A sociedade de capital de risco portuguesa Indico Capital Partners juntou-se à empresa tecnológica norte-americana Google e lança esta terça-feira o “Indico Accelerator Powered by Google for Startups”. Este programa vai selecionar entre “seis a 10 empresas por ano” para investir 100 mil euros em cada uma delas. “Continuam a existir startups com grandes projetos em Portugal”, diz ao Observador Nuno Pimenta, responsável das áreas de startups, retalho e viagens na Google Portugal.
É nestas alturas que surgem empresas muitos promissoras. Na última crise houve uma explosão no número de startups”, diz Stephan Morais.
Como explicaram ao Observador durante uma videochamada Nuno Pimenta e Stephan Morais, fundador e diretor-geral da Indico Capital Partners, esta parceria já estava a ser preparada antes da pandemia. “Achámos que faria sentido continuar a apoiar estas empresas”, diz o responsável da Google.
Ao todo, o programa de aceleração tem uma duração de seis meses e “será parte do período de incubação de 12 meses realizado nos escritórios da Indico em Lisboa”. Como explica Stephan Morais, houve pequenas alterações que tiveram de ser implementadas, mas a base continua a ser a mesma: “Desde que a pandemia nos deixe, vão sentar-se num escritório ao lado do nosso”. Contudo, esclarece que este programa “é uma incubação física ou virtual consoante for necessário”.
Não controlamos o que está a acontecer. Mas não paramos. Se preferia que tudo acontecesse presencialmente? Sim. Mas o foco é continuar [os projetos]”, diz Nuno Pimenta.
Como explicam as empresas, as startups vão receber aconselhamento de fundadores de “empresas tecnológicas internacionais de sucesso e de executivos reconhecidos além do apoio proveniente da equipa de investimento da Indico”. Este programa de aceleração vai estar sediado em Lisboa e terá como objetivo “investir em empresas com produtos e serviços excelentes que possam vir a ter escala global, com modelos de negócios claros e equipas excecionais“.
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Do lado do investimento monetário de 100 mil euros está a Indico que, até junho, tem também a cargo escolher as startups que forem selecionadas. “Analisámos 1.300 empresas nos últimos dois anos [para outros programas]. Muitas delas não estavam adequadas para aquilo que queríamos”, explica Stephan. Do outro lado, está o apoio da “rede de contactos, mentores, tecnologia e experiência ”que a Google traz.
O tipo de recursos que a Google pode trazer acrescenta imenso. Estamos a falar de uma rede global. Termos acesso às melhores práticas não só internas da Google, é complementar à nossa rede. Não temos acesso a todas empresas com as quais a Google trabalha”, explica Stephan Morais.
Nuno Pimenta afirma esta parceria cria “uma junção de recursos”. Em comparação com outros programas da Google em Portugal, como o StartUps Growth Lab, este responsável explica que esta parceria permite escolher empresas que estão numa fase muito mais preliminar de crescimento.
“Este é o momento certo para investir mais”
Que não se pense que é a pandemia do novo coronavírus que vai conter as apostas da Indico neste processo. De acordo com Stephan Morais, “quando o mercado fica instável, os fundos têm tendência a proteger o próprio portefólio para as empresas que tenham necessidades de investimento mais prementes”. Não obstante, diz também: “Estamos bastantes confiantes que entre a resposta à crise vai haver cada mais pessoas a lançar empresas. Este é o momento certo para investir mais”, explica.
Mesmo sendo uma época que pode estimular o crescimento do ecossistema de startups, como aconteceu em Portugal após a crise de 2008, a Indico quer fazer apostas seguras. O número de “entre 6 a 10” empresas pode também ser “5 ou 11”, diz Stephan. “A razão da diferença tem a ver com o o número de empresas que temos em Portugal”, explica o investidor. “O 6 a 10 significa que pelos menos 6 existem e que não devíamos fazer mais do que 10”, afirma com prudência.
É nos momentos de crise que devemos acreditar no que temos de melhor no nosso país. O setor tecnológico português tem qualidade e a Indico acredita que esta nova aposta, em parceria com a Google, vai preparar ainda mais os nossos empreendedores”, diz.
Apesar de a Google e a Indico quererem fechar até junho este processo de candidaturas, não é por haver uma data final que, nos meses seguintes, não possam escolher mais startups para receber este investimento. Para já, o fundo de investimento português avança apenas que vai convidar empreendedores que não foram selecionados por estarem numa fase preliminar noutros programas da Indico para candidatar-se a esta iniciativa.
O acelerador vai também contar com a colaboração de outras instituições, “tais como universidades ou a StartUp Portugal, conectando-se assim profundamente com o ecossistema de inovação nacional”. Sobre este programa, as entidades avançam que o secretário de Estado para a Transição Digital, André de Aragão Azevedo, refere: “São excelentes notícias para o ecossistema nacional a abertura deste acelerador dedicado a empresas tecnológicas Portuguesa”.
O investimento da Indico e a parceria com a Google estão totalmente alinhados com a nossa Estratégia de Transformação Digital e mostram a confiança do sector privado e de investidores internacionais nesta área cada vez mais relevante para a economia Portuguesa”, diz André de Aragão Azevedo.
A Indico Capital Partners foi fundada, em 2017, por Stephan Morais (ex-administrador executivo da Caixa Capital), Ricardo Torgal (ex-gestor de investimentos na Caixa Capital) e por Cristina Fonseca (cofundadora e acionista da Talkdesk). No início de 2019, lançou o primeiro fundo de investimento português e privado. Este contava com 47 milhões de euros e tem como objetivo identificar e investir em startups ibéricas promissoras com montantes entre 150 mil e 5 milhões de euros por empresa.
O novo fundo criado para as startups escolhidas chama-se Indico AccelerationFund I. As empresas que se candidataram participantes podem ainda vir a ser investidas pelo fundo principal da Indico. As candidaturas podem ser feitas neste site. Este programa faz parte do projeto “Google for Startups”, uma “iniciativa da Google para dar suporte a startups e ajudá-las a crescer em qualquer lugar do mundo”.