Jorge Fonseca (texto) e André Sá (áudio e vídeo), da agência Lusa

Para evitar que uma eventual infeção pela Covid-19 cancele a sua atividade, os Bombeiros de Valbom têm, desde segunda-feira, um posto avançado na Escola Secundária local, admitindo esta quarta-feira a Câmara de Gondomar poder replicar pelo concelho a ideia.

Mantendo os turnos, a linha de comando e apenas com a proibição de, desde segunda-feira e nas próximas duas semanas, contactarem fisicamente com os colegas no quartel, os quatro operacionais destacados dispõem de uma zona de descanso e outra de lazer para além de acesso à casa de banho.

O presidente dos Bombeiros de Valbom, José Gonçalves atribuiu à “responsabilidade no socorro às populações” e para “evitar que os bombeiros, como já sucedeu noutros quartéis, sejam apanhados pelo vírus e tenham de ficar em quarentena” a ideia de avançar para um posto avançado.

No caso de algum deles contactar com um infetado isso obrigaria a que todos fossem de quarentena durante 14 dias, o que nos deixaria sem pessoal para fazer o socorro no quotidiano”, explicou o responsável, assinalando que fruto da decisão “quem está no posto avançado não pode ir ao quartel nem os do quartel poderão ter contacto com eles“.

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E prosseguiu: “se houver uma fatalidade, o número de baixas será reduzido e haverá sempre pessoal operacional durante 24 horas todos os dias”.

Na Escola Secundária de Valbom está estacionado o equipamento para fogos urbanos e florestais, duas viaturas para o transporte de doentes e outra viatura ligeira para que os bombeiros possam deslocar-se, testemunhou a Lusa no local, informando José Gonçalves que a comunicação com o quartel acontece “através da rádio SIRESP”.

O Adjunto do Comando, Manuel Viana, explicou que no posto avançado estão “quatro operacionais” que funcionarão “divididos por dois turnos, mais um turno extra de piquete” e que atuarão fora daquele espaço “conforme o necessário“.

O vice-presidente da Câmara de Gondomar, Luís Filipe Araújo, enalteceu a atitude dos bombeiros de criar uma nova solução para o serviço de socorro diário.

Quando os bombeiros nos colocaram a hipótese de cedermos a escola, percebemos que era uma medida que podia ter uma importância muito grande. Proporcionámos as condições mínimas para que pudessem ter o conforto possível, o trabalho deles é muito difícil”, disse o autarca.

Apesar de considerar ser “cedo para pensar em 4 de maio”, Luís Filipe Araújo reconheceu que “pode haver um regresso às aulas nessa data” [do 11.º e 12.º anos] e que se tal acontecer será difícil “compaginar as duas situações” deixando, contudo, a “certeza absoluta de que alguma solução” será encontrada “para manter este critério de separação dos bombeiros”.

O vice-presidente admitiu ainda à Lusa a possibilidade de este projeto “ser replicado ao nível do concelho”.

“Isso será ponderado com todas as corporações do concelho e há condições para o podermos reproduzir”, sustentou.

Com os bombeiros a iniciarem na mesma semana a “desinfeção de todas as estradas da freguesia de Valbom” num trabalho, admitiu o presidente que poderá estender-se “à sua zona de intervenção que é Lomba, Foz de Sousa, Jovim e parte de São Cosme”, o dirigente fez questão de expressar um lamento em jeito de alerta.

“Os nossos bombeiros estão na primeira linha [do combate] e lamento que na comunicação social haja empresas que só agradecem aos médicos, enfermeiros, auxiliares, à PSP e à GNR e não se lembrem que as primeiras pessoas a contactar com o doente são os bombeiros, neste caso voluntários, que trabalham sem nada [receber] em troca”, disse.

Portugal, onde os primeiros casos de Covid-19 confirmados foram registados no dia 2 de março, encontra-se em estado de emergência desde 19 de março e até ao final do dia 17 de abril.

Segundo o balanço feito na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 567 mortos associados à Covid-19, mais 32 do que na segunda-feira (+6,%), e 17.448 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 514 (+3%). Dos infetados, 1.227 estão internados, 218 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 347 doentes que já recuperaram.