No dia em que os EUA ultrapassaram 100 mil casos de infeção por Covid-19 e 1.500 mortes — e depois de ter assinado um gigante pacote de ajudas para estimular a economia norte-americana, no valor de 2,2 biliões de dólares — Donald Trump surgiu, mais uma vez, extremamente confiante na Casa Branca para anunciar que “a melhor economia do mundo” vai regressar “mais forte”.

Eu estava a presidir à mais bem-sucedida economia da história do mundo — e agora vamos ter de reconstruí-la”, disse Donald Trump aos jornalistas na Casa Branca.

Há 22 dias tínhamos a melhor economia do mundo, tudo estava a ir muito bem, a bolsa a atingir um recorde de sempre outra vez pela 150º vez durante a minha presidência e o mundo estava a ir muito bem… até que fomos atingidos pelo inimigo invisível” — o novo coronavírus que, por esta altura, já atingiu 590 mil pessoas em todo o mundo (17% das quais nos EUA), matando quase 60 mil pessoas.

Ainda assim, Trump deixa uma garantia aos americanos: “Estamos a vencê-lo e vamos surgir maiores, melhores e mais fortes do que éramos”.

“Acho que vamos ter um incrível quatro trimestre e, se calhar, ligeiramente depois disso, para ser sincero. Assim que nos virmos livres disto, acho que vamos ter uma explosão para cima, vai ser incrível”, diz Trump enquanto levanta a mão em direção ao teto da sala de conferências da Casa Branca.

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O que deixa o presidente norte-americano tão confiante é o pacote de 2,2 biliões de dólares “em apoios urgentes para as famílias, trabalhadores e empresas”, que foi aprovado pelo Congresso e pelo Senado em tempo recorde e que Donald Trump já assinou, prometendo distribuir as verbas “independentemente de raça, cor, religião, ou crença”.

Na verdade, “os 2,2 [biliões de dólares] podem ir aos 6,2 [biliões], dependendo da necessidade”. Por isso, “é o maior pacote de ajudas — nunca assinámos uma lei desta magnitude”, diz o presidente americano.

Trump está ainda satisfeito com a celeridade com que os políticos americanos aprovaram a legislação: “Foi 96 contra zero no Senado e, essencialmente, a mesma coisa no Congresso — fizeram-no muito rapidamente”. E tendo em conta que é “a lei com mais dinheiro” da História americana, “isso é muito bom”. “Quero agradecer aos republicanos e aos democratas por se terem unido em nome do país, isto é uma grande vitória”.

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O programa de ajudas serve, nomeadamente, para expandir apoios a desempregados, distribuir dinheiro diretamente aos americanos e garantir “muito financiamento para o sistema de saúde”.

Serve ainda para “salvar empresas que são incríveis, mas que vão precisar de ajuda, por causa do que está acontecer”. “Há um mês eram excecionais, estavam a ter o melhor ano de sempre e foram atingidas — e, portanto, nós ajudamos. Estão em causa milhares e milhões de empregos”.

“Há um grande enfoque em pequenos negócios. Eles são a energia na nossa nação, eles empurram [o país]”, afirmou Trump, que vê nesta legislação “uma tábua de salvação para as famílias americanas e trabalhadores, com empréstimos para reter empregos nos pequenos negócios”.

Acho que vamos ter um incrível quatro trimestre e, se calhar, ligeiramente depois disso, para ser sincero. Assim que nos virmos livres disto, acho que vamos ter uma explosão para cima, vai ser incrível”

Mas o dinheiro não chega a apenas a pequenas e médias empresas. Donald Trump deixou a garantia, por exemplo, de que nenhuma companhia aérea ficaria pelo caminho: “É muito importante para o nosso país, temos de cuidar do nosso trabalho, precisamos manter as nossas companhias aéreas — é também importante para a manutenção de postos de trabalho”.

E deu exemplos: “Vamos conseguir lidar com a United, a Delta e todas elas, temos muito dinheiro”. Também a Boeing “vai provavelmente precisar de uma ajuda e nós vamos trazer a Boeing outra vez” porque “salvar as companhias aéreas é muito importante”.

Como será distribuído o “maior pacote de ajudas” da história americana?

O pacote de estímulos face à pandemia vale 2,2 biliões de dólares (2 biliões de euros), o equivalente a 10 vezes o que produz a economia portuguesa num ano ou, se preferirmos, o valor combinado da Apple e da Microsoft (apesar dos trambolhões na bolsa que ambas as empresas tiveram à boleia do novo coronavírus).

“O maior pacote de ajuda, de uma só vez, da história americana”, como anunciou Trump esta sexta-feira, durante a cerimónia de assinatura, dedica perto de 450 mil milhões de euros aos setores de atividade mais atingidos por esta crise; outros 290 mil milhões para distribuir pelas famílias; 350 mil milhões para empréstimos a pequenas empresas; 250 mil milhões para a extensão de apoios ao desemprego e 100 mil milhões para o sistema de saúde, incluindo hospitais.

Os estímulos da administração Trump preveem, segundo a CNN, que cada americano receba 1.200 dólares, e os pais outros 500 dólares por cada filho com menos de 17 anos. Mas com limites: quem ganhe entre 75 mil e 99 mil dólares já recebe menos — e acima deste último valor já não recebe nada.

Há ainda, para desempregados, uma extensão do subsídio durante quatro meses, garantindo mais 600 dólares por semana ao valor que o desempregado já recebesse (entre 200 a 500 dólares por semana, dependendo do estado). Mas os que perderem o trabalho por causa da pandemia e não preencherem os critérios habituais para receber subsídio também vão ter direito a apoio. Estão em causa, nomeadamente, trabalhadores independentes.

Os estudantes têm ainda uma moratória para pagamento dos estudos até final de setembro, sem qualquer penalização.

Nas ajudas a empresas, os EUA vão ter disponíveis 500 mil milhões de dólares em empréstimos, garantias ou ajuda ao investimento. Deste valor, cerca de 25 mil milhões estão reservados para as companhias aéreas, que foram fortemente atingidas pela crise; e 17 mil milhões para empresas que lidem com segurança nacional. O restante serve para ajudar todos os outros setores de atividade que tenham sido afetados — mas as empresas da família de Trump, bem como dos principais responsáveis políticos do país, não vão poder ser ajudadas.

Recebendo esse dinheiro, as empresas não podem pagar dividendos a investidores até um ano depois de pago o empréstimo; e no final de setembro têm de reter pelo menos 9 em cada 10 trabalhadores que tinham esta semana.

Os hospitais receberão 117 mil milhões de dólares no total, tendo em conta a crise de saúde pública, a que se juntam ainda 100 mil milhões para um fundo de emergência que vai reembolsar prestadores de serviços de despesas ou perdas que tiverem por causa da pandemia.

Noutras frentes, haverá também, entre outros, proteção contra execução de hipotecas ou despejos, mais apoios para assistência familiar, dinheiro para retirar americanos de outros países, programas diplomáticos, assistência a desastres internacionais e assistência a refugiados. Mas não haverá dinheiro para continuar a construir o muro na fronteira com o México.