O Governo dos Açores define como “provável” o levantamento diferenciado “de ilha para ilha ou de grupos de ilhas para grupos de ilhas” das medidas de restrição no combate à pandemia da covid-19.

“A decisão de levantamento de medidas restritivas poderá ser diferenciada de ilha para ilha ou de grupos de ilhas para grupos de ilhas. O que se afigura mais provável, é que existam ilhas em que as restrições são levantadas, enquanto outras mantêm-se sujeitas a restrições que só serão levantadas conforme o evoluir da situação”, advoga o executivo açoriano no roteiro “Critérios Para Uma Saída Segura da Pandemia covid-19”, a agência Lusa teve este sábado acesso.

Pelas mesmas razões, prossegue o documento, “também não é de excluir que a mesma diferenciação possa existir entre concelhos dentro da mesma ilha”.

Os Açores têm nove ilhas divididas em três grupos: oriental (Santa Maria e São Miguel), central (Terceira, Pico, Faial, São Jorge e Graciosa) e ocidental (Flores e Corvo). Até ao momento, Flores, Corvo e Santa Maria não registaram casos de infeção com o vírus da covid-19, e as restantes ilhas, excetuando São Miguel, não têm novas infeções há algumas semanas.

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No roteiro proposto pelo Governo dos Açores, o primeiro critério a seguir “na decisão de levantar uma medida, ou conjunto de medidas, de restrição, é o da defesa da saúde pública” da população.

“Não significa isto que só devamos pensar no levantamento das medidas restritivas quando não existir nenhum caso de covid-19 na região, mas sim que, ao máximo possível, e com a maior segurança possível, deverão ser compatibilizadas as necessidades de vigilância, controlo e tratamento do surto, com as necessidades de retoma, progressiva e gradual, da nossa vivência coletiva”, lê-se no documento.

Uma decisão de levantamento, “mesmo que publicamente anunciada, poderá ser adiada ou revogada, caso surjam novos dados que aconselhem nesse sentido”, ressalva o executivo socialista. O levantamento das medidas decretadas pelo Governo Regional “será gradual” e o tempo de intervalo entre cada decisão de levantamento de cada medida, ou conjunto de medidas, será de um mês.

“Esse tempo corresponde, com o conhecimento científico existente à data, a, aproximadamente, dois ciclos de incubação do vírus”, prossegue o texto.

Alguns “grupos populacionais mais vulneráveis, caso dos idosos e portadores de doença crónica”, poderão ter “medidas especialmente” a si direcionadas e “diferentes daquelas que podem existir em relação à população em geral”. “As atividades que, neste momento, se encontram sujeitas a medidas restritivas, serão objeto de uma análise específica por setor, fundamentalmente, baseada no nível de risco que apresentem. Ou seja, do conjunto de atividades que foram restringidas por uma mesma decisão, poderão existir aquelas que vêm as restrições a que estavam sujeitas levantadas, e outras que poderão, eventualmente, continuar restritas”, prossegue o texto.

A par do levantamento das medidas restritivas, o Governo dos Açores diz ainda que pretende “reforçar e ampliar as campanhas de prevenção, de divulgação de cuidados a ter e de comportamentos a evitar, para lidar com a situação da existência” da doença.

Este roteiro foi enviado, entre outros, aos partidos políticos, sindicatos, presidentes de câmara, câmaras de comércio, presidentes dos conselhos de ilha, bispo de Angra e diversas federações e associações açorianas. O executivo regional pede propostas até quarta-feira aos destinatários da missiva.

 Caminho para saída da pandemia é “longo, árduo e demorado”

O Governo dos Açores diz que o caminho de saída da situação provocada pela covid-19 é “longo, árduo e demorado”, dividindo a resposta à pandemia em dois momentos de auscultação da sociedade regional.

O roteiro da região para a saída da pandemia, endereçado na sexta-feira a partidos, associações e demais entidades, e a que a Lusa teve hoje acesso, é o primeiro desses momentos, seguindo-se a “Agenda para o Relançamento Social e Económico da Região Autónoma dos Açores”, que definirá “quer o calendário de execução, quer o conjunto das medidas em concreto” a aplicar nas diversas áreas.

O texto do roteiro “Critérios Para Uma Saída Segura da Pandemia covid-19”, para o qual o executivo pede aos parceiros contributos até quarta-feira, “pretende estabelecer, como o próprio nome indica, os critérios que nortearão o longo, árduo e demorado caminho para a saída da situação provocada pela pandemia”.

“Apesar de nos encontrarmos numa fase em que, à escala mundial, a evolução diária desta pandemia não permite, ainda, um projeção realista e fiável quanto ao seu fim e quanto à real dimensão das suas consequências, o Governo dos Açores entende que é necessário começar a planear e a definir os termos em que poderemos voltar a uma normalidade que, muito dificilmente, será igual à do tempo anterior ao aparecimento desta doença”, é referido na introdução do texto.

O executivo socialista liderado por Vasco Cordeiro diz pretender que o texto funcione como “documento orientador de toda a sociedade açoriana quanto à forma e às regras” a seguir no processo de saída da situação atual.

Aos parceiros, o executivo enviou uma lista de medidas aplicadas na região, as suas datas, o enquadramento nacional e comunitário da luta contra a covid-19 e o quadro de referência da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o levantamento das medidas de confinamento tidas no combate à doença, provocada pelo novo coronavírus.

Vasco Cordeiro. Roteiro açoriano para sair da pandemia “é princípio e não fim em si mesmo”

O presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, define o roteiro da região para sair da pandemia de covid-19 como um princípio e não um “fim em si mesmo”. O documento, diz Vasco Cordeiro, numa carta enviada a partidos, parceiros sociais e outras entidades açorianas, é “um princípio e não um fim em si mesmo”, consistindo num “primeiro momento enquadrador, a que se seguirá um outro, a que também todos serão chamados a contribuir”.

Esse segundo momento, adianta o governante, “conterá o conjunto de medidas concretas, e o seu calendário, que, nas mais diversas áreas” da economia e sociedade, os Açores querem concretizar “para ultrapassar os efeitos provocados por esta situação”.

“Convém que não nos iludamos. Esse será um caminho longo, demorado e árduo”, adverte o chefe do Governo dos Açores.

Neste trajeto, admite Vasco Cordeiro, será dado em breve “um passo em frente” mas “de seguida, fruto das circunstâncias”, pode dar-se o caso de a região ser obrigada “a dar dois passos atrás”. “No entanto, quanto mais claras e consensuais forem as regras que devemos seguir nesse caminho, mais seguros estaremos nesse processo”, afirma.

A situação da pandemia nos Açores faz-se sentir, lembra Vasco Cordeiro, “não só no número de contagiados e, lamentavelmente, de óbitos, mas também na situação de trabalhadores, empresas e famílias gravemente afetados na sua atividade e na sua vivência diária”.

Por isso, o chefe do executivo pede, até quarta-feira, contributos dos parceiros e partidos para se começar a planear a forma de regresso à normalidade da “vivência coletiva”. “Ou, dito talvez de forma mais rigorosa, à normalidade possível da nossa vivência coletiva”, adverte.

Até sexta-feira haviam sido detetados nos Açores 138 casos de infeção com o novo coronavírus e nove mortes associadas à doença.