O histórico socialista João Soares afirmou na rede social Facebook que está contra as sessões comemorativas do 25 de Abril na Assembleia da República. Numa publicação feita na última noite, o antigo ministro da Cultura disse ser “um disparate persistir na ideia” de celebrar o Dia da Liberdade “no modelo tradicional”.
https://www.facebook.com/joao.soares.104/posts/10222863809082620
João Soares – filho do fundador do PS, Mário Soares – partilhou as palavras de Luiz Fagundes Duarte, que numa outra publicação no Facebook tinha escrito: “Não sei o que lhes deu para, com o país em estado de emergência e a maioria da população em confinamento doméstico, decidirem comemorar o 25 de Abril seguindo o figurino utilizado em tempos normais.
Soares defende que os moldes em que o Dia da Liberdade é comemorado “já não diz nada à maioria dos portugueses” e que “a incapacidade de inovar assim revelada é de bradar aos céus”. Para Luiz Fagundes Duarte, cujas palavras foram citadas por João Soares, a ideia de ” juntar pessoas a discursar num espaço fechado” surge “como se fosse impossível comemorar a data de outra maneira”.
E tem uma consequência:
“A Assembleia da República, com o seu Presidente à cabeça e a pronta anuência do Presidente da República, conseguiu o que não passaria pela cabeça de um cão tinhoso — pôr uma boa parte dos portugueses contra as comemorações do 25 de Abril”, descrevem as publicações .
https://www.facebook.com/luiz.fagundesduarte/posts/2443133885788134
A opinião de João Soares é contrária à que tem sido assumida por outros históricos da esquerda. Manuel Alegre, que lidera uma petição a favor das celebrações do 25 de Abril no Parlamento, defendeu que “a democracia não está suspensa” e que”é perfeitamente natural e legitimo que o parlamento comemore o 25 de Abril”.
Aliás, foi essa a mensagem que transmitiu na Vichyssoise de sexta-feira na Rádio Observador. Manuel Alegre defendeu que “aqueles que não comemoram o 25 de Abril, e não o querem comemorar, estão, de certa maneira, a prestar uma homenagem a esse espaço de liberdade que o 25 de Abril criou para os portugueses”.
Apesar de considerar que há um aproveitamento político em torno do tema, sublinha que essa é “uma coisa menor”: “O importante, eu já disse, é que os capitães de abril são os profissionais de saúde. São eles que estão a dar o grande exemplo para todos os outros portugueses. E essa é a prioridade das prioridades e até é a melhor maneira de celebrar o 25 de abril: o combate contra o coronavírus. Isso, para mim, é indiscutível.”.
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Também Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, declarou ao Público que “mais do que em qualquer outro momento, o 25 de Abril tem de ser e vai ser celebrado na Assembleia da República”: “Celebrar o 25 de Abril é dizer que não sairá desta crise qualquer alternativa antidemocrática”, insistiu.
Mas, na sua publicação, João Soares avisa: “Não admito que me chamem facho, ou que insinuem que não estou com o 25 de Abril por exprimir esta minha opinião”.
“Estive a 25 de Abril de 1974 no Largo do Carmo. Conheci lá Salgueiro Maia. Sou um indefetível da nossa Revolução. Até já tive a honra e o prazer de falar, por duas vezes, em cerimónias do 25 de Abril na Assembleia da República”, recorda o filho de Mário Soares.
O antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa termina a mensagem com um apelo: “Revejam a decisão infeliz que tomaram e venham para as janelas e varandas de vossas casas, locais de trabalho, hospitais, cantar connosco a Grândola e a ‘Portuguesa’ às 15 horas de 25 de Abril de 2020”, sugere.
Umas horas depois da publicação de João Soares no Facebook, o primeiro-ministro António Costa citou Mário Soares para descrever a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19: “Como sempre aprendemos com Mário Soares, quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS. E agora que a luta está quente o PS vai em frente”, pode ouvir-se na mensagem de aniversário do partido.