A importância da amizade

Durante muitos anos, Luis Sepúlveda publicou apenas romances. Foi, aliás, na ficção longa que se estreou, há várias décadas — o seu primeiro livro, Crónicas de Pedro Nadie (1969), valeu-lhe o primeiro de muitos prémios literários, o Prémio Casa das Américas. Mas é talvez pelas fábulas, histórias e aventuras de animais quase humanos, que o escritor chileno é mais acarinhado. A primeira fábula que deu a conhecer ao público é talvez a que é mais conhecida, História do gato e da gaivota que o ensinou a voar (1996). Esta conta a história de um gato grande, preto e gordo chamado Zorbas e da sua improvável amizade com a filha de uma formosa gaivota apanhada por uma maré negra de petróleo.

Zorbas estava a apanhar sol na varanda quando o silêncio daquele dia tranquilo foi quebrado por um “zumbido provocado por um objeto voador que não foi capaz de identificar”. Quando se aproximou do “objeto”, apercebeu-se de que se tratava de “uma ave muito suja”. “Tinha todo o corpo impregnado de uma substância escura e mal cheirosa” e estava a morrer. Com as poucas forças que lhe restavam, a ave pôs um ovo e pediu a Zorbas que prometesse que não o comeria, que iria cuidar dele e que ensinaria a pequena gaivota a voar. O gato gordo respondeu que “sim” a todos os pedidos da ave, à qual, desde o primeiro momento, tratou como “amiga”. Ao fazê-lo — ao aceitar aquela amizade improvável, caída do céu — a sua vida mudou para sempre.

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