Bruno José Moreira Barreto Carvalho, de 22 anos, nasceu em Cabo Verde e chegou a Chaves para representar o Desportivo local quando tinha ainda idade de júnior, tendo cumprido dois anos na formação dos flavienses. Saiu na passagem para sénior em 2016, tendo jogado duas temporadas no Campeonato de Portugal pelo Montalegre, que ganhou ainda uma Supertaça da AF Vila Real, mudando-se depois para Castelo Branco, onde continuou no mesmo escalão mas na Série C, ao serviço do Oleiros. Esta época, por motivos familiares, chegou a Lisboa.

O médio assinou contrato com o Sacavenense, também do Campeonato de Portugal (Série D), mas acabou por sair a meio da temporada com 21 jogos oficiais para o União de Santarém (o veterano Saavedra, que já tinha estado no conjunto de Sacavém, fez o trajeto inverso). Na nova equipa, pela qual fez apenas nove treinos, foi ganhar mais 80 euros por mês mas fez só uma partida oficial (três minutos na receção ao Condeixa, não sendo depois opção na derrota frente ao Praiense). Depois, as provas nacionais pararam. E a vida tornou-se ainda mais complicada.

Com a mãe a fazer tratamentos para debelar um problema do foro oncológico que a levou a viajar para Portugal e o pai também com um problema de saúde a não poder ficar sozinho em Cabo Verde, os 200 euros que estavam acordados e que recebeu do União de Santarém (metade do salário de março, altura em que todas as competições foram interrompidas sem recomeço à vista – algo que não irá mesmo acontecer esta temporada) acabaram por revelar-se curtos e o médio recebeu a ajuda de outros três jogadores, dois do Real Massamá (Paulinho, defesa que esteve nas camadas jovens do Benfica antes de fazer quase toda a carreira no atual clube, e Ibra, médio que esteve em Angola mas voltou há três anos), e um do Loures (Hugo Machado, médio que fez toda a formação no Sporting antes de jogar no estrangeiro vários anos entre Chipre, Azerbaijão, Irão, Índia e Grécia), numa história que foi dada a conhecer esta terça-feira pelo jornal Record (conteúdo fechado para assinantes).

Bruno Carvalho não é caso único no Campeonato Nacional de Seniores. Longe disso. Mas, esta terça-feira, depois de tornar-se pública a ajuda com que contou, foram muitos aqueles que entraram em contacto com o clube e com o jogador no sentido de aferir a possibilidade de dar mais algum apoio ao médio. De responsáveis do União de Santarém, que não sabiam todos os contornos da situação do cabo-verdiano, a sócios e adeptos do clube, passando pelos companheiros de equipa e jogadores de outros clubes, houve até um jogador da Primeira Liga, que pediu para não ser identificado, a contactar o clube via Instagram a pedir referências para ajudar. A história ganhou uma dimensão que o próprio nunca imaginou e agora pede de forma cordial para não dar mais entrevistas nem falar mais em termos públicos, deixando apenas um agradecimento a todos os que o contactaram hoje.

Sinto-me grato. É esse o sentimento que tenho: gratidão. Percebi que podia contar com muita gente. Mais vontade de jogar futebol? Sim, tenho muita, claro”, contou o médio ao Observador.

“O Bruno estava há pouco tempo connosco, não conhecíamos esta situação porque apesar de ser um jogador muito trabalhador e com potencial, é também tímido. Quando soubemos o que se passava procurámos logo perceber o que podíamos ajudar e ficámos satisfeitos e orgulhosos pelo apoio que sentimos. O nosso capitão falou também com ele para colocá-lo à vontade, a ele ou a qualquer outro, para falarem sempre que tiverem algum problema. O Campeonato acabou, pagámos todas as contas a todos os jogadores, que têm ligação a nós através de prestação de serviços, mas tentaremos ajudar sempre até onde nos for possível”, destacou ao Observador José Gandarez, presidente da SAD do União de Santarém e também líder da Assembleia Geral do clube.

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