A Bélgica tem uma população superior a 11 milhões de habitantes, cerca de 11.46 milhões de habitantes, pouco mais do que Portugal. E desde o início da pandemia da Covid-19, foram confirmados 38.496 casos positivos e morreram 5.683 pessoas. Estes números colocam o país europeu não só como o 11.º mais afetado do mundo ao nível de casos, como também empurram a Bélgica para o topo da lista de locais onde o novo coronavírus está a ser mais mortífero. As mortes registadas na Bélgica são superiores até agora aos dados absolutos conhecidos em países com muito mais população como a Alemanha, na China, na Turquia, no Irão, na Rússia e no Brasil.
A taxa de mortalidade belga está perto dos 15%, um número muito alto e que é superior ao da Holanda, que nas últimas semanas tem sido apontado como um dos países onde a Covid-19 está a matar mais pessoas na Europa. A Bélgica regista nesta altura cerca de 419 mortos por cada milhão de habitantes — enquanto que Espanha tem 409, o Reino Unido soma 202 e França 274. Esta semana, a primeira-ministra Sophie de Wilmes anunciou o prolongamento de grande parte das medidas de restrição até 3 de maio. Ainda que algumas lojas pequenas tenham reaberto, os belgas continuam a estar impedidos de sair de casa a não ser para ir ao supermercado, à farmácia ou para fazer pequenos passeios. E as multas aplicadas a quem quebrar o isolamento social mantêm-se: 250 euros para uma primeira infração, 350 euros em caso de reincidência.
Holanda tem recusado isolamento total. Agora, tem uma das maiores taxas de mortalidade da Europa
A situação belga parece, nesta altura, uma das mais preocupantes da Europa. Até porque a curva de contágios não dá grandes sinais de estar a ceder e na semana que passou, no dia 15, o país registou um número diário máximo de novos infetados, 2.454 num único dia, enquanto que o dia 15 foi o segundo pior dia em termos de mortes desde o início da pandemia (417 em 24 horas, só abaixo das 496 de 10 de abril). Ainda assim, o governo garante que a diferença para a maioria dos restantes países europeus é apenas uma: na Bélgica existe mais transparência no tratamento dos dados.
“Tomámos a decisão de ser totalmente transparentes quando comunicamos as mortes por Covid-19. Mesmo que isso resulte em números mais altos”, disse a primeira-ministra durante a passada semana.
O que Sophie de Wilmes quer dizer é que a Bélgica contabiliza todas as mortes provocadas pelo novo coronavírus, independentemente do local onde estas acontecem: em lares, em casa ou em qualquer outro sítio. Em alguns países como a Alemanha e o Reino Unido, por exemplo, o número total de mortes desde o início da pandemia diz apenas respeito às pessoas que morreram nos hospitais e estavam infetadas com Covid-19.
Há outra diferença. Na dúvida sobre a causa de morte, se o Covid-19 ou outra, o óbito entra nas contas oficiais.
Raf De Keersmaecker, médico em Limburg, uma das províncias mais afetadas pela pandemia no país, explicou à Sky News que todas as mortes por coronavírus estão a ser contabilizadas. “Contamos tudo. As mortes que acontecem em todo o lado, não apenas nos hospitais. Se achamos que a pessoa morreu de Covid-19, contamos. Claro que isso leva a um número maior de mortos no nosso país.
A maior parte dos países não está a fazer isto, só contabilizam as mortes que acontecem nos hospitais, enquanto que algumas pessoas até morrem em casa”, disse o médico. Uma opinião corroborada por Emmanuel Andre, um especialista responsável pela comunicação do Ministério da Saúde, que indica que esta é a melhor maneira de conhecer o panorama total da pandemia. “O objetivo de incluir os casos suspeitos é ter a melhor imagem possível do nível do problema na nossa comunidade, incluindo fora dos hospitais. E se soubermos isso, então podemos agir melhor na hora de controlar a pandemia na fonte do contágio”, considerou, também em declarações à Sky News.
Ora, em Sint-Truiden, uma cidade da província de Limburg, na Flandres, é precisamente essa “fonte do contágio” que domina nesta altura grande parte das conversas. A Flandres, a região norte e mais rica da Bélgica onde ficam as cidades de Antuérpia e Bruges, é a mais afetada pela pandemia no país. Sint-Truiden é um dos epicentros. E o motivo terá sido a realização das enormes paradas de Carnaval que são tradição na cidade, no final de fevereiro, e que terão infetado milhares de pessoas que até ali se deslocaram para assistir às celebrações.
“Ninguém falava sobre o coronavírus naquela altura. Começou cá a 9 de março, no início de março. E as primeiras medidas tomadas pelo governo foram anunciadas a 13 de março”, justificou-se Veerle Heeren, a autarca de Sint-Truiden. A verdade é que, de lá para cá, Veerle Heeren tem sido aplaudida pela população local pela forma como respondeu à pandemia. Ela que sofreu pessoalmente com a doença, já que o marido esteve em coma durante semanas depois de ser infetado e continua hospitalizado.
(Artigo atualizado às 22h13 com a informação de que Emmanuel Andre é especialista e responsável pela comunicação do Ministério da Saúde e não ministro da Saúde)