No mesmo dia em que o Reino Unido quebrou o recorde de número de mortos num só dia – 917 incluindo uma criança de 11 anos -, houve vários parques públicos que voltaram a abrir portas à população. Com as temperaturas amenas que se fazem sentir em Londres, os parques voltaram a encher-se de gente, mas a decisão não foi consensual. A começar pelos funcionários do Victoria’s Park. Ao “Guardian”, a equipa conta que, nas vésperas de reabertura do parque (que esteve fechado durante 15 dias), fez danças da chuva para desejar que o mau tempo afastasse as multidões. Não teve sorte.
A decisão de reabertura foi tomada pelas autoridades políticas locais depois de uma grande pressão da opinião pública, com os moradores das zonas fechadas a queixarem-se de que restavam poucos espaços ao ar livre para se poder fazer exercício ou passear. A consequência, diz um dos moradores ao jornal britânico, foi que outras áreas passaram a estar saturadas de gente e isso tornava as caminhadas ao ar livre mais perigosas.
“Senti falta do parque. Precisava dele para a minha saúde mental. E a decisão de o fechar foi estúpida porque as pessoas passaram a concentrar-se na zona do canal onde estão em cima umas das outras”, disse outra moradora.
Ao jornal britânico, o autarca de Tower Hamlets, a zona de Londres onde se situa o parque Victoria, admitiu que houve alguns incidentes neste primeiro dia de reabertura porque algumas pessoas não respeitaram as distâncias de segurança, mas mostrou-se confiante na decisão tomada porque era importante que as pessoas pudessem “apanhar ar fresco e fazer exercício”: “Basta olhar para a quantidade de gente que apareceu para percebermos como as pessoas gostam do seu parque”, disse John Biggs.
Apesar disso, nas redes sociais as opiniões dividiram-se. No país em que o próprio primeiro-ministro esteve internado nos cuidados intensivos por ter Covid-19, alguns britânicos criticavam a medida, acusando o responsável político de Tower Hamlets de ser “irresponsável”.
Just seen that Victoria Park was reopened yesterday by @TowerHamletsNow. People are still not getting it in London and at this point they never will.
Doesn't help when you have irresponsible councils like this reopening parks to encourage people to go out.
What a joke
— Hi, My name is Joeogo – Dalot's Uncle (@SayNoMore33) April 12, 2020
Rejeitando as críticas, as autoridades lembram que foram impostas regras apertadas nesta reabertura: para além das distâncias de segurança de dois metros, ninguém podia sentar-se na relva, andar de bicicleta ou sentar-se nos bancos públicos que estavam cobertos de faixas de interdição (algo que também não agradou a toda a gente).
https://twitter.com/Monique22092609/status/1249272350861938689
Para se certificar de que as medidas eram cumpridas, a polícia fez rondas nos vários parques que abriram portas por todo o Reino Unido, a pé, a cavalo ou de bicicleta, e foi lembrando as regras de segurança às famílias, aos casais, aos desportistas e a toda a gente que escolheu passear ali e que nem sempre conseguia manter as distâncias recomendadas.
Um dos exemplos captados pelo Guardian, é o de um pai que passeava com um carrinho dois filhos bébés e que foi surpreendido por um jogger que apareceu a correr na sua direção: “Incomoda-me que estas pessoas corram mesmo ao meu lado” disse ao jornal, irritado porque a regra dos dois metros não estava a ser cumprida. “Se é para correr, que corram, mas que se desviem. Não venham para cima de mim. Eu acho que a respiração ofegante de quem está a correr traz o mesmo risco de quem tosse ou espirra”.
Apesar disso, este londrino prefere não dizer aos outros como se devem comportar. “Prefiro liderar pelo exemplo e evitar estas pessoas do que começar a gritar e a dizer-lhes o que estão a fazer mal. Ninguém gosta disso”.
Para os vigilantes dos parques há, contudo, notícias que podem fazê-los respirar de alívio: as temperaturas deverão baixar consideravelmente já na próxima semana.