A confiança no regresso às atividades letivas no ensino superior “não passa apenas por fazer testes, mas também por ter confiança nos próprios testes”, disse esta segunda-feira o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Mas se tal for possível, “será um sinal enorme de estabilidade”, acrescentou. António Fontaínhas Fernandes reagia assim, em declarações à Rádio Observador, à sugestão do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, feita em entrevista ao Observador. Manuel Heitor propôs a implementação de testes serológicos aos alunos, por parte das universidades, como uma forma de “transmistir confiança” no regresso ao funcionamento das instituições.
António Fontaínhas Fernandes afirmou que essa é uma situação com a qual as universidades serão confrontadas. “Vamos ver quais serão os meios necessários e de que forma o poderemos fazer. É uma situação nova”, disse.
Manuel Heitor. “Universidades podem fazer testes serológicos aos alunos” para “transmitir confiança”
Questionado sobre o mesmo assunto, Marcos Alves Teixeira, presidente da Federação Académica do Porto, afirmou que a realização de testes de imunidade pode não ser “a principal condição para regressar, até porque, tanto quanto sabemos, os testes de imunidade são feitos em pouca quantidade e ainda nem sequer confirmam a tal imunidade, mas sim a exposição ao vírus”. Alves Teixeira não acredita que esta seja a “melhor forma” ou a “principal razão” para garantir a segurança dos alunos. “Creio que as outras medidas apresentadas pelo senhor. ministro são muito mais exequíveis e, ainda assim, garantem a segurança.” Porque, diz, na larga maioria, não são os grupos de risco que vão regressar às instituições.
Não creio que seja até prudente que o Governo diga que a principal medida para garantir a confiança [no regresso] são os testes de imunidade, porque pode ser impossível fazê-los e podemos estar a criar um clima de confiança que não é isso que queremos”, disse ainda o presidente da Federação Académica do Porto.
Marco Teixeira Alves garantiu ainda que o ensino à distância tem, de um modo geral, corrido bem. Referindo-se a uma adesão “quase total”, tanto da parte dos docentes como dos alunos, apontou que há matérias e unidades curriculares que não podem ser feitas à distância. “Das que é possível ter à distância, as coisas correram bastante bem quase desde o início, houve algumas adaptações. Já se começa a garantir a qualidade do ensino. De um modo geral, o balanço positivo é muito.”
“Testes de imunidade? Não sei se são a solução”, diz o presidente da Federação Académica do Porto
Taxa de assiduidade tem sido “muito elevada”
Já António Fontaínhas Fernandes referiu que as universidades portuguesas deram uma resposta “rápida” logo no início da lecionação à distância e admitiu que a taxa de assiduidade dos alunos tem sido “muito elevada“, embora seja “muito natural” que a questão presencial não ocorra em muitas unidades curriculares. “Como disse o sr. ministro, caso a caso iremos encontrar soluções para todas aquelas unidades e áreas em que seja necessário um ensino e avaliação presencial, nomeadamente a gestão de calendários, desde que se garantam todas as condições.”
Afirmando que a academia tem de se habituar a um “novo formato do ponto de vista pessoal”, notou uma maior frequência de alunos em algumas instituições — isto apesar de o Governo sugerir a data 4 de maio para um eventual regresso.
Questionado sobre a afirmação do ministro, de que a autonomia das universidades “não serve para tudo”, Fontaínhas comentou que não se pode tomar autonomia por irresponsabilidade. “Mas longe de nós, representando uma instituição, não ter essa postura.”
“O país começou a perceber que é necessária uma nova forma de estar. Vamos ter de conviver muito mais tempo com esta situação. Temos a certeza de que se prepararmos já o regresso seremos mais fortes para, a partir de setembro, enfrentar, caso surja, um novo ciclo da pandemia”, disse ainda.