O nome Bennet Omalu está há muito associado à liga desportiva profissional de futebol americano, isto é, à National Football League (NFL). O médico nigeriano ficou famoso depois de lhe fazer frente — a história chegou ao grande ecrã em 2015, com o filme “A Força da Verdade” —, quando demonstrou cientificamente as sequelas de que padeciam os jogadores da NFL devido aos recorrentes golpes na cabeça que aconteciam no decorrer da prática desportiva.
Agora, em plena pandemia, Omalu faz autópsias a pessoas que morreram na sequência de contágio pelo novo coronavírus, um trabalho feito com “os cuidados universais extremos”, tal como conta numa entrevista ao argentino Diario Clarín. “Vestimo-nos com uma máscara facial muito potente e roupa especial para todo o corpo. A nossa suposição é que o vírus pode transmitir-se através de fluídos corporais na autópsia. Não sabemos quanto tempo sobrevive no corpo humano”, conta.
O relato de Bennet Omalu ganha mais força depois de recordada a sua história, que começou no dia em que o médico forense realizou a autópsia de Mike Webster, considerado um dos melhores jogadores daquele desporto, que faleceu aos 50 anos de um aparente ataque cardíaco. Tal permitiu-lhe descobrir um traumatismo craniano que gera danos irreversíveis nos jogadores. Uma investigação exaustiva e independente fê-lo perceber a patologia que, segundo o jornal, afeta outros jogadores da NFL: a encefalopatia traumática crónica (CET, sigla em inglês).
Curiosamente, em fevereiro deste ano era notícia que as de federações de futebol de Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte tinham anunciado a proibição de cabeceamentos nos treinos com crianças até aos 11 anos, depois de um estudo ter demonstrado que antigos jogadores profissionais de futebol tinham uma maior probabilidade de morrer de doença neuro-degenerativa.
Voltando a Omalu, a sua investigação foi publicada na revista GQ em 2005. Como resultado, a NFL perseguiu-o e ameaçou-o, uma história que é contada no filme protagonizado por Will Smith. “Recebi ameaças e intimidações (…) das ligas desportivas, dos seus advogados, médicos, representantes, simpatizantes e fanáticos da NFL, WWE, NHL, NCAA e até de uma liga de rugby na Europa”, conta ao Clarín. “Uma coisa que não entendem é que isto nunca foi sobre mim e nunca será sobre mim. Sou insignificante nisto. Eles estão a travar uma batalha com a verdade.”
Em 2006, Bennet voltaria a publicar a sua investigação, desta feita com atualizações. Mais uma vez foi desacreditado pela NFL. Em 2009, a mesma entidade reconheceria pela primeira vez a relação entre os golpes na cabeça e a CTE.
Atualmente, Omalu, que chegou a recusar um convite para trabalhar na Casa Branca, vive na Califórnia com a mulher e os três filhos. Está à frente da investigação médica na cidade de San Joaquin. “O mais importante é que não queria fama ou fortuna. Queria viver uma vida simples e alegre.”