O Sporting enviou na noite desta quarta-feira um comunicado à CMVM onde explica um conjunto de operações que tem feito na SAD e no clube a nível de reduções salariais e processos de lay-off, terminando com o ponto que é considerado como prioritário pelos responsáveis da sociedade leonina: cortar 40% nos custos com pessoal.
Sporting coloca funcionários do clube em lay-off por 30 dias, com três regimes diferentes aplicados
Explicando que a pandemia da Covid-19 teve “grave afetação da atividade da Sporting SAD e um incontornável impacto financeiro” e acrescentando que “a atual conjuntura reveste-se de incerteza, não só relativamente ao término da época desportiva em curso, mas igualmente no que diz respeito ao início da época desportiva 20/21” (além dos moldes do próximo mercado de transferências, uma “importante fonte de receita para qualquer clube português”), a sociedade verde e branca decidiu, “para melhor defesa da manutenção dos postos de trabalho do seu quadro de pessoal, recorrer ao programa de apoio constante do Decreto-Lei n.º 10-G/2020 de 26 de março, que prevê a adoção de medidas excecionais e temporárias para assegurar a proteção e manutenção dos postos de trabalho”, algo que já tinha sido explicado (de forma não oficial) esta manhã.
“Foram, assim, adotadas medidas de suspensão temporária da prestação de trabalho e de redução do período normal de trabalho, bem como medidas de redução dos contratos com prestadores de serviços, abrangendo cerca de 95% do universo dos trabalhadores dependentes e independentes. Estas medidas entram em vigor no dia 16 de abril, por um período de 30 dias, o qual poderá ser prorrogado nos termos do citado regime legal”, explica o comunicado, numa percentagem revista e que junta não só SAD mas também todo o universo leonino.
“As referidas medidas têm por objetivo reduzir os custos fixos da Sporting SAD e juntam-se a outras já adotadas, com, a redução salarial dos membros do Conselho de Administração em 50%, a redução salarial dos jogadores e da equipa técnica do futebol profissional em 40%, a redução de custos operacionais (FSE), o corte de despesas acessórias e a suspensão ou adiamento de investimentos não críticos. A Sporting SAD estima, com base na informação disponível à data de hoje, que a implementação de tais medidas excecionais e temporárias tenha como impacto uma redução da rúbrica de custos com pessoal correspondente a cerca de 40%, durante o período aplicável”, termina a missiva enviada esta noite à CMVM.
Como o Observador explicou esta manhã, altura em que os funcionários foram informados por Frederico Varandas e Francisco Salgado Zenha, presidente e vice para as finanças do clube, quase 90% das pessoas entraram em regime de lay-off por suspensão de funções ou redução de horário, com os restantes a continuarem o teletrabalho como tinham feito até ao momento, com o respetivo vencimento que tinham antes da pandemia. Houve também uma outra nota importante na comunicação feita, justificada pela necessidade de adequar custos numa altura em que muitas das receitas estão “congeladas”: os prestadores de serviços que trabalhavam por recibos verdes terão direito a esse valor provindo do lay-off, não correndo assim o risco de despedimento.
Por definir em termos concretos está ainda o corte nas modalidades mas, de acordo com informações recolhidas pelo Observador, os mesmos serão sentidos a dois níveis: por um lado, haverá um reajuste salarial nos próximos três meses que poderá ser menor caso algum dos campeonatos regresse (à semelhança do que já aconteceu no futebol profissional); por outro, os orçamentos para a próxima temporada de 2020/21, que já estavam a ser alvo de alguns reajustes na ordem dos 10% a menos, sofrerão um novo decréscimo que está agora em discussão. Também aqui, a justificação é a mesma – a quebra em algumas fontes de receita ou na bilhética, havendo ainda um ponto que será sempre uma incógnita e que passa pelos valores da quotização, uma das grandes fatias a nível de receitas que as contas do Sporting clube têm todos os anos e que poderá sofrer com o impacto desta pandemia. Segundo soube o Observador, as negociações com as principais secções continuam ainda a decorrer.
Em paralelo, foi também tornado público que o Sporting não liquidou a primeira prestação ao Sp. Braga da contratação do treinador Rúben Amorim, vencida no passado dia 6 de março, de cinco milhões de euros, bem como o pagamento do IVA da operação, 2,3 milhões de euros, que teria também de ser pago até 30 de março (os restantes cinco milhões podem ser pagos até 5 de setembro, com juros a uma taxa de 6% fixados em 155 mil euros). No entanto, há um outro dado a ter em conta: ao não cumprir a primeira prestação, as outras são assumidas como vencidas e existe lugar ainda ao pagamento de multa de 10%. Ou seja, em vez de dever 7,3 milhões, passaria a 13,3 milhões: 10 milhões da cláusula de transferência, 2,3 do IVA que é 23% e mais 1 da multa de 10%.
O clube confirma a dívida por liquidar, que foi assumida perante os minhotos, considerando que é um fenómeno transversal a muitas outras sociedades de futebol e/ou marcas e patrocinadores. Problemas de tesouraria à parte, esta foi uma medida considerada como “gestão”, que deverá ser resolvida entre maio e junho (altura em que se estima no plano interno que o lay-off já tenha terminado).
Um exemplo: até junho, e só via SAD, os leões têm a receber entre vendas de atletas, mecanismos de solidariedade e atividades comerciais correntes um valor de quase 23,5 milhões de euros, montante que sobe a um total de 38 milhões em verbas a receber só neste âmbito até ao final do ano. Da mesma forma, e em sentido inverso, existiam também, segundo o Relatório e Contas do primeiro semestre do exercício de 2019/20, compromissos para pagar até junho de 14 milhões de euros, a que se juntam outros que foram contraídos mais tarde como a contratação de Rúben Amorim para o comando da equipa ou do avançado Andraz Sporar, ao Slovan Bratislava.