” — medida com um custo potencial para o Estado de oito a nove mil milhões de euros, abarcando cerca de 60% da economia nacional (para que serviços essenciais como os hospitais possam continuar em funcionamento).
Numa entrevista ao Jornal Económico publicada esta sexta-feira, o economista alerta que “o que não dá resultado são medidas como as que foram lançadas no passado. Aquelas que os governos portugueses tiram da gaveta quando há qualquer problema — os fundos estruturantes. Isso não serve para nada”.
“Provavelmente, nós desligámos uma parte muito grande da economia. E vamos continuar a desligar. Mas, se calhar, vai ser preciso meter parte da economia no ‘congelador’. Isto é: será preciso suspender tudo, para depois voltar a partir nas condições em que estávamos quando se fechou a economia”, explicou Augusto Mateus.
Questionado sobre como é que isso pode ser feito, o antigo ministro de António Guterres sublinhou que é necessário desligar “a produção do rendimento”.
“O problema é garantir o rendimento mínimo à população. Mas as pessoas estão a descobrir que o rendimento mínimo é muito menor do que julgavam. Porque é um rendimento mínimo para comer e pagar medicamentos, contas de eletricidade, internet, gás e água…”, afirmou.
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Até porque, continuou Augusto Mateus, “a poupança já não existe em Portugal, portanto não vale a pena contarmos com ela“.
“Isso significa ter um mecanismo específico de layoff, em que só há salários e rendimentos do tipo do trabalho independente, reduzidos bastante mais do que em dois terços“, sublinhou o antigo governante, destacando que “é preciso repartir essa redução entre dinheiro do Estado, dinheiro das empresas e dinheiro das pessoas”.
“É um valor que se situa num intervalo que vai de um terço até 40% do rendimento, qualquer coisa assim. Isso, obviamente, agilizaria muito o problema da liquidez das empresas”, detalhou.
A medida, porém, não poderá ser muito longa. “É possível deixar e economia no congelador durante um mês. No máximo, um mês e meio. Mais que isso é impossível. Como tudo indica que nós precisamos do mês de abril para desligar completamente a economia e não dar cabo dela — para, eventualmente, não a termos ao ar livre, mas no ‘congelador’ —, esta é capaz de ser a melhor solução. Isto nunca foi feito, mas começa-me a parecer que é absolutamente indispensável”, considerou Augusto Mateus.