Em apenas 24 horas, Nova Iorque passou a ter mais 134 mortos vítimas da Covid-19, num total de 519. Um salto tremendo que apareceu no preciso momento em que o presidente norte-americano discordava publicamente das previsões do governador de Nova Iorque sobre as necessidades de ventiladores. Pelo menos 30 mil, reclamava Andrew Cuomo. “Eu não acredito que precisem de 40 mil ou 30 mil ventiladores”, respondia Donald Trump, quinta-feira à noite numa entrevista à Fox. Esta sexta. Trump cedeu e passou às maiúsculas: “A General Motors TEM de começar a fabricar ventiladores agora. RÁPIDO”.

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Mas só depois da entrevista que apareceu no final do dia em que o país passou para o primeiro lugar da lista dos que, no mundo, maior número de infetados tem. O novo coronavírus entrou em força do lado de lá do Atlântico, com o país a ultrapassar a barreira dos 80 mil casos na quinta-feira da entrevista de Trump. Esta sexta-feira chegou aos 100 mil. E ficaram para trás as palavras trocadas com Cuomo no dia anterior.

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E isto porque Trump acabou por anunciar esta sexta-feira, um pacote de apoio à economia. E também acabou por invocar – a partir do seu canal preferido, o Twitter – uma lei de guerra para obrigar a General Motors a fabricar ventiladores. No tweet atacava a fábrica de automóveis por ter dito que iria fornecer 40 mil ventiladores e agora dizer que “só haverá 6 mil no final de abril”. “Sempre uma confusão com Mary B”, escrevia numa referência a Mary Barra, Diretora Executiva e Presidente da General Motors Company.

No final do tweet, o “invoke P” que Trump explicaria dois tweets depois: “Invocar “P” quer dizer a lei de Produção de Defesa”, aprovada em 1950 na guerra com a Coreia, e que autoriza o presidente a pôr empresas a aceitar dar prioridade a contratos que sejam necessários para a defesa do país ou para produzir recurso essenciais. Até aqui, Trump tinha resistido a ir por aqui: “Nós não somos um Governo que nacionalize empresas”, argumentava. Mas a subida do número de mortos no país fez intensificar o debate sobre a necessidade de equipar os EUA com mais ventiladores, para auxiliar os doentes com Covid-19 que têm maior dificuldade de respirar.

Andrew Cuomo tinha mesmo chegado a argumentar com o número de dias que normalmente um paciente infetado com o novo coronavírus precisa desse suporte, a comparar com outros doentes. “A maioria das pessoas está com ventilador dois, três, quatro dias. Estes pacientes podem precisar de um ventilador por 20 dias”. Quanto mais aumenta o tempo que os pacientes precisam deste equipamento, “mais aumentam as mortes”, afirmou referindo-se aos outros pacientes que não têm ventiladores disponíveis.

Nos tweets seguintes, Trump voltava às maiúsculas para carregar na sua ordem: “A General Motors TEM de abrir imediatamente a fábrica de Lorsdtown, em Ohio, que foi estupidamente abandonada, ou outra qualquer e COMEÇAR A FABRICAR VENTILADORES AGORA!!!!!! FORD, ENTREM [no fabrico] DE VENTILADORES, RÁPIDO!!!!!!”

A ordem oficial acabou por chegar apenas depois desta série de publicações na rede social, através de um memorando presidencial a ordenar ao secretário da Saúde que “use a autoridade, sob a lei de produção de Defesa, para requerer que a General Motors aceite, fabrique e dê prioridade a contratos federais para produzir ventiladores”. “A nossa luta contra o vírus é demasiado urgente”, argumentava ainda no comunicado. “A GM estava a perder tempo. A ação de hoje ajudará a garantir a produção rápida de ventiladores que salvarão vidas americanas”.

No país com mais casos, Nova Iorque é o estado mais massacrado. E o governador avisa que “o número vai continuar a aumentar, esta é a pior notícia que poderia dar às pessoas”, disse esta sexta citado pela CNN. Na mesma intervenção anunciou também que iria pedir uma pedir autorização a Trump para poder avançar com a construção de mais quatro hospitais temporários. Isto quando as previsões apontam para que venham a ser necessárias 140 mil camas durante a pandemia e o estado só tem 53 mil disponíveis.

Esta sexta-feira, Cuomo anunciou ainda que as medidas de restrição são para continuar, a começar pelas escolas fechadas. Estava previsto que pudessem abrir já na próxima semana, mas vão manter-se fechadas até 15 de abril. A estimativa oficial é que o pico de contágio leve ainda 21 dias a chegar.