Se o primeiro-ministro já tinha falado no fim da ilusão de um problema que se resolveria com “15 dias de isolamento”, fica cada vez mais claro que o regresso à normalidade conhecida até ao início da pandemia demorará meses a ser conquistado. Na conferência de imprensa deste domingo, Graça Freitas foi peremptória: “Isto não é uma coisa de dois ou três meses, até haver vacina esta situação vai durar meses”.
Numa conferência de imprensa muito focada na preocupação com as situações vividas nos lares e residências para idosos, com a ministra da Saúde a recordar uma por uma todas as medidas que as instituições devem pôr em prática, os alertas sucederam-se: “Trata-se de um vírus muito inteligente e agressivo”; “Tudo aponta para que o pico seja no final de maio, mas pode ser antes ou depois”; “Os testes negativos dão uma falsa sensação de segurança”.
Ou seja, se até aqui o discurso tinha sido focado no “bom comportamento” dos portugueses que estava a permitir uma “curva em planalto” e não “um pico”, agora o discurso da ministra e das autoridades de Saúde mudou: distanciamento social durará semanas ou meses. Ainda falta muito para debelar o problema do surto.
No dia em que foi noticiada a primeira morte abaixo dos 40 anos, de um rapaz de 14 anos que estava infetado com a Covid-19, Graça Freitas frisou que esta é uma situação “complexa” que carece ainda de análise, já que o quadro clínico anterior do rapaz já era complicado e a sintomatologia com que foi admitido no hospital é compatível também com outro tipo de infeções.
Especial atenção para a situação dos lares de idosos
Sobre a situação nos lares de idosos em todo o país, onde tantos casos positivos de infeção têm sido confirmados, a ministra da Saúde, Marta Temido avisou: “É urgente que todos se preparem e reajam disciplinadamente a um caso suspeito”.
As administrações e funcionários de lares terão de, para além de cumprir os respetivos planos de contingência e de observar as regras estabelecidas pela DGS, por em prática uma série de medidas concretas, como manter todos os cadeirões usados pelos utentes a uma distância de segurança de pelo menos 1,5 metros; de fazer turnos nos refeitórios, para a toma de refeições; e de limitar ao máximo a circulação de utentes pelas instalações.
A ministra da Saúde recomendou ainda que os funcionários dos lares sejam submetidos a medições de temperatura diárias e que as suas funções, dentro dos próprios lares, sejam circunscritas. E que os casos confirmados para Covid-19 sejam separados dos não Covid — dentro ou fora das instalações do lar.
Depois, Marta Temido reforçou o apelo que já tinha feito este sábado: precisam-se voluntários para ajudar junto desta que é a faixa etária mais afetada pelo novo coronavírus.
“Não podemos desmobilizar”, Graça Freitas diz que é necessário manter “hábitos de distanciamento social durante semanas e meses”
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, diz que os “hábitos de distanciamento social são para manter durante semanas e meses”, especialmente em locais onde haja várias pessoas e nomeadamente nas residenciais de idosos, que continuam a ser a grande preocupação das autoridades de saúde.
Relativamente às medidas de distanciamento social recomendadas aos portugueses, serão para continuar. O discurso agora passar por reforçar que o distanciamento social durará semanas ou mesmo meses. “Os portugueses têm de perceber que não estamos a terminar nada, estamos apenas a iniciar um percurso. Depende de nós contrariar a atividade de um vírus extremamente inteligente e agressivo”, afirmou a Diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
A responsável recordou que não se trata de um problema que se resolva “numa quinzena”: “Isto não é uma coisa de dois ou três meses, até haver vacina esta situação vai durar meses”.
“Não podemos desmobilizar. Temos de estar todos a tentar contrariar a dinâmica do vírus que é a de se transmitir entre nós. Até que haja uma vacina não podemos ficar descansados”, disse Graça Freitas, acrescentando que se trata de “um vírus muito inteligente e agressivo”.
“O vírus vai tentar replicar-se entre as pessoas, replica-se nas células das pessoas e vai tentar fazer o seu percurso. É um vírus muito inteligente e agressivo”, disse frisando que só será possível “descansar” quando “existir uma vacina”.
Teste servem para identificar precocemente positivos, mas não para descansar testes negativos
Sobre o aumento da realização do número de testes realizados, Graça Freitas adverte: “os testes servem para identificar precocemente positivos, mas não para descansar testes negativos”.
Graça Freitas recordou que os testes com resultado negativo podem induzir uma falsa sensação de segurança: “Não tenhamos a ilusão que basta fazer testes. Os testes servem para identificar precocemente positivos, mas não para descansar testes negativos”, disse recordando que todos os testes têm de ser validados pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
“Não tenhamos a ilusão que basta fazer testes. Pode ser importante testar, sobretudo com critérios e sabendo o que se faz ao resultado desses testes”, disse, notando que os resultados negativos podem induzir uma falsa sensação de segurança, tornando-se dentro de “dois ou três dias” esses negativos em positivos. Mais uma vez, o alerta foi para residenciais e lares de idosos: ainda que os utentes testem negativo é necessário continuar com todas as medidas de distanciamento e não usar os resultados negativos para aligeirar essas restrições.
Recorde-se que, até agora, em Portugal apenas os testes PCR — que demoram mais tempo — estão validados pelo Infarmed e pelo Insa.
Os “meninos” que ficaram presos na gruta da Tailândia e os mineiros chilenos: a resistência que Marta Temido pede aos portugueses
A ministra da Saúde recorreu aos exemplos de “resistência e grande disciplina” da equipa de futebol tailandesa que ficou presa no interior de uma gruta na Tailândia e aos mineiros encurralados dentro das minas para ilustrar aquilo que se pede agora aos portugueses: “é difícil, mas necessário”.
“Se pensarmos no caso dos mineiros que ficaram presos numa mina ou dos meninos que ficaram presos numa gruta, percebemos que isto por que estamos a passar é de facto difícil, põe-nos a todos à prova, mas é necessário”, disse Marta Temido.
“Precisamos de manter as nossas atividades profissionais mas devemos evitar tudo o que sejam atos supérfluos, mesmo que nos soubessem bem”, acrescentou depois de questionada sobre o comportamento dos portugueses durante o último sábado, com alguns deles a saírem de casa para passear. No âmbito de um despacho do ministério da Administração Interna as deslocações dos portugueses nas estradas estão a ser controladas pelas forças de segurança, para garantir que se cingem “às necessárias” de acordo com o regulamentado pelo Governo no âmbito do estado de emergência.